25 de Abril e a Revolução dos Cravos em Portugal.
Sendo brasileira, estudei um bocado de história portuguesa, mas o que nunca tinha reparado é que estudamos muito no Brasil a história portuguesa somente até a declaração da independência. Após esse período, a história de Portugal some dos nossos livros didáticos, e volta, tímida, apenas em menções à União Europeia, já no século passado. E então, o que aconteceu em Portugal, entre início do século XIX e finais do século XX, se torna uma grande página em branco, e a brasileira aqui percebe somente agora, que tem cerca de dois séculos de informações para recuperar.
Ontem, ao passear pelo Porto (fui porque precisava ir ao Consulado, mas estando lá, aproveitei um bocado), recebi panfletos sobre as comemorações do dia 25 de Abril, e muitos deles mencionavam luta popular, greves, união por mais direitos trabalhistas. Os panfletos, sempre decorados com um cravo vermelho. Fui então pesquisar mais. A data de 25 de Abril é conhecida aqui em Portugal como Revolução dos Cravos, que marcou o fim da ditadura militarista, cujo nome mais forte foi Salazar, ficando por isso também conhecido como período salazarista, e marcando o reinício da democracia no país.
Ditadura Salazarista
Em 1926 ocorreu em Portugal um golpe militar que levou alguns nomes como Óscar Carmona e depois Antonio de Oliveira Salazar ao poder. Salazar agiu como primeiro ministro, inspirando seu governo no fascismo italiano e em 1933, na constituição deste ano, retirou direitos de reunião, expressão e organização. Durante seu governo a economia favoreceu às grandes indústrias, tornando mais fortes os monopólios e aumentando a desigualdade social no país.
Entre 1969 e 1974 foi instaurada a DGS (Direção-Geral de Segurança), uma polícia política, que além de executar as funções de proteção do estado, cuidavam das fronteiras, imigração e foi responsável pela repressão, sem controle judicial, de todas as formas de oposição ao governo, conhecido como Estado Novo.
Leia também: tudo que você precisa saber para morar em Portugal
Guerras Coloniais Africanas
Os 13 últimos anos do Estado Novo foram marcados pelas Guerras Coloniais. Nesse período o alistamento militar era de 4 anos, obrigatório, e a economia sofreu, prejudicando a qualidade de vida da população. Isso aumentou muito o descontentamento da população em relação ao regime vigente, mas as formas de protesto e insatisfação eram proibidas e reprimidas. Uma parcela cada vez maior das Forças Armadas começou a se posicionar contra o governo por discordarem das Guerras Coloniais Africanas, e buscarem um posicionamento diferente. Comandantes como António Sebastião Ribeiro de Spínola, eram contra as Guerras Coloniais, e preferiam que Portugal simplesmente aceitasse a independência das colônias e se focasse nos problemas internos.
Com isso, as Forças Armadas criaram o MFA (Movimento das Forças Armadas) e combinaram de forma secreta e bem planejada a deposição de Marcelo Caetano, sucessor de Salazar e governante em 1974. Em 25 de Abril de 1974, o MFA ocupou o estúdio da Rádio Clube Português, e transmitiu a música Grândola, Vila Morena (de José Afonso), proibida pelo regime militar, que era a senha para que a Revolução começasse.
Os conflitos não foram extensos, pois o MFA conseguiu que as Forças Armadas estivessem do lado da Revolução, ainda assim houve um embate com a DGS, que deixou 4 civis mortos e cerca de 40 feridos, em Lisboa. Nessa ocasião, colocavam cravos vermelhos nos canos das armas, como forma de simbolizar que não haveria conflito e os civis a ostentavam no peito.
Marcelo Caetano se entregou por telefone e negociou seu exílio para o Brasil. O governo foi passado pelo MFA para a JSN (Junta de Salvação Nacional), composta por membros das Forças Armadas, e ficando a presidência a cargo de António Sebastião Ribeiro de Spínola. Em 11 de março de 1975 a Junta foi extinta, e seus membros passaram a ser membros do Conselho da Revolução.
1974-1975 e a instabilidade de governo
Em 1975, insatisfeito com o caráter de extrema esquerda, que a Revolução tomava, Spínola tentou um novo golpe, mas fracassou. O governo instaurado tomou caráter democrático, e a economia fez trabalho de base, junto à sindicatos de fábricas, trabalhadores de bairros pobres e associações agrícolas, adotando modelo de auto-gestão.
Trabalhadores rurais no Alentejo realizaram processos de reforma agrária, e nas grandes cidades houve realocação de moradores dos “Bairros de Lata”, para ocupação de outras zonas onde havia moradias vazias. Entre 1975 e 1978 houve uma sucessão e governos, sempre com muita pressão entre alas extremistas e moderadas, conservadoras e socialistas, de diversas vertentes. Entre 1979 e 1980 Portugal teve 5 Primeiros-ministros, mostrando a instabilidade dos governos e crise econômica. Em 1986, Mário Soares, do Partido Socialista, foi eleito presidente, e Portugal ingressou na União Europeia.
Revolução dos Cravos: democracia e direitos trabalhistas
A Revolução dos Cravos marcou o fim do regime ditatorial e a volta a democracia. É comorado anualmente todo dia 25 de Abril, e é comum que os partidos esquerdistas, como o Partido Socialista, e o PCP (Partido Comunista de Portugal), façam reuniões e assembleias nesse dia, lutando por melhores condições trabalhistas e reafirmando o papel da democracia na sociedade portuguesa.
Sobre comemorações de revoluções, sugiro também a leitura de da Renata Rossi, sobre o Centenário da Revolução Russa.
25 de Abril e a Revolução dos Cravos em Portugal
Fontes:
- Wikipédia – Revolução dos Cravos
- DW Brasil:1974: Revolução dos Cravos em Portugal
- Estudo Prático: Revolução dos Cravos
- História do Mundo Uol: Revolução dos Cravos (1974-1975)
- Visão Junior – Sapo PT: 25 de Abril – O Dia da Liberdade