5 motivos para não morar em Portugal.
Mês passado eu escrevi para vocês sobre 5 motivos para morar em Portugal e lá elogiei as maravilhas que a vida aqui tem me presenteado. Contudo, nem tudo são rosas, então, esse mês vamos falar um pouco das dificuldades e problemas que o país tem me apresentado até agora.
1) Salários
Salário são o primeiro ponto negativo. Em janeiro de 2018 o salário mínimo foi reajustado, e agora é de 580 euros, no continente. Nos Açores, o salário mínimo é de 556,50 euros e na Madeira é de 540,60 euros mensais. Apesar do reajuste, ainda é um dos menores da União Europeia. Além de ser um dos salários mínimos mais baixos, uma parte grande da população (entre 20% e 30%) recebe apenas esse valor. Em comparação com outros países, como a Alemanha, onde apenas cerca de 10% da população recebe o salário mínimo, a diferença é grande.
O salários como um todo são afetados por essa escala, uma vez que mesmo que você ganhe mais que o mínimo, a base de comparação, o piso, sempre será menor. Apesar disso existem alguns pontos positivos, como existir um mínimo, as leis trabalhistas estarem melhorando nos últimos anos, e, principalmente, o custo de vida ser muito baixo. Ainda assim é praticamente impossível sobreviver numa das grandes cidades, como Lisboa e Porto, apenas com um salário mínimo.
Leia também: Tudo que você precisa saber para morar em Portugal
2) Desorganização
Para quem está acostumado com o Brasil, talvez a diferença não seja tão gritante, mas isso vai depender muito da região do Brasil que você conhece, e principalmente, do seu grau de tolerância à desorganização. O meu, confesso, é baixo. Gosto das coisas claras, organizadas, e que as regras sejam seguidas. Aqui não é bem assim. Nesse ponto, parece mesmo muito o Brasil. A desorganização está em todos os lados, desde coisas triviais, até muito sérias. Um ponto que chama à atenção logo de cara é como os automóveis geralmente são estacionados de qualquer jeito. As vagas não são respeitadas, é muito comum ver um carro em duas ou três vagas ao mesmo tempo, filas duplas, carros sobre a calçada, vagas inventadas para além das existentes e por aí vai.
Claro que em alguns locais é mais organizado, por existirem muitos estacionamentos pagos, e fiscalização mais frequente nesses pontos. Mas ainda assim, é algo sempre presente. O lado bom é que os portugueses tendem a ser muito simpáticos, então geralmente não há gritaria no trânsito, e todos se dão bem apesar da desorganização.
Nas coisas importantes, um exemplo são as inúmeras confusões que presenciei com meus documentos. A começar pelo meu cartão de residência, que ficou pronto em março e só conseguir receber em junho. Fiz o pedido de entrega em casa (inclusive sem saber que havia outra opção), e nunca chegava. Quando finalmente consegui ser atendida, depois de muitos dias de espera, senhas que nunca chegavam, não encontravam meu documento em lugar algum. Por fim estava na pasta errada, a que seria para buscar presencialmente. Assim, quando apresentava meu recibo, olhavam na de envio e não estava lá.
Em outro caso erraram minha data de nascimento em um dia na emissão de um documento e acabei perdendo 3 dias de afazeres até descobrir que esse era o problema e conseguir corrigi-lo. Em outro registraram meu endereço errado e perdi quase 10 dias em idas e vindas infrutíferas até descobrir que esse era o problema, corrigir, esperar 24h para a alteração constar no sistema e conseguir solicitar a emissão que precisava.
Então é necessário ter muita paciência e muita atenção. Em todos os casos fui tratada com muita educação e simpatia. Mas foram dias, semanas, meses, perdidos, algumas oportunidades de trabalho inclusive, nessa brincadeira.
3) Continuação do “jeitinho brasileiro”
Ainda bem próximo do tópico 2 está o terceiro: o jeitinho brasileiro! Apesar de que aqui as pessoas tendem a ser muito menos corruptas no dia-a-dia, quanto aos documentos em geral, por exemplo, são muito menos preocupados com falsificações e coisas assim, vejo muito que conhecer a pessoa certa, pedir dessa ou daquela forma, burlar uma placa ou um dizer, são coisas que acontecem com frequência. Um bom exemplo são os cães. Amo cães (aqui cachorro só se usa para filhotes ou para o sanduíche de salsicha), tenho um que é minha vida, parte da família. Mas também compreendo regras. Existem regras sobre andar sempre com cães atados nas trelas (coleiras e correias), mas o que mais vejo são cães soltos. Há regras sobre a necessidade de recolher as necessidades do seu cão e manter as ruas limpas, mas não vejo muita gente cumprindo. Nas praias fluviais me decepcionei imensamente ao ver os sinais de proibido cães, pois o meu ama água e sofre no calor, mas, respeitosamente, voltei para o carro. Logo ouvi dizer que “não é nada, pois passe com ele, se não faz mal não há problemas” e vi que de fato havia pelo menos outros 5 cães soltos pelo local.
