A jornada profissional de uma imigrante nos EUA.
Um tempo atrás publiquei aqui no Brasileiras pelo Mundo um texto sobre como eu não consegui mais me adaptar de volta ao Brasil depois de ter morado fora pela primeira vez e como fiquei, por várias vezes, procurando outros cantos do mundo para me aventurar.
Eu falo no texto como eu fiquei doente fisicamente e psicologicamente no Brasil ao tentar seguir uma vida padrão, tipo, estudar, arrumar um emprego bom e ser bem sucedida.
Tracei essa meta e fui com tudo, me formei, consegui o tal do emprego bom, mas quando cheguei lá, depois de umas sessões de terapia e antidepressivos, pensei “é isso que é ser bem sucedida?”.
Se fosse, então eu não queria ser, porque não era bem aquela vida que eu desejei. Foi quando fiz minhas malas e sai pra ver esse mundão (de novo).
E depois de muitas aventuras pelo mundo, nos últimos dois anos a minha casa tem sido a América – do Norte.
Tudo o que você precisa saber para morar nos Estados Unidos
Eu fugi de empregos na minha área no Brasil – sou formada em Letras e fui professora de inglês e coordenadora pedagógica – para trabalhar em empregos informais nos Estados Unidos.
Nesses últimos dois anos eu tenho trabalhado como babá, entregando comida, fazendo faxina e dando aula de inglês particular para brasileiros. Não que esses empregos sejam ruins, eles pagam o meu aluguel – que é bem caro diga-se de passagem – pagam minhas contas, meus passeios, minhas comprinhas e ainda consigo juntar dinheiro.
Mas hoje, eu percebo que estou bem cansada da precariedade desses tipos de empregos aqui nos Estados Unidos, que quase todo imigrante faz. Cansei de lidar com filhos dos outros, de dirigir até 9 ou 10 horas da noite entregando comida e chegar em casa morta e com dor nas pernas, sem ânimo para fazer nada.
A jornada profissional de uma imigrante nos EUA
Estou farta de empregos que a gente não tem garantia de nada, não sou paga pelos feriados, tenho apenas uma semana paga de férias por ano.18
Se eu ficar doente e precisar me afastar, eu não recebo, aliás, nem quanto eu vou ganhar no mês eu sei ao certo. Não tenho benefícios como convênio médico, aposentadoria. Se o meu carro quebrar e eu não poder mais fazer entregas, eu não recebo.
E se a família que eu trabalho como babá virar pra mim e disser “Mari, semana que vem não precisaremos de você”, problema meu, porque eu não recebo, ou seja, absolutamente nenhum direito trabalhista.
E daí vão me perguntar: “Mas porque você não procura um emprego melhor?”
Eu sei que tenho a plena capacidade de encontrar um emprego que seja mais digno, afinal de contas, ao contrário de muitos imigrantes, eu tenho o privilégio de estar aqui legalmente para morar e trabalhar.
Veja também: Como foi ser imigrante nos EUA em 2020
Posso encontrar um emprego melhor com direitos, feriados e férias pagas, salário fixo, mais realizador e que eu me sinta mais útil. Melhor do que ouvir uma criança fazendo birra a cada cinco minutos ou dirigir pra pegar uma entrega e o restaurante estar fechado e não ser paga pelo tempo perdido.
Isso mesmo, por diversas vezes, um pedido entrou no meu aplicativo, eu dirigi até o restaurante e chegando lá, estava fechado e a empresa não me pagou nem pela gasolina que eu gastei em vão.
Depois de ter tido uma péssima experiência no mundo corporativo no Brasil, eu não tenho nenhuma intenção de voltar para aquilo.
Descartei várias oportunidades de trabalho desde que estou aqui porque sabia que ia acabar ficando doente — e fora que o salário que me ofereceram era ridículo — mas também não pretendo ficar a vida toda em empregos precários como de babá ou entregadora de comida. Então o que faço eu?
Veja aqui para ler os apuros que passei em 2020
Faz somente dois anos e quatro meses (pra ser exata) que cheguei de volta na América. Desde que cheguei aqui não parei de perseguir meus objetivos.
Conheço brasileiros que estão aqui há 10, 15 ou até 20 anos e só depois de todo esse tempo é que realizaram seus sonhos, sejam eles, arrumar um emprego bom ou abrir a própria empresa, se legalizar ou comprar uma casa. Eu estou apenas no início da caminhada.
Aconteceram tantas reviravoltas que nem eu acredito quando olho para trás, o ano de 2020 foi um dos piores que já vivenciei, realmente foi bem complicado crescer de alguma forma durante essa fase.
Recomece e Enjoy the Process!
Bom, eu não estou parada, estou nesse caminho porque é o que tem para hoje, estou trabalhando nos meus projetos pessoais, juntando dinheiro e sabedoria, sei que a hora certa vai chegar.
Quero ir mais longe, eu quero crescer, quero aparecer, quero fazer dinheiro de verdade, não só o necessário, quero fazer a diferença e deixar a minha marca no mundo, não importa quantas vezes terei que recomeçar ou quantas reviravoltas o mundo der, e fazer tudo isso quando você não está no seu país de origem é ainda mais desafiador.
Um dia desses vi em uma loja uma camiseta que dizia Enjoy the Process que significa “desfrute o processo”.
Nunca tive medo de me aventurar e recomeçar, meu único problema é exatamente esse, não desfrutar o processo, querer tudo pra ontem e assim cultivar uma ansiedade de viver o amanhã e esquecer do hoje.
Para 2021 já tracei as minhas metas – as quais é óbvio que já estou ansiosa – mas para não esquecer de viver cada etapa dessa caminhada com calma eu já me preparei o kit completo da “imigrante zen”: aulas de yoga, óleo de CBD, meditação e óleos essenciais.
Espero que funcione!