Como prometido, continuamos falando um pouco mais sobre a imagem da mulher quebequence. Talvez algumas de vocês tenham se perguntado sobre o porquê da ênfase na québécoise, ou até mesmo se a canadense possui um perfil tão diferente assim. É fato que a cultura de um país tende a ser mais ou menos uniforme quando o processo histórico se manteve, mais ou menos, constante. Ainda assim, várias podem ser as causas que determinam diferenças importantes no savoir-être, ou seja, no famoso jeito de ser de um povo.
No Brasil, apesar da predominante colonização portuguesa, sabemos que a mulher nordestina guarda um perfil mais aguerrido do que a mulher sulista, por exemplo. As cariocas têm valores diferentes das paulistas. As gaúchas já vem com o gene Bündchen de fábrica, enquanto que as amazonenses trazem características que remetem à bela figura dos nossos índios, de pele mais morena com seus cabelos escuros, longos e naturalmente lisos. A imagem da mulher brasileira é tão diversa, e ao mesmo tempo tão única, quanto as belezas naturais do nosso país.
No caso do Canadá, as influências das colonizações inglesa e francesa provocaram uma cisão cultural e comportamental mais contrastante. Quem se lembra da eterna rivalidade histórica França versus Inglaterra, sabe que a rixa já vem de séculos. O meu recorte de observação para este artigo se deu mais porque a realidade em que vivo é francófona, portanto mais à francesa. A verdade é que toda mulher contribui a sua maneira com a sociedade em que vive, independente da origem, da aparência ou do que quer que seja. Então passemos a mais traços interessantes da personalidade da québécoise…
4. É ok tomar a iniciativa numa relação!
Já perdi as contas de quantas revistas femininas, livros de auto-ajuda femininos e blogs de comportamento tentaram estabelecer um veredicto unânime sobre o que pensar da mulher que toma iniciativa na hora de abordar um homem no Brasil. Confesso que na minha época de solteira, esse papo todo me dava muito preguiça. Aqui em Quebec, a percepção é que as pessoas rotulam menos o caráter da mulher nesse sentido. Resumindo: o mundo é (bem) menos machista!
A dinâmica saiu-conheceu-alguém-legal-quis-passar-a-noite-tchau-obrigada é normal. Ninguém tem de ligar, mandar mensagem, esperar 48 horas antes de se manifestar de novo, fingir desinteresse e parar a vida tentando entender o que foi que rolou. A québécoise toma mais as rédeas da situação, vive o momento, sem esperar muito pelo príncipe encantado. Por incrível que pareça, o homem québécois tem menos iniciativa nessa hora. Ele só se aproxima se os sinais de interesse da mulher forem muito claros e explícitos. Então, sair para uma noite com as amigas sem ser incomodada por seres inconvenientes é realmente viável.
5. Compromisso coletivo de respeito à diversidade corporal
Há alguns anos se discute a influência negativa da publicidade, da moda e de algumas mídias na definição de padrões corporais irreais e que causam diversos problemas psicológicos e de autoestima, especialmente em mulheres. No Quebec, jovens realizaram petições entre 2007 e 2008, demandando que o governo tomasse medidas junto às indústrias envolvidas na questão. Em março de 2009, a ministra da Cultura, Comunicações e da Condição Feminina confiou a um comité a missão de redigir uma carta de engajamento voluntário que se chama Carta québécoise por uma imagem corporal sã e diversificada – Charte québécoise pour une image saine et diversifiée (CHIC).
A CHIC corresponde a um compromisso coletivo por um projeto de sociedade que acolhe a diversidade corporal, o que se exprime por uma representação mais realista das pessoas. Ela também encoraja a difusão de imagens de indivíduos de idades, tamanhos e origens culturais variadas. Num exemplo prático, uma das minhas lojas preferidas – Jupon Pressé – tem em sua coleção super atual e linda, modelos disponíveis a partir do XXS até o XL. Ou seja, todas têm acesso às mesmas referências de moda sem precisar se contentar com a quase nula variedade quando se trata de moda plus size, por exemplo.
Conclusão…
A discussão feminista em Quebec vem desde os anos 60, de forma que ela já avançou consideravelmente em alguns aspectos. Esse eterna insatisfação que busca destacar cada vez mais o papel da mulher na sociedade certamente contribui para uma maior liberdade de expressão de anseios e expectativas, sem recair nos discursos mais clichês. Ninguém quer provar que a mulher é melhor ou superior em relação ao homem, apenas que ela possui desejos e necessidades diferentes e que isso não deve servir de justificativa para a desigual tratamento de sua contribuição social.
Termino minha reflexão com as palavras de um escritor québécois sobre as mulheres daqui. Alguns o acham um pouco polêmico, mas segundo ele, a ideia é celebrar as principais qualidades das québécoises. Particularmente, acho que se encaixa bem no que tenho observado.
Au Québec, les femmes sont toutes puissantes. La femme québécoise est toujours jeune, jolie, futée et en plein contrôle. À la différence de l’homme autrefois représenté comme le crétin de service. (…) Si autrefois, les femmes québécoises ont sauvé la colonie grâce à la revanche des berceaux, aujourd’hui, elles sont en train d’assurer la revanche des cerveaux. Jacques Bouchard, 2006.
Tradução: Em Quebec, as mulheres são todas poderosas. A mulher québécoise está sempre jovem, bela, inteligente e no controle. Ao contrário do homem, em outros tempos representado como o babaca de plantão.(…) Se em outros tempos, as québécoises salvaram a colônia graças à vingança do berço, hoje elas estão garantindo a vingança dos cérebros.