5 diferenças culturais do trabalho na Inglaterra
Acho engraçado quando falamos que “moramos” em um lugar por um mês. Eu mesma já cometi esse erro. A gente tira umas férias longas, conhece um ou dois locais em um bar, usa transporte público e já acha que está familiarizada com a cultura do país. Eu passei um ano fazendo meu mestrado na Inglaterra e namorando um inglês, já dava pra entender quase tudo dos costumes daqui, né? Até eu começar a trabalhar.
Se tem uma coisa que os ingleses fazem diferente da gente é trabalhar, e vou listar aqui os 5 principais itens que me fizeram repensar a forma como encaramos o trabalho no Brasil ou sentir saudade do nosso jeito.
1. Conversas
A regra é basicamente não ter conversas paralelas. Claro que as pessoas brincam umas com as outras, compartilham algo rápido que aconteceu, mas nada de resenha completa da noite anterior que ocupa a primeira hora de trabalho. Nem comentários sobre a novela / política. Quer conversar? Vai na Hebe, ou na cozinha. É ali que a interação acontece efetivamente. No meu trabalho, isso pode durar mais de 30 minutos e tudo bem. Regado a muito chá!
Não se engane, eles vão perguntar: como você está? Ou como foi o final de semana? Mas acredite, eles não esperam uma longa e verdadeira resposta.
2. Foco
Meu namorado trabalhou no Brasil, e para ele esse era o principal ponto negativo da nossa rotina de trabalho: enrolação. Reclamamos que saímos tarde, trabalhamos muito, mas o quanto isso não é enrolação, olhando algo na Internet a cada meia hora, ou aquela reunião que podia ter sido um e-mail? Aqui faço reuniões em pé, todo mundo levanta e fica na frente da sua mesa, fala o que precisa ser comunicado, e seguimos em frente em 5 minutos. O almoço muitas vezes é ingerido na frente do computador mesmo, aí sim um momento para dar uma fuçada na Internet e atualizar o Facebook. Dificilmente vejo pessoas mexendo no celular enquanto trabalham. E os prazos são razoáveis e a serem seguidos, mas caso não dê para fazer, se negocia uma nova data.
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3. Pub
O que as pessoas têm de reservadas no trabalho, elas têm de abertas no pub. Ali é o momento de realmente interagir com os colegas de trabalho, e ir aos pubs após o expediente é praticamente rotina. Mas lembre-se, o que acontece no pub, morre no pub. Nada de comentar sobre a bebedeira do amigo no dia seguinte no escritório.
4. Benefícios
Os benefícios daqui são um pouco diferentes e variam de empresa pra empresa. Eu sempre ouvi que o Brasil tem “as melhores leis trabalhistas”, mas, de verdade, eu prefiro o esquema daqui. Principalmente pelas férias: de 20 a 25 dias úteis por ano. Que podem ser tirados a qualquer momento, sem muita exigência ou explicação. Com isso, é difícil as pessoas tirarem mais que três semanas, por exemplo, e tendem a emendar feriados ou tirar um ou dois dias numa semana aleatória.
Plano de saúde é oferecido como custo à parte, já que o sistema público funciona, e a maioria acaba optando por não pagar. Algumas empresas ajudam com custo de creche, mas acredito que depois dos 4 ou 5 anos as crianças já vão pra escola normal, que é pública também. Não há, porém, ajuda para transporte ou alimentação, por isso a maioria acaba comendo um sanduíche na hora do almoço, ou algo simples que traz de casa.
Caso esteja doente, não precisa levar atestado médico. Apenas se for realmente afastado (mais de 3 dias na minha empresa). Do contrário, só ligar avisando que não vai no dia por estar mal.
As empresas estão tentando melhorar a qualidade de vida dos funcionários, então conheço lugares que dão frutas, cereais e snacks de graça, bebida alcoólica às sextas-feiras, permitem levar seu cachorro para o escritório, massagem, Yoga etc.
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5. Respeito
Desde o momento da entrevista, as pessoas são orientadas a não perguntar sobre: idade, sexo, nacionalidade, estado civil, onde mora, nada que pode trazer uma definição tendenciosa do avaliador. Inclusive o currículo não pode incluir essa informação. Eu participei de um processo em que inclusive pediram para retirar meu nome do currículo, e o nome da universidade, para que a seleção fosse 100% baseada no meu trabalho. Outra situação que me surpreendeu muito é que me ofereceram um salário um pouco maior do que eu pedi, isso porque disseram que considerariam minha experiência anterior em marketing, mesmo que estivesse iniciando uma nova carreira agora.
Acredito que muito da qualidade de trabalho tem base na relação de confiança entre o funcionário e a empresa. A gente não acha que a empresa está tentando nos explorar, e a empresa quer que você fique na vaga, já que contratar alguém novo custa caro e leva tempo. A taxa de desemprego é baixa, o que faz aquela ameaça de “se não quiser trabalhar, aqui tem uma fila de gente na porta querendo essa vaga” não fazer o menor sentido.
Aqui também ninguém é mandado embora. Para isso acontecer, ou você comete algo muito grave (basicamente má conduta, que pode gerar advertências antes da fatídica demissão), ou a vaga que você estava exercendo deixa de existir (nesse caso a empresa tenta te realocar, mas caso não consiga eles vão lhe dar um alto valor em dinheiro, como seria a nossa multa do FGTS).
Para mim, existem altos e baixos nessas diferenças, mas em geral tenho uma qualidade de vida e de mente muito melhor aqui na Inglaterra.
1 Comment
Adorei o post e as explicações sobre as relações de trabalho. Eu trabalhei mês passado em uma produção audiovisual em Manchester e alguns dos pontos que você comentou me chamaram a atenção na equipe inglesa. Achei mesmo que eles buscam o bem estar do funcionário entre outras questões.
Eu também me identifiquei com você porque terminei o meu mestrado em Audiovisual essa semana em Portugal e quero seguir na carreira de motion design na Inglaterra, mas eu venho da área do jornalismo e minha experiência é na área da literatura e cultura. Uma mistura haha Mas como você destacou que eles valorizaram sua experiência em marketing, eu me senti mais confiante para tentar algo na área quando me mudar. Obrigada por compartilhar!