Este ano completei 10 anos na Espanha e posso assegurar que a saudade sempre estará presente. Não importa o tempo que você esteja fora, não existe diferença entre 1 ano ou 10 anos quando falamos em sentimentos, já que o coração não tem calendário; afinal, é uma parte da sua vida que você deixou para trás.
De férias por um tempo determinado você volta a sentir o cheirinho da sua terra natal, do seu lar, do nosso sempre porto seguro!
Mas se virmos por outras perspectivas, estas visitas pouco a pouco vão mudando, principalmente as pessoas que você vai encontrando o desencontrando nestas idas e vindas.
Nos primeiros anos eu viajava mais para minha cidade (Curitiba), era solteira, sem filhos e tinha muito mais facilidades. Buscava uma passagem barata, sendo que, muitas vezes, saía de Barcelona, fazia escalas em outro país que estava bem mais longe do meu destino só para pagar um voo mais econômico. Não me importava se eu ficasse umas 4 horas a mais fazendo conexão. Nesta época, eu chegava ao Brasil com a mala cheia de presentes, porque cada vez que eu entrava em uma loja, sempre pensava como tudo era tão diferente e mais em conta (para quem ganha em euros). As programações por ali eram reuniões em família, baladas com amigos, churrascos, salão de beleza (sempre!!!) e excursão pelos restaurantes que eu adorava tanto.
A chegada era muito esperada, um quarto bem aconchegante e horas de colo e carinhos da família. Passava horas e horas contando sobre tudo o que eu aprendi morando na Europa, mostrando todas as fotos das minhas viagens e escutando com atenção sobre todas as festas de aniversário, de despedidas, de formaturas que havia perdido, além de nascimentos e casamentos. Passavam alguns dias e eu só queria saber de estar ali, comendo como uma louca e descansando no sofá da casa do meu pai. Nas primeiras viagens, meus amigos continuavam perto, levavam uma vida relativamente igual de quando eu tinha decidido ir embora. Parecia que o tempo no Brasil não passava e só me dava conta quando deixei de comprar brinquedos de presente para meus irmãos e sobrinhos.
Me lembro bem que, no primeiro ano em Barcelona, cada vez que eu comprava alguma coisa, eu não conseguia encontrar nada que eu gostasse, pareciam roupas feias, cortes estranhos, só comprava roupa esportiva, pois isso sim era maravilhoso por aqui. Então quando eu chegava no Brasil eu comprava principalmente biquínis, calças e sapatos.
Até que chegou um dia que já não conseguia vestir minhas roupas brasileiras,
parecia que eu era a estranha na rua e não sei bem quando aconteceu, mas fui me adaptando a tudo e pouco a pouco este vínculo ficou para trás, perdido.
Os anos foram passando e cada vez fui voltando menos; não porque eu não quisesse: sempre falo que o pior da viagem para o Brasil não é a distância e sim, o preço da passagem! Na hora da compra tenho que pensar em voos com menos escalas, com menos conexões e menos horas dentro do aeroporto. Como só tenho férias no verão, no Natal é quase impossível encontrar alguma promoção, por mais que eu comece a buscar um ano antes.
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Na mala menos presentes e mais mamadeiras e fraldas (já não vejo as coisas aqui como novidades, tudo já é tão normal e compro o que eu posso levar). Na chegada já não tenho tantas pessoas à minha espera, apenas meu pai fiel (que sempre é o primeiro em estar na porta de desembarque) e alguns dos meus irmãos. Os amigos já não são tão amigos, e não culpo a eles por eu já não ser uma pessoa importante em suas vidas. O tempo foi passando, as prioridades mudando, eles casaram, tiveram filhos, trabalham mais, saem menos de casa e já tem outros “melhores amigos”.
Já não posso ir de um lado a outro de excursão como antes, porque agora tenho horários de comidas e lanchinhos, dependo também de um carro com cadeirinhas. As crianças demoram alguns dias para se adaptarem ao fuso horário. E sair de noite para a balada, nem pensar! Só continuo indo ao salão de beleza, porque quem mora fora sabe que isto é sagrado. E seleciono alguns restaurantes que eu não posso deixar de fora e se eles tiverem área infantil, é bem melhor!
A atenção agora é voltada para os mais pequenos da casa. A sala de visita fica diariamente desorganizada e a casa inteira sofre uma mudança tremenda, é como uma invasão de alegria, que ninguém reclama já que tem dias contados para acabar.
Mudei meus planos, agora espero que a família e os amigos venham na casa do meu pai para me visitar e conhecer meus filhos. Priorizo os dias que eu estou no Brasil para estar mais em família. Gosto de ver meus filhos brincando com os primos, escutando historinhas e canções da titia e dos passeios de mãos dadas com o vovô.
Vão passando os dias, e quando vai se aproximando do dia da partida, o coração já fica apertado, vai formando um grande nó na garganta, porque já sei que não é um até breve e sim um até daqui a uns anos.
E se voltamos a falar sobre sentimentos, as saudades depois de um tempinho de férias junto da família passam e então já começo a sentir saudades da minha outra casa, do meu segundo lar, do meu outro país onde eu não nasci, mas é onde eu escolhi ficar.
5 Comments
Muito bom o texto a Melissa. Eu também estou há 10 anos fora, caiu como uma luva.
Oi Melissa,lendo seu texto pude imaginar o quanto essa distância é difícil. Tenho muita vontade de morar fora, ,tenho filhos e sei que a saudade será um grande desafio. Obrigada por compartilhar sua experiência. Um abraço!
Melissa, sabes que no meu coração tem um cantinho especial para você. Não deu certo da gente se encontrar quando vieste para cá, mas quero que saiba que te acho uma guerreira. Admiro muito sua coragem e sua historia de vida! Que Deus abençoe imensamente você e sua família sempre!
Muito bom o seu texto! Verdadeiro e emocionante!!!
Abraço!!
Olá Melissa, me identifiquei muito com o seu texto. É tudo a pura verdade o que você escreveu. Me sinto exatamente da mesma forma. Um grande abraço para ti.
Melissa, nem fui ainda (irei daqui 30 dias) e já fico super emocionada!
Gratidão pelo texto!
Sucesso!