A difícil decisão de deixar o Brasil.
Ultimamente, com tantas crises no Brasil, tenho recebido muitas mensagens, ligações e e-mails de conhecidos que pensam em morar fora. Amigos, familiares, amigos de amigos, pessoas sem esperança no país verde e amarelo que sonham que a única oportunidade é fazer as malas e cruzar o oceano. Com o objetivo de ter uma melhor qualidade de vida, pensam que, deixando o pouco que tem para trás, podem conquistar muito mais na Europa, mas esquecem que aqui também vivemos uma crise, a maior de todos os tempos. E por mais que o índice de desempregados vá baixando nas pesquisas, a qualidade de vida das pessoas empregadas está bem longe do esperado. Condições de trabalho precárias, salários baixos, poucos direitos e muitas obrigações.
Primeiramente, se você pensa em sair do país, tem que pensar na papelada. Viajar sem visto é bem complicado, porque você não vai ter direito a ter um contrato de trabalho e, sem contrato de trabalho, os imigrantes ilegais não têm direito a coisas básicas como sistema de saúde gratuito, firmar um contrato de aluguel, abrir uma conta bancária e a educação para os filhos. Não poderá viajar, vai ter que viver sempre escondido e os tipos de trabalhos en negro (sem contrato) são trabalhos feitos dentro de casa como serviço de diarista, manicure, pedreiro, cuidadores de pessoas idosas ou de bebês. Então, se você junta todos esses problemas e vai morar em uma cidade onde não conhece ninguém, eles se multiplicam já que todas essas coisas que você poderia fazer necessitariam de recomendações e, antes de conseguir algo, o tempo de espera pode ser grande e os gastos durante esse período também.
Já faz vários anos que muitos países fecharam as portas e colocaram muitas regras para dar o direito a um visto por aqui. Agora, com tantas pessoas desempregadas, o visto de trabalho não é concedido em qualquer área, os vistos de estudantes não são dados para qualquer tipo de curso que você possa estar pensando em fazer e acompanhantes de estudantes, além de terem que comprovar uma boa quantia de dinheiro anual na conta, não têm direito a trabalhar.
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Se você tem passaporte europeu também não se iluda muito, não pense que por tê-lo você chegará aqui e as portas vão se abrir. É claro que será mais fácil, mas você tem que se informar bem antes. Para ter direito a saúde, a educação ou dar o visto para seu marido/mulher, primeiro você vai ter que justificar que está trabalhando e/ou que tem bastante dinheiro na conta. É preciso também pagar um seguro saúde particular, estar empadronado (estar registrado na cidade onde vive com um endereço fixo comprovado por um contrato de aluguel ou por uma justificativa de que vive na casa de alguém com contrato), entre outras coisas. Não entrarei em detalhes, já que todo o tempo esses trâmites vão variando, mas se durante os seus 3 primeiros meses no país você não conseguir juntar toda a papelada, seu parceiro vai estar ilegal aqui.
Também nesse começo, você vai precisar de dinheiro na conta para gastos diários e, de preferência, que não seja contado, porque mesmo tendo um visto isso não garante que de imediato você vá encontrar um trabalho. Existem muitas pessoas formadas, pós-graduadas, que estão trabalhando em supermercados, lojas ou bares. Pessoas que falam fluentemente dois ou três idiomas e que não encontraram uma opção na sua própria área de formação. Para esses trabalhos en negro, que têm salários geralmente baixos e com os quais o trabalhador não têm quase nenhum direito trabalhista, os estrangeiros que não dominam o idioma já terão um ponto negativo. E você, que está pensando em vir morar na Espanha porque pensa que espanhol é parecido com o português, pode se surpreender quando chegar aqui.
Outro ponto fundamental é estar bem preparado psicologicamente, não é porque a vida está difícil no Brasil, que vai ser fácil depois de pegar um avião. Com todos os problemas que você tem, morar perto da família é uma vantagem enorme, o apoio e carinho das pessoas que amamos nos dá muita força. Quando você está fora do seu ninho, essa força tem que ser mais consolidada que nunca. O simples fato de você ser estrangeira, faz com que tudo pareça mais difícil, todos os dias são batalhas a vencer.
E é claro que é bem diferente mudar de vida quando se é solteiro com 25 anos e quando você já passou dos 40 e tem uma família para sustentar. Por isso, o mais importante é ter muita certeza da decisão que está tomando.
Antes de uma mudança tão grande, se for possível, viaje para conhecer o lugar, para conversar com as pessoas, ir aos órgãos competentes para tirar dúvidas e, melhor ainda, se puder, visite um advogado especializado em estrangeiros na cidade que você pretende morar.
Os pontos positivos de toda esta mudança ? Vários deles eu escrevi no texto quando completei uma década fora do Brasil.
1 Comment
Prezadas e Prezada Melissa:
De fato, seus pontos de vista fazem refletir, mas, sempre penso que apesar das dificuldades para sobreviver em outro país, e quando no seu país “do futuro” você não consegue sequer sentir-se seguro, quando a sua integridade física e moral é abalada ou mesmo retirada de você, como anda acontecendo aqui…