Gringos abusivos: a minha história nada romântica.
O Valentine’s Day está aí e, geralmente, a gente vê histórias de amor, casais felizes e muito romance. Talvez porque encontrar e ter alguém especial é muito romantizado, muito cobiçado e invejado.
As pessoas fazem loucuras para não ficarem sozinhas e, quando não dá certo, nos escondemos.
É um ciclo vicioso e assim só se mostra contos de fada de filmes da Disney. Mas eu vim quebrar esse ciclo e contar uma história nada romântica para alertar outras mulheres.
Este alerta é para que você também não caia na cilada de achar que os gringos são todos príncipes de cavalo branco.
Início de uma história nada romântica
Conheci meu ex-marido pela internet. Mantivemos um flerte e amizade online por muitos anos. Ele sempre foi um amor de pessoa comigo. Era super divertido de conversar, e portanto, fui me apaixonando aos poucos.
Nossas vidas nos levaram para caminhos diferentes, mas nunca deixamos de nos falar e declarar o carinho que sentíamos um pelo outro.
Depois de longos oito anos, finalmente, resolvemos nos conhecer pessoalmente. Eu fui visitá-lo nos Estados Unidos. Foi aí que nosso caso começou de verdade. Iniciamos um relacionamento à distância e ficamos nessa por um ano.
Até que resolvemos entrar com o visto K1 (visto de noiva) para que eu pudesse me mudar para os Estados Unidos e me casar com ele.
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️Antes do visto, tínhamos passado pouco tempo juntos pessoalmente. Viajei aos EUA três vezes para visitá-lo.
Eu tinha um emprego estável no Brasil, também fui fazer um curso na Austrália. Nesse meio tempo, ele teve o empecilho de estar entrando pra Marinha e passando por cursos e treinamentos.
Mas nenhum desses contratempos impediu que continuássemos firmes e fortes de longe tentando arrumar um jeito de ficarmos juntos finalmente. Mesmo estando distante eu o apoiei em todo o processo de adaptação quando ele se tornou um militar.
Durante o relacionamento virtual, já percebi que era um pouco conturbado. Percebi que criava caso por ciúmes sem sentido. Além disso, eu tinha dificuldade de entrar em contato com ele muitas vezes.
Ele sumia por dez horas sem ficar online e sem me responder. Depois me contava as desculpas mais esfarrapadas do mundo. Percebi também que ele bebia muito com os amigos e aprontava coisas estúpidas, do tipo, cair e quebrar os dentes de tão alcoolizado que estava.
Uma vez a gente brigou pelo telefone e ele foi muito grosso, mandou eu me f*der. Enfim, na época eu estava tão apaixonada que acabei ignorando esses sinais. Então a minha primeira dica é: NÃO IGNOREM OS SINAIS.
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Em 2018 eu finalmente cheguei nos EUA com o visto K1 e nos casamos imediatamente. Logo começaram os problemas… ele sofria muito estresse no trabalho e descontava em mim.
Chegava em casa e me tratava como se eu fosse uma recruta dele, falando alto e sendo autoritário. Ele nunca queria fazer nada de legal comigo, tudo que eu sugeria ele criticava.
Eu batia de frente porque não sou de aceitar tudo quieta e as brigas eram escandalosas. Uma vez sai de casa porque ele me xingou e, três dias depois, me traiu.
Eu descobri, resolvi perdoar, fiquei confusa por conta do meu processo com a imigração. Ele estava sempre viajando por causa do trabalho e o pouco tempo que ele estava em casa era só estresse. Comecei a me sentir desgastada, infeliz, insatisfeita, não entendia o porquê e comecei a fazer terapia.
Não ignorem os primeiros sinais
Ele foi se tornando cada vez mais abusivo, da grosseria passou a me xingar, do xingamento passou a me humilhar falando que eu não era ninguém, sem educação, vinda de um país de terceiro mundo.
Da humilhação, passou pra ameaças de me deportar – ele até chegou a entrar em contato com a imigração para prejudicar meu processo do Green Card, dizia que ia chamar a polícia pra me prender.
Apesar de eu ter arrumado emprego rápido, ele sempre ganhou mais e tudo que ele comprava pra dentro de casa, ele guardava a nota fiscal para me cobrar e jogar na minha cara que pagava a maioria das contas.
Ele parecia não estar satisfeito em um relacionamento monogâmico. Sempre fazia do nosso relacionamento um triângulo amoroso, sempre tinha uma amizade nova do sexo feminino que gerava intrigas entre a gente, e a maioria eram mulheres do trabalho.
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Ele colocava palavras na minha boca, manipulava informações e histórias pra parecer que ele estava sempre certo, distorcia o que eu falava, tirava sarro dos meus ataques de pânico, falava que eu era louca, desequilibrada que estava estragando o nosso casamento.
Ele me corrigia em tudo que eu fazia, tentava controlar os meus horários, onde eu trabalhava, até o que eu postava nas minhas próprias redes sociais. Ele queria a minha atenção pra ele 24 horas, 7 dias na semana.
Eu só conseguia ter vida social e fazer o que eu gosto quando ele estava viajando a trabalho.
Chegou o ponto em que eu comecei a ficar com medo dele e temer pela minha própria vida. Ele começou a beber mais e mais, a colecionar armas frias e armas de fogo.
Foi quando, na última briga, ele partiu pra cima de mim, tentou quebrar meu celular, me empurrou, pegou facas pra me assustar. Então me dei conta de que estava correndo um sério perigo. Arrumei as minhas malas, fui embora e nunca mais voltei.
Apesar do imenso trauma, dos pesadelos que tenho constantemente, dos ataques de pânico e do medo de me relacionar com outro homem, eu estou bem, sobrevivi e, hoje, sigo em frente, alertando outras mulheres.
Viajar e conhecer amores gringos é uma delícia, mas o sonho pode se tornar pesadelo se não ficarmos atentas aos sinais.
Ah, e antes que eu me esqueça, Happy Valentine’s Day 😉