Férias escolares na Inglaterra: o que isso representa para as mães e pais?
Para começo de conversa, confesso: quando as coisas apertam por aqui, eu começo a me perguntar “e como seria se estivéssemos no Brasil”?
Já escrevi um artigo aqui no BPM sobre esse hábito maldito da comparação, mas em momentos de estresse, ele sempre reaparece…
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Pois bem, vamos a um pouco de contexto.
Como são as Férias escolares na Inglaterra?
Não é porque ainda estamos na União Europeia que tudo aqui é igual à Europa. O calendário escolar aqui é parcialmente controlado nacionalmente (ou seja, cada país do Reino Unido tem o seu) e na outra parte, controlado regionalmente pelos governos locais, os tais concils, no caso da Inglaterra.
Em termos gerais, a cada seis semanas de aula, há uma pausa de pelo menos sete dias (em Outubro, Fevereiro e Maio) e a cada 12 semanas de aula, há as pausas de duas semanas para o Natal e duas semanas para a Páscoa, sendo que a mais longa pausa é a de seis semanas, nas férias de verão.
Já as férias dos adultos que são empregados, tendem a ser bem flexíveis e, dentro do possível, serão programadas pelo mesmo, dependendo apenas da autorização de seus chefes ou líderes. Só que estas são de um total 28 dias ao ano (incluindo feriados se assim for estipulado por contrato) para aqueles que trabalham em tempo integral.
Dessa forma, estamos falando de cerca de 100 dias de diferença entre as férias escolares e as de trabalho dos pais. O que, sendo bem sincera, tende a deixar os pais de cabelo em pé por aqui.
E o emocional, como fica?
Se compararmos com outros países europeus, as férias de verão inglesas são as mais curtas de todas. Porém, os outros países da região não contam com tantas pausas durante o ano. Além disso, enquanto até em países do norte da Europa os verões ensolarados e quentes são comuns, na maravilhosa Ilha chamada Grã Bretanha o calor quase não existe e o sol raramente dá as caras.
Ok, estou até conseguindo ouvir nitidamente os protestos daqueles que dizem “ah, mas aqui tem sol e calor sim”…. E isso não é mentira. Porém, por alguma razão, definitivamente equivocada, o maior mês de ferias é Agosto, um dos meses mais chuvosos do ano (na Escócia por exemplo, as férias de verão são em Julho).
Se você viver em um lugar quente, as chuvas no verão são normais, mas passar o ano esperando ver o sol e o calor e o ver apenas quando os filhos não estão de férias é uma verdadeira maldade.
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Depois de me tornar mãe aqui, aos problemas provenientes da falta de sol e de calor – que já citei em artigos anteriores como depressão sazonal – adicionei mais um: a dor no coração de ver o seu filho sem ter o que fazer, em plenas férias de verão.
Está certo que aqui se sai até com chuva, se aproveita de qualquer maneira, o que é muito bacana. Mas, quando lembro da minha infância de pé no chão, vestido solto e banho de rio ou de piscina, fico me perguntando o quanto estou certa ou errada na minha escolha. E são nessas horas que recorro a meus aprendizados sobre gratidão, que o coaching me ensinou.
O maior desafio: como fica o trabalho?
Quem me acompanha por aqui já sabe que eu me mudei para a Inglaterra pela primeira vez em 2009. Porém, passamos os primeiros anos do meu filho no Brasil.
Lá, é bem mais comum os pais pagarem pelo cuidado e estudo dos filhos, desde a creche até a Universidade. Dessa maneira, enquanto eu não tirava férias, meu filho era cuidado pelas maravilhosas professoras e tias da sua escolinha, sem ter que mudar nada em sua rotina. Além disso, quando possível, a família também dava uma mãozinha.
Aqui, os avós também ajudam, mas acredito que ainda menos do que no Brasil. Além disso, no caso de nós estrangeiras, a sua família esta há quilômetros de distância, o que dificulta ainda mais que você se mantenha no mercado de trabalho.
Tudo isso, faz com que muitas mulheres acabem decidindo deixar a carreira de lado. Em um país onde há mais igualdade social e financeira entre as profissões, pode acabar de todo o seu salário (ainda que substancial) ir automaticamente para pagar babá ou escola particular – o que reforça a ideia de que continuar a trabalhar todo o dia, ou ter uma carreira, pode não valer à pena.
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E como eu faço?
Da minha parte, amigos, fico mesmo é me “virando nos 30” (vocês ainda usam essa expressão no Brasil?)… Reduzo as horas de trabalho, paro de aceitar novos clientes e complico a minha vida (risos), tendo que achar um equilíbrio entre a agenda de profissional liberal e aquela de super-mãe!
Por outro lado, se eu deixasse o meu trabalho de lado, acredito que eu enlouqueceria de vez. Nada que seja culpa do meu filho, já que ele é um cara muito legal e super independente (em parte, por incentivo da pré-escola inglesa), mas pelo simples fato de que eu não deixei de ter interesses de mulher adulta e profissional por ter me tornado mãe.
Assim, acredito ser necessário um tanto de programação prévia, uma boa reserva de recursos financeiros colocadas à parte (ou ao menos esperadas) e alguém com quem desabafar. Afinal, acredito que chegará o dia em que concordarei com aquilo que todos dizem: “você ainda vai sentir falta disso”.