Profissional no Brasil, dona de casa no exterior.
Neste texto coletivo algumas das colunistas do BPM contam como foi e está sendo a mudança no estilo de vida depois que foram morar em outro país. Elas são profissionais e tinham carreiras de sucesso no Brasil, mas hoje em dia são donas de casa e estão se redescobrindo. Algumas delas, além de aprender o idioma local estão fazendo cursos; outras, mudando de área ou se tornando mães. Vamos ver alguns relatos:
Farah, Itália – Há alguns anos ousei provar o sabor gostoso da vida a dois na Itália e te digo que não, não foi fácil, principalmente pelo fato de que tive que abandonar a minha carreira profissional. Claro que quando decidi largar meu emprego no Brasil eu tinha plena certeza de que eu conseguiria continuar “a pleno vapor” e fazer uma carreira internacional no mínimo ascendente como a que eu tinha. Nem de longe eu conhecia o significado de ser uma jovem profissional estrangeira em um país em recessão. Foi então que: BUUM! Duramente percebi que nem toda a realização dos nossos sonhos transcorre como nos filmes. Confesso que o golpe foi muito duro, me acovardei e vivi uma intensa batalha pessoal, sobretudo porquanto fui educada para, além de ser feliz, ser alguém na vida, alguém com um perfeito equilíbrio entre a existência profissional e pessoal. No entanto o que aprendi é que corremos a vida toda atrás de algo que acreditamos ser a felicidade quando, na verdade, a felicidade é outra – muito mais simples. Bom, “teoricamente” mais simples, porque ela deve ser compreendida e aceita. Só assim você será capaz de ser feliz de novo, mesmo que seja daquela maneira que você jamais poderia imaginar: sendo esposa e dona de casa. “Esposa e dona de casa? Mas… Só? E todo aquele resto?” É óbvio que, aos 30 e poucos anos, essa possibilidade não nos passa pela cabeça… Entretanto, depois desse turbilhão entendi que a nossa trajetória é feita de vitórias e mudanças de planos, não de fracassos. “A completa felicidade está onde a gente a coloca”. E o meu conselho para as que querem comprar a passagem só de ida é: permita-se mudar de ideia, de rumo, de planos, de emprego, pois o mundo não te devolverá algo em troca apenas por reconhecer o seu esforço, o seu gênio, ou por entender o seu amor.
Christine, China – Aos 44 anos e com 23 de carreira pública, tive que rever todos os meus valores e conceitos ao aceitar o desafio de acompanhar meu marido, mudando para a China. No início foi bem tumultuado: a adaptação, organização de casa, filhos. Depois de um mês, onde cada coisa estava mais ou menos no lugar, a ficha caiu. E agora? Na minha cabeça, jamais, em tempo algum, passou a mais remota possibilidade de ser dona de casa em tempo integral. Trabalhar era a minha vida. Nunca tinha cozinhado e nem cuidado da casa de maneira efetiva. Tenho que reconhecer: foi um choque. Depois do susto, de muitas tardes desesperadas, sozinha em casa, resolvi que teria que me reinventar. Afinal, eu aceitei o desafio. Trabalhar era completamente fora de questão, até pelo problema do idioma. Fui buscar um trabalho voluntário e um curso de inglês. Quando já estava mais segura, iniciei meu blog e me envolvi com a comunidade brasileira, cursei um MBA. É assim, com a nossa própria atitude, que as coisas começam a fluir, a acontecer, e hoje não me arrependo. O mais importante de tudo isso é a gente manter o foco, decidir o rumo que quer dar a nossa vida e fazer dessa experiência a mais enriquecedora possível! É fácil? Não. Mas não é impossível. E, depois de 9 anos, posso dizer que faria tudo de novo.
Vanessa, Uruguai – Além de ter passado por isso pessoalmente, atendo mulheres que estão passando por essa fase. Não trabalhar fora, mais precisamente não FAZER ou CRIAR, traz uma sensação muito ruim para a autoestima, que em boa parte está apoiada naquilo que podemos oferecer ao mundo. É difícil suportar, sem se desesperar, o tempo necessário para se reinventar profissionalmente fora do país. Após várias tentativas de empregos diferentes, vi muitas mulheres transformarem a dificuldade num negócio. É comum ouvir histórias de mulheres que se tornaram empreendedoras por não encontrarem emprego satisfatório, e muitas outras que se encontraram profissionalmente numa área totalmente diferente da que atuavam e que hoje se sentem felizes com a mudança.