O que me incomoda não é mudar a regra caso ela seja antiga, ou desnecessária. Já que as pessoas frequentam com cães, ótimo! Vamos deixar isso claro. O que me incomoda é haver a placa de proibição, e ainda assim desrespeitarem a regra tão abertamente. Além disso, para quem vem de fora fica mais difícil saber quais regras são comumente desrespeitadas, aparentemente sem penalidades, e quais são as “sérias” de verdade, o que me confunde demais.
4) Clima (norte)
Aqui no norte o clima é muito úmido e chuvoso. Os 3 meses de verão são bem mais secos, praticamente sem chuva e faz bastante calor. A máxima ficou entre 37ºC e 39ºC e a mínima acima dos 22ºC nesses meses. Mas o inverno e a primavera também foram muito chuvosos. O frio não é tão frio quanto outros países temperados, e mesmo no inverno as mínimas dificilmente são negativas. Mas a constante chuva faz com que a vida fique um pouco mais difícil. Precisei de casacos impermeáveis novos, botas e tênis impermeáveis também. O fim de semana fica limitado a passeios em locais fechados e meu cãozinho quase ficou louco sem conseguir passear direito.
Mas a pior parte das chuvas são as infiltrações, o fato de que a roupa lavada não seca, os sapatos mofam, o banheiro fica 3 meses completamente úmido, e mesmo a roupa dentro do armário parece sempre fria e úmida. Então prepare-se! O frio é bem ok, mas a luta contra a umidade é uma verdadeira guerra.
5) Concentração populacional e vazios demográficos
Por último, uma coisa que chama atenção em Portugal é a concentração populacional na faixa costeira e principalmente nas zonas adjacentes à Lisboa ou ao Porto. Essas cidades se tornam inchadas, já que são mais baratas em termos de custo de vida, mais ainda próximas o suficiente das grandes metrópoles. E as vilas ficam um tanto esvaziadas, e um poucos esquecidas. Isso se reflete na forma como o orçamento, infraestrutura, estradas, disponibilidade de grandes lojas e centro educacionais se distribuem e acaba afetando um tanto a vida da população. Não que no Brasil seja melhor, pelo contrário. Para quem conhece o que é o sertão brasileiro e a comparação dele com a anomalia urbana que é São Paulo, a concentração populacional em Portugal passa a ser bem normal. Mas é um fator importante a se considerar, principalmente na hora de escolher um local para morar.
13 Comments
Interessante ler sobre o ponto de vista de alguém que mora em Portugal. Quando viajamos como turista alguns desses pontos são imperceptíveis,mas legal saber como é a realidade.
Oi Juliana, adoro os seus textos. No caso deste – razoes pra NAO morar – eu acrescentaria só um ponto importante: A (ESTÚPIDA) DISCRIMINAÇÃO de um número considerável de portugueses, em relação aos tapuias… Ficamos um tantinho chocados com as grosserias que as crianças portuguesas dirigiram às minhas crianças – possivelmente refletindo o pensamento dos seus pais e da sociedade lusa. É uma coisa que não aconteceu em nenhum dos outros países em que passamos temporadas sabáticas. A gente até teceu uma teoria de rebote: o roto zombando do esfarrapado – Portugal, o país menos rico da Europa Ocidental, é aquele que mais se julga no direito de tratar mal aos brasileiros… Assim como se um viralata se pusesse a zombar daqueles que ele julga serem viralatas! Talvez seja um problema de educação nas escolas lusitanas, que não enfatizam que o ouro espoliado do Brasil colonial construiu TUDO de bonito em Lisboa e Porto, por exemplo (que antes do ouro tirado daqui eram ALDEIAS muito empobrecidas – tem até fotos disto na França).
