Muitas pessoas perguntam e têm curiosidade em saber como é ter filhos na Inglaterra e querem detalhes sobre o pré-natal pelo NHS, – que nada mais é do que o sistema público de saúde – se é possível escolher o parto (na água, cesárea), quais os cuidados pós-parto, etc..
Vamos por partes:
O primeiro passo é ter a confirmação da gravidez por exame de sangue no seu médico de família, os famosos GPs (General Practitioner) aqui na Inglaterra, amados e odiados por muitos. Feito isso, o GP encarrega a confirmação para o seu hospital local e você então receberá uma carta confirmando ter sido aceita para a possível data para o parto. Ok, carta recebida, agora é esperar. A primeira consulta, em caso de uma gravidez saudável e sem problemas iniciais, será entre as semanas 8 e 12. Isso mesmo, até lá é ler, descansar, curtir, planejar e esperar.
Então, um belo dia você olha no calendário e voilà, o dia da primeira consulta chegou. Você vai, toda feliz e contente, carregando no ventre uma nova vida, animada para ver o médico, chega no hospital, e? Dá de cara com uma fila de mulheres na mesmíssima situação, todas esperando belas e formosas pela primeira consulta, mas não há médicos, apenas parteiras formadas especializadas em partos normais: na água, sem água, com gás, sem gás, enfim, começa aí então o seu pré-natal.
Pré-natal
- A grávida é vista entre as semanas 8 e 12 para uma consulta inicial básica (perguntas, medir pressão) e uma ultrassonografia para confirmar a data prevista para o parto.
- As próximas consultas serão em cada 4 semanas até a semana 36, quando elas passam a ser a cada 15 dias. Se a gravidez passar da semana 40, o que acontece muito por aqui (o famoso “vamos esperar até o último minuto”), a consulta pode ser a cada dois dias, dependendo do caso.
- A segunda ultrassonografia ocorre por volta da semana 20. Neste dia você ficará sabendo se o bebê será menino ou menina, porém dependendo do hospital, nem sempre eles dão essa informação. A opção nesse caso será fazer um ultrassom particular.
- Não há médicos nas consultas, apenas “midwives”, que são parteiras.
- Se a gestante tiver mais do que 35 anos será chamada ao hospital para fazer exames de diabetes e Síndrome de Down.
Parto normal x Cesárea
Como na maioria dos países da Europa, aqui parto significa PARTO e o mais normal possível. Simples, na água (é só reservar a piscina no hospital), com música, com acompanhante, enfim, naturalmente quando não há nenhuma complicação. O porém é que aqui ao contrário do Brasil, cesárea é vista como uma “bruxa má” e quando alguém necessita de uma por motivos físicos ou mesmo psicológicos, você tem que quase travar uma luta faraônica para conseguir. Respeito toda a luta no Brasil pelo parto humanizado, porém nem todas as mulheres têm a sorte de serem saudáveis o suficiente para terem filhos de uma maneira “natural”, e o respeito pela cesárea quando decidido pela futura mamãe deve ser respeitado. Ainda estamos caminhando a passos lentos para um meio termo, onde a vontade da futura mamãe seja ouvida e levada em consideração.
O grande dia
Quando chegar a hora ligue para o hospital, mas não se alarme, geralmente eles te mandam ficar em casa até as contrações ficarem de 5 em 5 minutos. Portanto, você terá tempo de se arrumar e chegar no hospital com tempo para a última fase do parto. Como mencionei acima, se a gravidez estiver correndo sem nenhum problema de saúde e o parto seguindo o esperado, você será sempre assistida pelas parteiras (midwives). Os médicos serão chamados apenas em caso de algum problema ou a necessidade de uma cesárea de emergência. Se tiver reservado piscina, estará esperando por você quando chegar. Algumas pessoas levam CDs, revistas, livros e comida, principalmente para os futuros papais; eles são bastante maleáveis no sentido de fazer a futura mamãe se sentir bem e confortável.
A outra opção é ter o parto em casa/home birth, também muito usado por aqui.
O que também é muito comum por aqui é a futura mamãe alugar uma Tens Machine para aliviar a dor nas primeiras fases do parto. Ela pode ser alugada por algumas semanas em várias farmácias. Na verdade essas maquininhas são tão eficazes que várias pessoas acabam comprando para lidar com dor crônica: eu mesma tenho uma, para o meu problema de coluna. Na hora do parto, a Tens dá uma ajuda com as contrações.
Durante o pré-natal, no seu livrinho de grávida, você terá feito e escolhido seu “plano de parto” indicando o que você quer e o que não quer que aconteça durante, como por exemplo o uso do fórceps e epidural.
Dependendo do hospital e da necessidade de camas disponíveis, você poderá ir para casa algumas horas depois. O que aconteceu com a princesa Kate após ter a princesinha Charlotte em maio é muito comum por aqui. Só se fica mais tempo no hospital em caso de cesáreas ou claro, complicações depois do parto normal.
