Dia de Reis na Catalunha.
Quando me mudei, cheguei na cidade de La Seu D’Urgell dia 14 de dezembro e a cidade já estava toda decorada paras as Festas de Fim de Ano. Achei linda! Uma coisa que fez me apaixonar pelas Festas em cidades menores e de interior é o capricho com que as Festas são feitas, as decorações, a programação, que são muito bonitas, mas muito artesanais. Você se sente como em uma grande festa de escola! A cidade realmente participa de todo o processo, é algo feito pela própria população, com auxilio das instituições, prefeitura, cooperativas e organizações de comércio locais, para a população.
Aqui o Papai Noel não existe! Essa foi minha primeira surpresa. Não existe a figura do bom velhinho em lugar algum, e o que vemos espalhados por toda a cidade são os Minairons. Eu me apaixonei por eles, e se algum dia tiver filhos vou passar adiante a cultura aqui adquirida. Os Minairons são uma espécie de elfo ou duende da floresta. São pequenos seres brincalhões e travessos que habitam os Pirineus e reinam no inverno, divertindo as crianças na noite de Natal. Na véspera de Natal, a cooperativa local, Cadì, organizou uma grande fogueira em um dos parques da cidade, com música e dançarinos vestidos como Minairons, que cantaram e brincaram com as crianças, enquanto voluntários distribuíam coca (uma espécie de rosca açucarada) e chocolate-quente. As crianças também ganhavam uma sacola da cooperativa com algumas lembrancinhas, alguns doces e aqueles brinquedos de plástico de lembrança de festa de aniversário, de loja de 1,99. Nada chique, só pela brincadeira.
Além dos Minairons, é possível ver nas vitrines das lojas e nas esquinas da cidade um outro ser que habita o folclore local, que é um tronco enfeitado com olhos e gorro, para o qual servem biscoitos nessa época e que representa o espírito da floresta. Essas pequenas delicadezas e a vida comunitária me encheram os olhos e fizeram as minhas primeiras Festas em um local estranho e estrangeiro se tornarem familiares e bonitas.
Mas o que mais me chamou a atenção foi que o Natal não é o dia mais esperado pelas crianças (e adultos), apesar de todos brincarem e se divertirem muito com os Minairons, a luz das Festas de Fim de Ano está toda voltada para o Dia de Reis, comemorado em 06 de janeiro. Os Reis Magos fazem parte da minha infância e estavam lá no Presépio que minha avó montava com os netos, e adorávamos imaginar o menino Jesus nascendo no celeiro, em meio as vacas e burros (minha parte preferida na montagem era brincar com os animais), e claro os Reis Magos, que traziam os presentes. Mas essa doce imagem da minha infância foi cedo suplantada pela figura do Papai Noel, tão presente no Brasil, com suas roupas vermelhas, barbas brancas e saco de presentes. Além disso, para uma criança parecia uma boa receber logo o presente dia 25 de dezembro e não ter que esperar até 06 de janeiro.
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Os Reis são os donos da Festa. Todos esperam ansiosamente por eles e em toda a Espanha há a Cavalgada dos Reis, onde enormes paradas são organizadas nas principais cidades, e eles chegam à cavalo, ou em carros alegóricos, trazendo os presentes e as boas novas no ano que começa. As Cavalgadas de Reis de Madri e Barcelona são famosas, e a população toda costuma ir às ruas assistir com animação à parada e ver a chegada dos mesmos. Essas famosas são inclusive televisionadas. Caso tenha curiosidade, clique e veja as Cavalgadas em Igualda, Manresa e Andorra. Também é possível ver aqui um pouco do Dia de Reis em Madri.
Em La Seu o dia de Reis é personalizado de acordo com as peculiaridades da região. Além de estar nos Pirineus, La Seu é a sede do Parque Olímpico de esportes de remo, que foi construído para as Olimpíadas de Barcelona em 1992, e é usado hoje tanto para atletas em treino, quanto por escolas de toda a região para ensino dos esportes de remo, aqui conhecidos como Piraguismo. A Copa Europa de Piraguismo tem normalmente etapas na cidade, em 2017 assisti à final aqui no parque.
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Pois bem, em La Seu D’Urgell os Reis chegam de barco, fazendo um Rafting pelo rio Segre, com direito a fogos de artifícios quando passam sob a última ponte e descem para o parque, onde os espera uma multidão de crianças e pais encasacados no frio da noite de janeiro nas montanhas. Não consegui não ficar muito animada com toda a comemoração, que é belíssima, e ao mesmo tempo tão pouco usual. Havia uma apresentadora com roupas similares ao personagem Willi Wonka, de Johnny Depp, na Fantástica Fábrica de Chocolate, narrando a chegada dos Reis e o prefeito os recepcionava em terra.
Depois iniciaram uma parada que subia desde o parque, pela Carrer Major, ou rua principal, até a prefeitura, em pequenos carros alegóricos, que quando melhor analisados eram os tratores da cooperativa de laticínios local, vestidos com muita artimanha e papel machê em diversos carros mágicos, que incluíam nuvens cheias de anjinhos, montarias magnânimas para os Reis e a distribuição de muitos doces, confetes, purpurina e estrelas brilhosas que cobriam a rua após sua passagem.
Toda essa mistura do bucólico, agrícola, esporte local, com as tradições locais me fez ver com outros olhos à função das Festas de Fim de Ano. Em vez de assistir apenas às reuniões familiares, eu assistia toda uma cidade que se esforçou para fazer suas comemorações e desfrutou delas junta. Para mim essa foi a verdadeira magia de Natal, seja ela a magia dos Minairons, ou dos Reis Magos.
Já conheciam os Minairons, e a tradição de Dia de Reis?
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1 Comment
ou, de forma comum, “o tronco que caga”. No dia de Natal, as criancas catalas batem no tronco com paus e cantam uma cancao que implora ao tronco que defeque doces. Depois, retiram a manta e, ai debaixo, encontram os doces que pediram.