Comparando as minhas estadas com meus filhos em Portugal e – por exemplo – na Inglaterra ou Alemanha – este problema cultural ficou bem evidente. Enquanto nestes outros países as crianças fizeram amizades baseadas naquela vontade inocente que os pequenos brit e teutos tinham de conhecer DIVERSIDADE… as crianças de escola portuguesas perdiam seu tempo xingando os meus de “escravinhos brazucas” (vê se pode?), “pequeno traficante” e preconceitos deste naipe.
Portugal é lindimais, mas por conta deste ponto triste, eu não recomendo que brasileiros matriculem suas crianças em escolas lusas. Exceto, talvez, se for escola Montessori ou Waldorf, onde a fraternidade e os respeito humano são cultivados já como ponto inegociável.
Não se trata de xenofobia. Entre Brasil e Portugal existe um contencioso histórico. Para além disso partilham a mesma língua. Não creio que ingleses e alemães sejam menos xenófobos que os portugueses, pelo contrário, simplesmente o Brasil nunca teve nenhuma relação política/histórica com nenhum desses países e não existem uma imagem pré-concebida.
Experimente ficar mais atenta ao que os ingleses pensam dos alemães ou o que os alemães pensam dos italianos, turcos etc…
É capaz de se surpreender.
“Talvez seja um problema de educação nas escolas lusitanas, que não enfatizam que o ouro espoliado do Brasil colonial construiu TUDO de bonito em Lisboa e Porto, por exemplo”
Ao que parece, a senhora não conhece absolutamente nada da história do Brasil…
O que aprende-se atualmente, sim, é um problema da educação do Brasil.
Pelo menos, na época em que aprendi a história do Brasil (em 1963), na escola, era muuuuito diferente do que vejo meu neto aprender hoje.
Outra coisa que aprendi na escola, em 1963, é que Cabral, sequer, desceu na praia do Brasil… Voltou com medo dos índios (canibais), narrou tudo para o Rei e 50 anos depois, sim, Portugal enviou uma frota.
De repente, a história foi mudada nos livros, para as crianças aprenderem “de outra forma”.
Bom, para o MEC admitir que a frase “a gente fomos” está correta, porque “todos entendem”, não duvido de mais nada.
” (que antes do ouro tirado daqui eram ALDEIAS muito empobrecidas – tem até fotos disto na França).”
E o que era a população da região daqui (Brasil)? Não conheciam o dinheiro, nem nada.
Não se esqueça que, ANTES, no Brasil, para os índios, o ouro eram “pedras sem valor algum” e trocaram essas pedras por quinquinharias que, para eles (índios) era muito mais valioso…
Não dá para comparar Aldeias empobrecidas com Aldeias indígenas de canibais (sim, eram canibais – não sei porque, atualmente, isso não é mencionado nos livros de história).
Então, o ouro não foi “espoliado”… “Espoliado” é quando invadem uma região, matam todos e ficam com os objetos que sobrou.
Isso não ocorreu… Houve, sim, troca das pedras amarelas inúteis (para os índios) por coisas que eles realmente gostaram.
Quem invadiu e matou foram os espanhóis. Os portugueses trocaram itens com os habitantes locais (índios).
Depois, voltaram, catequizaram os índios e criaram o “Brasil Colônia de Portugal”.
E, se é colônia de um país, não se pode dizer que “espoliaram”. Seria o mesmo que “roubar” a si próprio.
Abraço.
Estou cá a 6 meses e a minha namorada a 2 anos. Concordamos em tudo, faltou ressaltar o preço dos alugueis que estão ridiculamente caros. O País que ate poucos anos estavam passando fome e arrendava casas t2 a 300 euros no meio do porto ou Lisboa, hoje cobra 400 euros por um quarto, t0 a 500 euros.
Hoje se vive uma crise imobiliária que não tem previssao para se resolver, governo lança projetos para tentar controlar, mas nada eficaz, Português esta aproveitando a fase pra tentar ganhar máximo possível, mas quando a crise passar e não se torna mais atraente a emigração para Portugal, todos vão voltar a “mizeria”e ficar chorando. Esta ai um motivo da fama de ser burro.
Ótima publicação, estamos em 2020 e a situação continua a mesma! Eu pessoalmente tive que fazer um curso para poder morar em Portugal, vou deixar o link para quem estiver interessado, https://bit.ly/morar-em-portugal-zenlifetv , para não cair em uma roubada em Portugal é interessante fazer o curso desse site.