Primeiras semanas do bebê
Você será visitada em casa pela parteira várias vezes nas primeiras semanas de vida do bebê, e ele/a será sempre pesado. Em caso de dúvidas quanto à amamentação ou qualquer outro assunto, essa é a hora para fazer perguntas. Mamães que sofrem de depressão pós parto terão sempre um apoio maior, com mais visitas se houver necessidade. Depois da segunda semana, você e o bebê serão vistos pelas “health visitors” da sua área, ou poderão ir na baby clinic local, para o bebê continuar sendo pesado e para você novamente fazer perguntas, se tiver alguma.
Todo o pré-natal, parto, atendimentos, exames, visitas pós parto podem ser feitos pelo sistema de saúde público (NHS), desde que a futura mamãe seja inglesa, tenha passaporte inglês ou de algum país pertencente à comunidade europeia, ou tenha algum tipo de visto que permita morar legalmente no Reino Unido.
Minha experiência
Tive meu filho e minha filha com 9 anos de diferença um do outro, no mesmo hospital e uma das melhores maternidades de Londres, o Queen Charlotte Hospital. Da primeira vez, sendo mamãe de primeira viagem cheia de medos e inseguranças, fiquei à mercê de uma turma de parteiras/midwives, uma em particular, sanguinária, com histórias da época das cavernas. Acabei com um cesárea de emergência depois de quase 24 h em trabalho de parto, o que foi suficiente para me deixar para sempre traumatizada. Na segunda vez, 9 anos depois, com um problema de saúde que me impedia de ter parto normal e já sabendo como lidar com o sistema, tive que trocar de GP (médico de família) para obter mais apoio. Mas engraçado ou não, o atendimento no hospital em geral foi muito melhor da primeira vez. Como tudo na vida, cada indivíduo tem uma experiência.
Links com mais informações:
Leia mais sobre Licença Maternidade na Inglaterra e pelo Mundo.
Leia mais sobre a Inglaterra: Tudo o que você precisa saber para morar na Inglaterra!
8 Comments
Adorei. Tive meu filho na Inglaterra 26 anos atrás e foi exatamente assim. Foi por cesária, ele era muito grande e eu muito pequena, e não tive que brigar muito. Fiquei cinco dias no hospital, tive boas e más (grossa) parteiras, mas não tenho reclamações.
Tive minha filha na Inglaterra e optei pelo sistema privado. Na epoca tinha um plano de saude que cobria parto. Tive acompanhamento pelo mesmo medico durante todo o pre-natal, e o medico foi aberto a discutir qualquer tipo de parto que eu quisesse ter – desde que ele pudesse me monitorar. Tive minha filha na ala privada de um grande hospital, no St Thomas – pois no caso de uma emergencia minha filha poderia ser cuidada ali mesmo. Tinha o celular do meu medico e podia telefonar para ele a qualquer momento. Optei por ter um parto normal e foi tudo bem. Depois do parto eu tive o acompanhamento das enfermeiras do NHS, que vieram ate a minha casa e fizeram todo o acompanhamento necessario. Custo do pacote pre-Natal e parto – 10 mil libras. Fica aqui a dica para quem pode pagar ou tem um plano de saude com cobertura de parto: Existem opcoes alem do NHS!
Mas e se eu chegar gravida no reino unido, tendo visto de conjuge. Como funciona?
Parabéns! Excelente explicação.
gostaria de saber como voces cuidaram da crianca apos o parto, se tiveram ajuda da familia ou se contrataram uma midwife ou se cuidaram sozinhas em casa
Tive minha segunda filha em Londres em 2007, pelo NHS . Foi cesareana programada desde o inicio devido minha primeira gravidez ter sido cesareana. Fui acompamhada por medica durante todo o pre-natal e o parto foi com uma equipe incrível no Whitechapel Hospital. Porém o pós parto no hospital foi péssimo. Uma doula para 20 parturientes. Enfim pós operada e sem ajuda nenhuma no hospital. Assinei uma alta eletiva, com 3 dias. Pois cesareana lá ficaria internada por 5 dias.
Tive minha segunda filha na Inglaterra, Milton Keynes, em 2015 e achei ótima a experiência. P mim foi muito mais simples. Fui ao meu GP e marcaram uma visita da midwife em 2 dias na minha casa, essa me acompanhou até o final. O único problema é q como queria o parto normal, esqueci do plano b e como tive q fazer cesárea de emergência, n lembrei de solicitar uma ligadura de trompas. O atendimento foi maravilhoso, consyltas marcadas com horário, recebidas por carta, teria outros filhos lá com certeza. Só senti falta do livro de acompanhamento do pré natal q fica no hospital. Se alguém o tiver p disponibilizar, ficaria grata.
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