Então cá estou eu, no primeiro verão residindo em Sydney. E como já mencionei no meu primeiro artigo, a capital turística da Austrália não poderia ter me recepcionado melhor. Parte dessa bela recepção foi por conta do verão, que iniciou em dezembro e vai até fevereiro. E é nesse contexto que quero dividir um pouco sobre o tempo por aqui, que é muito parecido com a minha cidade natal, Porto Alegre, no sul do Brasil.
As estações são distintas: no outono o tempo começa a ficar friozinho, de leve a natureza vai se transformando na espera no inverno que pode ser congelante. Na primavera tudo floresce e sentimos o cheiro das flores por onde passamos, o céu azul com grandes nuvens brancas navegando no ar, ventinho e sol gostoso. Daí o verão chega, e chega com tudo! O verão aqui é quente e as temperaturas ultrapassam os 30 graus fácil. Fica difícil para dormir à noite e o ar condicionado se faz necessário. E com tanto calor, é natural que temporais despenquem trazendo junto um friozinho inesperado, que ameniza tudo!
Vindo da Inglaterra, onde morei por 14 anos, eu esperava pelo meu primeiro verão aqui em Sydney ansiosamente! O sol chegou com força e então eu, com sorriso de orelha a orelha, fiz o que fazia em casa, no Brasil: abri tudo! Portas, janelas, cortinas, todo possível para deixar algum ventinho entrar, e a luz do sol, claro. Mesmo com o ar condicionado, o verão merece tudo aberto, se não ao menos as cortinas, deixando luz invadir. Foi com esse sentimento que, no primeiro dia de solzão, fui abrindo tudo aqui na casa da sogra, onde estamos hospedados. Foi então que meus sogros e meu marido tiverem uma reação inesperada!
Com a mesma intensidade na qual fui abrindo tudo para o maravilhoso sol entrar, a sogra foi fechando! Portas, janelas, vidros e cortinas. Hello?! Como assim?!
Queridas conterrâneas pelo mundo, os australianos, em dias quentes, fecham tudo, para manter o ambiente mais fresquinho dentro da casa. Interessante, né? Eles também não saem de casa nas horas mais quente do dia. Com o tempo, eu realmente intendi o sistema e agora até gosto!
Deixando tudo fechado durante o dia, o ambiente interno da casa se mantém mesmo mais fresquinho, sem precisar deixar o ar ligado todo dia. E quando o sol se põe, aí sim, chega a hora de abrir tudo, para finalmente preparar a casa para dormir mais fresquinho.
Os australianos têm uma consciência de preservação e de contenção de gastos desnecessários incrível, como poupar a água em banhos não muito longos, deixar luzes e aparelhos desligados se não há necessidade, evitar o ar condicionada ligado por muito tempo. Eu acho isso admirável.
Assim como as cortinas das casas são fechadas com frequência, para o calor não entrar, o coração dos australianos é grande e aberto para se conectar com as pessoas, em contraste. É incrível com as pessoas se dão bom dia, conversam na sinaleira ao esperar para atravessar as ruas, trocam dicas de preços na fila do supermercado, e por aí vai. E isso não é dividido por classes, aqui todos conversam com todos, e eu amo isso.
Aqui a tua roupa não te define. O seu carro muito menos!
Outro dia algumas amigas da minha sogra vieram nos visitar. Uma trouxe roupas que seus netos não usavam mais, para as minhas crianças. Outra trouxe uma caixa de brinquedos que encontrou na rua para doação. Essas senhoras moram em casarões nas praias mais caras daqui, e nós graças a Deus não precisamos de doações, mas o sentimento de reciclagem prevalece. Eu não estou acostumada com isso, para falar bem a verdade, mas adorei!
Escolhi o que serviu para as crianças e o que sobrou levei para a lojinha de doações, somente por não ter mesmo conhecidas por perto para quem dar! Adotei totalmente a prática. Achei esse lado da cultura interessante, mas acima disso, altruísta, do bem, ação boa para o planeta, ato de solidariedade.
Fiquei surpreendida e feliz. E é com esse sentimento que inicio o ano, de coração grande e solidário, de conversar com quem for sem preconceitos, de dividir o que temos pelo fato de termos mais que o necessário.
Se os australianos de Sydney fecham suas janelas e cortinas para o calor não entrar, seus corações ao contrário são escancarados para se ligar ao próximo! E é disso que o mundo mais precisa, não acham?!