Infelizmente viver e trabalhar em Portugal é uma utopia, os salários são dos mais baixos da Europa, o custo de vida é alto. E as casas são caras seja para comprar ou aluguer com salários de 600€ e a pagar de casa no mínimo 400€ é impossível viver bem , os portugueses saem ao milhares todos anos para outros países há procura de melhores condições. São muitos os brasileiros que viraram sem abrigo e outros vivem em péssimas condições em Portugal, esta é a realidade atual.
Gostei muito do artigo, porém costumo dizer que um bom planejamento ajuda muito. Confirma esse guia de como morar em Portugal http://mon.net.br/xw1ny
Eu diria que Portugal só é o que é graças à sorte de estar colado à Europa, caso contrário padeceria de todas as mazelas típicas de países africanos, nomeadamente fome, pobreza, subdesenvolvimento, doenças e pestes variadas. O povo português usufrui de recursos europeus investidos na infraestrutura local e de uma infinidade de bens de consumo baratos de alta qualidade, nada disso produzido no seu país. A economia portuguêsa, ao meu ver, gira em torno da herança. Explico: como durante gerações parece ter havido uma certa “preguiça para o sexo” por parte dos lusitanos, que resultou numa média de apenas um filho por família em Portugal, a maioria dos portugueses tem garantido para si a herença da mãe e do pai (2), que por sua vez já haviam recebido heranças dos avós (4) que por sua vez já haviam recebido dos bisavós (8). Então não é incomum encontrar em Portugal quem dedique a vida aos cafés e aos cigarros, pagos com o dinheiro que recebem dos brasileiros via contratos de aluguel.
Portugal nunca padeceria das mazelas dos países africanos porque ao contrário destes tem alguma expressão económica nos setores secundários e terciários. Os recursos europeus investidos em infraestruturas são emprestados com juros altos, aliás são emprestados no intuito de que os países que emprestam receberem o dobro ou mais. Ninguém empresta por pena, não. Os bens de consumo são maioritariamente nacionais mas com alguns estrangeiros porque como sabe existem as normas da UE. Os portugueses não têm culpa se o sr/sra vem do Brasil que é um país protecionista!
A economia portuguesa não gira em torno de herança tanto que alguns empresários vêm do nada. O que se passa é que há poucos investidores que queiram investir em Portugal devido ao estrangulamento dos impostos por parte dos sucessivos governos. Por isso, as poucas empresas lucrativas e já consolidadas partem de famílias com dinheiro há várias gerações, muitas das empresas são familiares. Sim, se o governo favorecesse o investimento talvez mais portugueses abrissem negócios. Ninguém disse, penso eu, que Portugal é um país para enriquecer.
Os portugueses não têm preguiça para fazer sexo, têm é consciência do quanto custa educar uma criança. Há uma coisa chamada Planeamento Familiar! Se os salários são baixos e os empregos exigem a permanecia de pelo menos 8 horas quanto tempo podem os pais usufruir com os seus filhos? Baixas de parto de 4 meses? Quem quer se separar de um bebé de 4 meses? Porque cá não existem bábás, existem infantários e que custam os olhos da cara.
Penso que na sua última frase se está a referir aos senhorios. Dou-lhe toda a razão quando diz que a maioria só tem bens imóveis porque os herdou e porque explora os inquilinos mas não exploram só os brasileiros, também exploram portugueses. E é mais comum os brasileiros virem a ter problemas com os senhorios porque estes se sujeitam a aluguer sem contrato. Ok que sem contrato é mais barato mas depois é mais fácil por na rua.
Tirando o problema do salário mínimo, os demais pra mim ainda são de boa.
tudo que foi dito aqui é verdade. eu sou português e a porcaria continua a mesma. enquanto os governantes forem os mesmos, as coisas vão continuar de mal a pior.agora vem o chega para trazer mais tristeza ao pais
Estou vendo muita gente vendendo felicidade nas redes sociais e omitindo o grande problema de ser imigrante por lá. Pessoas que dizem que se você não possuir qualificação nenhuma pode ficar rico fazendo qualquer coisa e morando num quartinho de 200, 300 euros e ganhando 800 euros, quando está empregado.
Ainda bem que na contramão, já tem inúmeros canais de pessoas que estão lá, ou já voltaram e relatam as dificuldades de adaptação num país que carece dos mesmos problemas do Brasil com exploração do trabalho, baixa remuneração e poucas garantias de emprego, principalmente para os imigrantes em geral.