São inúmeras as razões que levam alguém a decidir morar em outro país. Algumas vezes, o motivo maior pode ser uma grande afinidade com a cultura lá encontrada, mas em outros casos, pode não ter absolutamente nada a ver com afinidade. Pode ser que você tenha escolhido tentar a vida fora por causa de uma oportunidade de emprego, por um amor, ou tantas outras razões. No entanto, de uma maneira ou de outra, não devemos jamais menosprezar a importância de se encaixar na cultura do país no qual vamos morar.
A primeira vez que eu fui à Inglaterra, me decepcionei com algumas coisas, mas o impacto que aquela experiência teve na minha vida e na minha maneira de ver as coisas, foi imensurável. Eu me encantei com a liberdade que eu via naquela sociedade, com a consciência que as pessoas demonstravam em se mover pelas ruas, no tom de voz que usavam em público, com o acesso que a classe média tinha a produtos de qualidade e experiências de vida, e muitas outras coisas.
Por essas razões, quando voltei ao Brasil, eu inevitavelmente comparava tais aspectos à realidade brasileira e me dava conta, mais e mais, de que eu tinha muita admiração por aquele povo e país. Assim sendo, não foi nenhuma surpresa quando decidi que me mudaria para cá.
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As diferenças culturais
Enquanto no Brasil, eu sempre fui a responsável, a organizada e a séria (seguidamente vista como “certinha”), na Inglaterra, eu era mais leve, flexível e mais brincalhona que a maioria. Sendo uma expatriada na Inglaterra, eu aprendi que a opinião que os outros têm de você é simplesmente a comparação que eles fazem entre o que eles observam e os pontos de referência que possuem: se seus amigos e familiares são acostumados a burlar as regras, cumprir regras deixa você “quadrado” e assim por diante.
Só que essa diferença nos pega de surpresa quando agimos de uma maneira que, para nós é inofensiva e descobrimos que para a outra cultura aquilo é totalmente inaceitável. Exemplos disso não faltam, como a constatação de que deitar o banco do ônibus até o limite, é uma grande grosseria para o europeu. Ou que fungar é muito, mas muito pior, do que assoar o nariz à mesa de jantar.
Nesses momentos, nossa reação pode determinar se nos adaptaremos ou não, à nova cultura: ou temos humildade para reparar no erro e passamos a prestar mais atenção, ou então, decidimos que eles estão absolutamente equivocados e nos revoltamos com aquilo.
Ocorre que, eles têm características diferentes do brasileiro, que podem fazê-los parecer um pouco mais legais de um lado e um pouco mais chatos de outro. Porém, o mais importante de se perceber é que eles não estão errados e nós certos e o contrário também – são apenas diferenças.
Ao mesmo tempo, não foram eles que vieram morar na sua casa ou no seu país, foi você quem foi morar no deles. Então, quando percebemos que agimos de maneira que vá na contramão da cultura local, é mais sábio “botar o rabo entre as pernas” e ver que, ao adaptar-se, quem tem muito a ganhar por fazê-lo somos nós, os que imigram.
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Como manter a própria personalidade e adaptar-se a outra cultura?
Obviamente, não estou dizendo para que não conservemos nossa autenticidade e não tenhamos um senso de quem somos. É importante se conhecer, trazendo consigo todas as suas características e experiências de vida e tendo orgulho de quem se é. Costumo dizer que você pode convidar os amigos novos para virem na sua casa e recebê-los com feijoada ou churrasco, ao som de uma bossa nova, mas que você não deve esperar que eles te sirvam a mesma coisa, ou lhe recebam ao som do mesmo tipo de música.
O outro aspecto nessa história de “se encaixar” é aceitar o ritmo no qual a vida anda no país que você elegeu para morar. Sendo de família italiana, o horário da refeição e a própria comida que se come, sempre teve uma importância gigantesca para mim. Por anos, eu e meu marido conseguimos continuar com nossos hábitos quando estávamos em casa, mas quando imigramos pela segunda vez, agora com filho, não conseguíamos seguir o ritmo da vida familiar deles.
Resultado: trocamos finalmente o almoço pelo sanduíche, começamos a jantar, no máximo, às 6 da tarde e nos acomodar muito mais cedo (principalmente no inverno). Assim, não perdemos a luz do dia e nem temos problema com o horário comercial.
Com todas essas mudanças, hoje nos sentimos muito mais em casa do que jamais nos sentimos antes. Adoramos nossos novos hábitos e nossa vida neste país se tornou muito mais fácil e natural.
Faz diferença escolher um país com o qual temos mais em comum?
Meu coração se enche de orgulho quando penso no país que escolhi para chamar de casa e se enche de gratidão por ter contribuído para eu ser a pessoa que sou hoje. Por isso, eu sugeriria a qualquer pessoa que, quando possível, procure um país que você admire para chamar de seu, pois você terá uma disposição maior para se encaixar e a adaptação tende a ser mais fácil.
Além disso, afirmo: procure se adaptar. Abra a sua cabeça e se dê conta de que mudar de país e adquirir novos hábitos é equivalente a crescimento e capacidade de superação. Sabendo quem você é e tendo orgulho da sua bagagem, fica muito mais fácil de abraçar o novo e fazer dele parte de você.
2 Comments
Estou morando aqui ha 1 ano e ja me acostumei com algumas coisa, adoro o cha com leite, a boa educacao da maioria das pessoas, o habito de dormir “cedo” enfim… mas sinto falta do “calor humano” do Brasil e como estou somente Eu, Marido e Filha e morando no interior realmente tem sido um desafio fazer novas amizades e criar novas relacoes… mas “so far, so good”
Olá Veronika! Obrigada por dividir a sua experiência conosco. Acredito que tanto eu, quanto qualquer outro imigrante ou expatriado, entendemos como você se sente sobre as qualidades do Brasil e dos brasileiros.
Quanto a fazer amigos, dê uma olhadinha no meu artigo de Dezembro (espero que tenha algo que possa acrescentar a você). E é aquela coisa, nada é perfeito no Brasil e nada é perfeito aqui também… É apenas quando “processamos” essa informação, que conseguimos deixar a vida seguir seu rumo, sem nos iludirmos com perfeição, mas também sem focar no negativo.
E no mais, procure lembrar-se que existem dias mais difíceis, mas que eles não são nada mais do que isso.
Um abraço!