Vístula, o maior rio polonês, suas histórias e lendas.
A Polônia é um país localizado no centro do continente europeu. Muitos dizem que o país é geograficamente completo, pois possuí desde montanhas com neves eternas, região de lagos, longos rios que cortam planícies, até praias de areia e com mar.
Entre os principais rios do país, se destacam o Rio Odra, o Rio Warta e o Rio Vístula, ou Wisła em polonês, sendo este o maior e mais importante rio polonês.
Um pouco de geografia
O Vístula possui mais de mil quilômetros de comprimento, nascendo em uma montanha chamada Barania Góra, na região dos Cárpatos, no sul da Polônia, e desaguando no Mar Báltico, em Gdańsk, ao norte do país. Em seu caminho, o Vístula passa por importantes – e históricas – cidades polonesas, como Cracóvia, Varsóvia, Toruń e Gdańsk.
O Vístula figura em 4º lugar na lista dos rios mais longos da União Europeia, bem a frente dos famosos Rio Reno, franco-suíço, e o Rio Tejo, luso-espanhol. Diferentemente destes, o Vístula corre em terrítorio polonês por toda sua extensão.
Um rio histórico
Mencionado por escrito e oficialmente pela primeira vez por um geógrafo do Império Romano no ano 40 da e.c., o Vístula sempre esteve profundamente ligado com a identidade polonesa e com a história da região.
O rio exerceu papel essencial no desenvolvimento de logística militar e comercial, desde antes da Polônia se reconhecer como unidade territorial. Por exemplo, um estudo feito pela Universidade de Chicago com base no material genético encontrado no Vístula traçou uma continuidade genética dos habitantes de suas margens que remonta quase 4 mil anos atrás.
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Lendas do Vístula
Existem muitas lendas polonesas ligadas ao Vístula, com diversas versões de cada uma das histórias. As duas lendas mais icônicas, que mostram personagens celebradas até os dias de hoje, são as lendas da Sereia de Varsóvia e a da Princesa Wanda.
1) Syrenka Warszawska, símbolo de Varsóvia.
Diz a lenda que haviam duas irmãs sereias originárias do Oceano Atlântico. Curiosas e com espírito aventureiro, elas teriam nadado até o Mar Báltico.
Uma dessas irmãs sereias teria gostado das ilhas da Dinamarca e decidu ficar em Copenhagem. Essa sereia teria inspirado Hans Christian Andersen a escrever o conto “A Pequena Sereia” e tem uma modesta estátua em sua homenagem perto do porto da cidade.
A segunda irmã sereia, que seria ainda mais curiosa que a primeira, resolveu continuar explorando as águas da região e teria entrado sem querer no Rio Vístula. Após ter nadado durante alguns dias, e em uma noite particularmente fria, ela teria encontrado o Príncepe Kazimierz (Kazimierz Poniatowski 1721-1800), que de acordo com a lenda teria se perdido de seus companheiros de caça. O príncipe poderia ter morrido de hipotermia devido às baixas temperaturas e à falta de equipamentos para combater o frio, mas a sereia o teria protegido e ajudado a encontrar sua comitiva real. A lenda conta que o príncipe teria fundado uma cidade em homenagem e em gratidão à sereia, exatamente no local que ele a havia conhecido. Essa cidade seria a atual Varsóvia.
Desde então, a Sereia de Varsóvia teria escolhido fazer parte do povo polonês, promentendo lutar e defender a sua nova pátria, se armando com um espada e um escudo. O símbolo da Sereia de Varsóvia é amplamente usado na cidade e esculpido em diversos pontos históricos.
2) Princesa Wanda (ou Wąda), símbolo de resistência
Conforme o folclore polonês, e os escritos de Wincenty Kadłubek (Cracóvia, 1150-1223), no século VIII havia um rei chamado Krakus, que libertou a região da atual Cracóvia do dragão que habitava em sua principal colina, fundou Cracóvia e construiu o primeiro projeto do Castelo de Wawel.
Este rei possuia uma filha chamada Wanda, que era conhecida e adorada pelo povo. Após a morte de seu pai, Wanda teria herdado o trono polonês. De acordo com a lenda, Wanda sempre teria atraído muitos pretendentes, considerando seu vasto território e sua notória beleza.
Pelas leis religiosas da época, caso Wanda se cassase com um príncipe ou rei estrangeiro, a Polônia passaria a integrar o território e domínio de seu marido estrangeiro, perdendo a sua independência. Wanda teria recusado todos os pedidos de casamento até então e se mantinha firme em não abrir mão da soberania polonesa do reino de seu pai.
Ao receber a notícia do falecimento do Rei Krakus, um príncipe alemão chamado Rüdiger, que havia previamente tentado se casar com Wanda, se aproveitou do luto em que a região se encontrava e invadiu a Polônia, com o intuito de forçar o casamento. Wanda e seu exército derrotaram o Príncipe Rüdiger, e de acordo com a lenda Wanda ficou conhecida como a princessa que co nie chciała Niemca (rejeitou o alemão).
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Após refletir sobre sua situação, em que príncipes e reis estrangeiros continuariam invadindo o reino tentando forçar um casamento, e que, caso tivessem sucesso, a Polônia perderia sua independência, Wanda decidiu se sacrificar pelo seu amado reino. Ela teria se lançado no Rio Vístula, decidida a tirar a própria vida para que a Polônia pudesse continuar existindo.
Alguns cronistas atribuem o suicídio de Wanda a um ritual de oferenda pagão, pois o afogamento de uma figura feminina também faz parte do folclore polonês, nas tradições relacionadas à ideia de morte, renovação e renascimento da natureza e a deusa do inverno, Marzanna.
De certa forma, o sacrifício de Wanda teve sua relevânica. Traduzido em fatos históricos, entre guerras e disputas, a Polônia foi um reino soberano até a era napoleônica, pois somente em 1795 o reino polonês foi tripartido entre o Império Austro-Húngaro, a Prússia (atual Alemanha) e a Rússia, retomando sua independência apenas em 1918, mais de um século depois.
Foto de capa: Acervo pessoal.
Fontes:
- The Story of Syrenka – Symbol of Warsaw
- Warsaw Legends
- World Atlas European Rivers
- Livro “Tysiąc lat historii narodu polskiego”, do autor Jędrzej Giertych.
- Livro “Legendy Polskie”, dos autores Barbara Seidler and Grzegorz Rosiński.