Relações Interpessoais na Noruega.
“Em muitos lugares em todo mundo as crianças são criadas para contribuir com a família, tornar-se parte de um grupo, depender do grupo, e contribuir com o grupo. É demonstrado a elas como colaborar e aprender com esse grupo. Elas devem colaborar quando podem, e aprender quando precisam. Em determinados países, elas dependem desse grupo para sobrevivência. Os adultos, por exemplo, podem compartilhar contas com seus pais até se casarem. Porém, na Noruega as crianças são criadas para se tornarem independentes e autossuficientes, o que influencia seu comportamento por toda sua vida. ” (Tradução livre do site “The Social Guidebook to Norway 2)
Portanto, como já observado em outros textos do BPM de colunistas da própria Noruega e outros países escandinavos, há uma diferença entre como esse povo e os brasileiros conduzem seus relacionamentos. Esse mês, apresento minha experiência com essa maneira nova de se relacionar, que faz parte do meu dia a dia; vou também dar dicas de como é possível não sofrer tanto com as diferenças.
O que aprendi nesses 8 meses vivendo em Oslo, no que diz respeito aos relacionamentos desta sociedade? Como sou uma carioca de coração, para minha tristeza, a primeira coisa que entendi foi: não existe amigo de boteco! Mesmo porque bebida alcoólica em bar, por aqui, é muito cara para haver tempo suficiente para construir uma amizade! Pois é, aqui as amizades verdadeiras são de longa data e começam a ser construídas na infância, quando você ainda está no barnehagen (creche em norueguês), ou desde a escola primária.
Aí alguns vão pensar, ah mas no Brasil também é assim. Concordo! Porém no Brasil quando você se casa ou ainda namora, é noivo, etc, normalmente os amigos do seu parceiro, viram seus amigos e vice-versa. Aqui meu caro leitor, não tem nada disso. A pessoa se casa, tem filho e continua saindo com os amigos de infância, sem misturar marido, filho, enteado, periquito e papagaio. Há quem diga que em certos casos, se você trouxer o agregado pelo braço para um encontro dos amigos (daquele grupo da escola, da escalada, do trabalho, do curso de piano…) é uma tremenda falta de respeito e as pessoas do grupo em questão podem se sentir extremamente desconfortáveis.
Sendo assim, como fazer amigos noruegueses na Noruega? Como já disse em um texto anterior, para ser amigo de norueguês, primeiro tente falar a língua. O que fazer enquanto isso? Bem, para quem não sabe (eu não sabia até vir para cá), na Noruega, mais precisamente Oslo, há muitos imigrantes e diversos grupos onde estrangeiros de várias nacionalidades se reúnem para um chopp, para dançar, para viajar, até para aprender norueguês e praticar outras atividades. Existem também comunidades brasileiras.
Apesar de ser considerada uma pessoa bem sociável no Brasil, percebi que essa busca incansável por amigos em outro país, aos 37 anos, solteira, fora do conforto da minha casinha no Rio, do meu caminho cotidiano para o trabalho, das minhas amigas de toda hora, da cervejinha na esquina e da comidinha do papai e mamãe aos domingos, me fez descobrir um outro lado sobre a minha pessoa, não tão legal assim (rs!). Isso faz parte do autoconhecimento e crescimento pessoal, principalmente quando você decide sair da sua zona de conforto e se dispõe a tentar. O que eu quero dizer com isso é que a ansiedade de ter uma rede de amigos da noite para o dia, pode também te apresentar “gente estranha”.
Diante do exposto, listarei abaixo os grupos sociais para/de estrangeiros aqui em Oslo e comentarei minha experiência naqueles que já participei:
• Couchsurfing
O Couchsurfing é uma comunidade para viajantes onde você pode ser hospedado e hospedar gratuitamente os surfers (viajantes) de maneira que eles tenham a experiência de um nativo. Em troca, o anfitrião tem a oportunidade de conhecer pessoas e culturas diferentes e aprender com eles. E não é só isso: aqui em Oslo, por exemplo, integrantes desta comunidade realizam encontros periódicos, organizam viagens e eventos para viajantes, estrangeiros e locais, que também são bem-vindos.
• Internations
O conceito do Internations é basicamente “Com Internations, você nunca fica sozinho”. Há controvérsias sobre esse modelo, pois você consegue participar de algumas atividades realizadas por eles se for um assinante básico, porém só terá acesso completo a todas as atividades se for o chamado assinante “albatross”, ou seja, você deverá pagar uma taxa anual/mensal. Além disso, como assinante básico, talvez você pague para entrar em alguns eventos. Eu, pessoalmente, não tenho nada contra essa taxa (apesar de não pagar como assinante, somente nos eventos), principalmente porque através dessa comunidade aqui em Oslo, já fui em eventos legais e conheci pessoas interessantes.
• Meet up:
O Meet up é interessante, e eles têm até aplicativo para celular. Você pode acompanhar todos os eventos que estão sendo realizados na sua cidade, através dos grupos de interesse, e também pode criar os seus próprios eventos.
• Associação de brasileiros na Noruega (ABN)
Me associei há pouco tempo na ABN, devido ao curso de norueguês que eles promovem, e estou gostando bastante. O pessoal tem bastante experiência no país, podem dar várias dicas para recém-chegados, além de promoverem eventos e encontros.
Há, também, um universo enorme de grupos sociais para estrangeiros no Facebook, que organizam diversas atividades locais e até prática da língua local. Aqui estão alguns dos quais gosto muito:
• Oslo Girls
• DOT Activity Centre
• Language Café
• New Girls in Oslo
• Sobre cursos de norueguês
• Speak Norwegian Night Oslo
• New to Oslo
Por fim, e como mencionado acima, não existe modelo de relações interpessoais certas ou erradas. Quando você decide “enfrentar” uma nova sociedade com uma cultura diferente da sua, o autoconhecimento ajuda bastante a estar aberto a conhecer o outro, e a saber direcionar suas relações pessoais para o caminho que deseja.
6 Comments
Oi Gaby, seu texto espelha a realidade do nosso lado de cá do mundo!
As dicas são ótimas e valem, em grande parte, para Suécia e Dinamarca também.
Beijos
Obrigada Cris. Grande beijo
Não conseguiria me adaptar numa sociedade assim. Minha irmã mora na Dinamarca e é muito parecido. As amigas dela são apenas brasileiras. Muitas coisas me incomodam na sociedade escandinava, a formalidade gera uma frieza sem fim! Eu gosto é de torre de babel, de muitas nacionalidades, de muito calor humano! Já usei couchsurfing e fiz muitos amigos. Enfim, acho que viveria depressiva com tanto frio, com falta de calor humano, longe da família. É muito difícil. Vejo muito esses problemas no dia a dia da minha irmã e sinto muito por ela
Olá Rita, obrigada. Concordo com os seu comentários, mas também penso que quando você decide a “sair na chuva, é pra se molhar”. Então assim como desejo para sua irmã, tento diariamente tirar o melhor de tudo isso, pensar sempre positivo e aproveitar. O melhor para você também. Grande beijo.
Olá Gabriela, adorei seu texto!
Você tem Snapchat?
Olá. A Gabriela parou de colaborar conosco.
Equipe BPM