7 momentos de um ano da Covid-19 no Japão.
2020 seria um ano de muitas expectativas e era uma data muito aguardada no Japão. De norte a sul do país, placas e produtos anunciavam o momento em que o país iria sediar as Olimpíadas 2020. Inúmeros investimentos, comerciais e produtos contendo o logotipo circulavam em todo o Japão.
No entanto, tudo mudou ainda no início do ano. Enquanto no Brasil iniciavam-se os preparativos para mais um carnaval, os japoneses já estavam enfrentando a Covid-19. Na data de 16 de janeiro surgiu o primeiro caso da Covid-19 no Japão, vindo de um residente que retornava de Wuhan, na China.
Logo após, surgiram os infectados do cruzeiro Diamond Princess, em Yokohama, trazendo 3711 pessoas do mundo inteiro a bordo. O navio entrou em quarentena e 14 pessoas faleceram em decorrência da Covid. Somente em março, depois de dois meses confinados, é que os demais passageiros e tripulantes tiveram autorização para desembarcar do navio.
Depois disso, o cenário foi mudando e muita coisa aconteceu. Registro, aqui, 7 momentos de um ano da Covid-19 no Japão:
1. O estado de emergência não foi rígido
No dia 7 de abril de 2020 foi proclamado um mês de estado de emergência na região de Tóquio e arredores. Logo após, a declaração se estendeu por todo o país até o mês seguinte. O governo recomendou que a população evitasse o acesso a locais fechados com pouca ventilação, lugares lotados e contato próximo.
Diferente de outros locais, por conta de uma legislação antiga, o estado de emergência tem sido confiado em termos voluntários, ao invés de impor um confinamento severo. Dessa forma, existe uma série de recomendações, mas nenhuma proibição de fato.
2. O uso constante de máscaras já fazia parte da cultura
Muitas pessoas me perguntavam por que os japoneses sempre usavam máscaras, independente da Covid. Tudo indica que o hábito surgiu ainda durante o Período Edo (1603-1868) para evitar o hálito “impuro” nos rituais e festivais. Depois disso, as pessoas continuavam a usar como medida de proteção contra resfriados, alergia e frio e hoje tornou-se um item diário obrigatório.
3. Os Jogos Olímpicos 2020 foram cancelados
Pela segunda vez na história das Olimpíadas, os Jogos Olímpicos, que aconteceriam no Japão, foram cancelados. A primeira ocorreu em 1940, por decorrência da II Guerra Mundial; e a segunda, em 2020, por conta da pandemia.
As Olimpíadas e os Jogos Paralímpicos 2020 foram postergados e custarão pelo menos US$ 2,4 bilhões a mais, sendo que os custos extras serão divididos entre Tóquio, o comitê organizador e o governo nacional.
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O Comitê Olímpico Internacional não contribuirá, mas concordou em renunciar a taxa de direito de patrocinador pela primeira vez, disseram os organizadores. O adiamento eliminou a demanda de cerca de 9 milhões de espectadores (domésticos e estrangeiros) que gerariam um consumo interno de ¥ 550 bilhões e provocou o cancelamento de reserva de 46.000 hospedagens em todo o Japão.
4. Proteção da economia e medidas de apoio
Levante a mão quem não foi atingido economicamente por essa pandemia. Muitos perderam o emprego, a vida e a esperança. O governo japonês disponibilizou, sem burocracia, ajuda financeira às empresas, trabalhadores da área de saúde e residentes, inclusive estrangeiros.
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Muitos funcionários foram alocados para trabalhar remotamente e na medida do possível, o trabalho foi mantido. Na falta de pedidos, algumas empresas concederam folgas remuneradas. O governo lançou um pacote de estímulo ao turismo, mas com o aumento dos casos, os mesmos foram cancelados meses após a implantação.
5. Grandes mudanças políticas
Lembrando que o ano de 2020 iniciou com um novo imperador e encerrou com um novo ministro – as principais autoridades do país. O Imperador Naruhito ascendeu ao trono no dia 1º de maio de 2019, após a abdicação do seu pai Akihito, dando início a uma nova era no Japão.
Yoshihide Suga foi eleito Primeiro Ministro do Japão, após a renúncia de Shinzo Abe. Ambos alegaram problemas de saúde ao deixar o posto.
6. Fechamento de fronteiras
Ao perceber o aumento de casos das pessoas que estavam retornando ao Japão com a abertura das fronteiras, o país restringiu o acesso. Muitos estrangeiros residentes no país não puderam retornar por longo tempo.
Até os serviços postais foram alterados e passaram a não mais permitir o recebimento e envio de encomendas para determinados países, inclusive o Brasil. Tudo isso, num ano em que eram esperados mais de 40 milhões de visitantes estrangeiros no país.
7. Houve baixo índice de mortalidade e taxas de contágios
Todos os eventos e festivais foram cancelados. As pessoas restringiram o uso do transporte público, limitaram as visitas ao templo e as visitas familiares. O Japão tinha muitos motivos para ser um dos países mais afetados pela pandemia: localização geográfica, numerosa população concentrada nas áreas urbanas, alta porcentagem de idosos, baixo número de aplicação de testes – todavia, isso de fato não ocorreu.
E se todas as medidas foram corretas ou insuficientes, ninguém sabe, pois não havia um plano de emergência preparado para passar por isso. Pois tudo foi uma tentativa de erros e acertos. Muito está por vir e a única certeza que temos é de que tudo isso vai passar um dia e ainda teremos muita história para contar…