Ana Carolina, Canadá – Passei 13 meses em casa, até que toda a burocracia de residência permanente se resolvesse. Nesse período, minha ocupação de tempo integral foi cuidar da casa, do marido e do nosso cachorro. Em momento algum me senti diminuída por isso. Vivemos num tempo em que assumir o papel de dona de casa pode parecer um retrocesso, quase como uma descarada falta de ambição. Muito pelo contrário! Posso até não capitalizar minhas tarefas, nem ser promovida a cargos superiores. Por outro lado, acho importante que façamos um retorno a algo que naturalmente faz parte da nossa essência feminina : o zelo. Cuidar da casa ou do relacionamento afetivo envolve o mesmo comprometimento que na vida profissional. Na verdade, é um tipo de devoção até mais especial, porque envolve o nosso refúgio físico e emocional. Inteligente é a mulher que souber aproveitar o privilégio de cuidar também de si mesma.
Marta, Eslovênia – Viver na Eslovênia é um desafio. Papai Noel mora na Lapônia e Mulher Maravilha, a Wonder Woman, mora aqui. O começo foi difícil, mas hoje, entre roupas para passar, textos escritos, limpezas diárias e eventos realizados, estou em paz. O ideal de “Mulher Maravilha eslovena” eu respeito mas não me interessa, pois chegando mais perto e descobrindo o personagem por trás eu descobri uma mulher cansada, com sonhos adormecidos. Quando se pergunta a um marido: “como é sua esposa?”, ele responde: ‘pridna’, que seria algo como: boazinha, o mesmo termo que se usa para as crianças comportadas,’good girl’. Eu? Não, obrigada.
Na parte 2 mais algumas colunistas dividem a experiência!
7 Comments
eu amo esse blog ..!!
Perfeito, caiu como uma luva no meu atual momento, morando há sete meses na Dinamarca, recém adquirido o visto temporário de moradia e trabalho, aos 47 anos de idade, casada com meu grande amor dinamarquês, mas me sentindo totalmente perdida em termos de para onde seguir. Só consigo me perguntar: E agora? O que fazer depois de ter esperado por sete meses pelo visto? E agora que rumo tomar, sem ter a fluência do idioma? Me dedicar a estudar a língua e procurar um trabalho sem a fluência do idioma? Trabalho voluntário ou pago? E o meu mundo profissional ? Ainda não tive a oportunidade de conhecer alguém que tenha recomeçado aqui com a minha idade, a maioria das moças que conheci são mais novas e com diferentes focos e bagagem emocional que tenho, não penso em ter mais um filho, ou fazer uma nova faculdade aqui, estou em uma fase diferente da vida. Como diria Tim Maia: “o que eu quero é sossego”. E ao mesmo tempo me sinto como uma das jovens brasileiras de 20, 30 anos de idade que estão morando aqui. Tantas possibilidades e esperança e ao mesmo tempo novos desafios e o medo de não ter agilidade suficiente para absorver todas as mudanças, pois não tenho a mesma rapidez de aprendizado que tinha quando era mais nova. Será que consigo mais esse desafio? Me cobro tanto, tanta ansiedade. Os depoimentos de vocês, vieram totalmente de encontro às minhas perguntas e anseios. Obrigada meninas, vocês realmente vieram como uma mola que eu precisava para me impulsionar e voltar ao meu equilíbrio. Obrigada, mil vezes obrigada e aguardo pelos próximos depoimentos. Simone
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Adorei o artigo e me identifiquei muito! Moro em Maputo Moçambique ha 3 anos e estou tirando o máximo de proveito desse país maravilhoso com pessoas simples e lindas!
Parabéns pelos textos, realmente expressa bem o que sentimos, quando nos mudamos para outro país. É um misto muito grande de sentimentos, eu também passei por isto, inclusive foi o assunto do primeiro post do meu blog. Adorei ler estes depoimentos.
Amei o post!!! Agora vou futucar o blog todo!
Amei o seu post, otimo conteudo parabens!