Desde os anos 2000, os resultados da Polônia nas avaliações do PISA (Programme for International Student Assessment) da OCDE, têm chamado muita atenção internacionalmente, virando motivo de orgulho para muitos poloneses. O país está entre os poucos que têm essa história de sucesso na educação, conquistada em tão pouco tempo. Pra falar sobre esse assunto, temos que voltar alguns anos.
No final da década de 1980, a queda do regime socialista fez com que a Polônia tivesse que reconstruir sua administração pública. Durante essa reconstrução, o sistema de ensino também passou por uma mudança, que entrou em vigor em 1999. A estrutura do ensino básico foi reorganizada, houve uma descentralização da gestão do sistema, deram autonomia pedagógica às escolas e implementaram avaliações para verificar os desempenhos do novo sistema, que sobreviveu ao tempo e a governos diferentes.
A ministra da educação, Anna Zalewska, membro do partido que está no governo (PiS – Prawo i Sprawiedliwość), declarou que a melhor opção para formação dos alunos poloneses seria trazer de volta o sistema pré-1999. Desde que a ministra tomou essa decisão, ocorreram vários protestos por parte dos Sindicatos dos Professores, Associações Acadêmicas e, em grande maioria, por parte dos pais, que não concordam com a mudança de um sistema que mostrou ótimos resultados nas três áreas de conhecimento: língua materna, matemática e ciências.
O sistema pré-1999 consistia em 8 anos de ensino fundamental, seguido pelo ensino médio com áreas científico-humanísticas ou profissionalizantes. A partir de 1999, o ensino fundamental passou a ter 9 anos, divididos em 2 etapas:
- Etapa 1: Ensino Fundamental I: do 1° ao 3°ano e Ensino Fundamental II: do 4° ao 6°ano;
- Etapa 2: pra essa etapa foram criados os Ginásios (Gimnazjum): do 7° ao 9°ano.
Os três últimos anos ajudavam na transição dos alunos entre o ensino fundamental e o médio. Os ginásios tornaram-se símbolos da reforma de 1999, que visou melhorar a qualidade da educação na sala de aula, tornar o sistema mais eficiente e aumentar a sua equidade.
Para atingir essa meta, a Polônia fez algumas mudanças na política de educação como, por exemplo:
- autonomia para os professores: desde a abordagem pedagógica até à escolha do material usado passou a ser responsabilidade do professor;
- exames nacionais: testes padronizados e simultâneos foram introduzidos para monitorar o sistema e o nível de aprendizagem; e
- incentivo na formação dos professores: quanto maior o nível de formação do professor, maior o piso salarial para, assim, encorajar professores a apostarem em sua própria formação.
Mas o que muitos se perguntam é: “Se os resultados da Polônia melhoraram consideravelmente e isso elevou a educação do país, por qual motivo a ministra Anna Zalewska quer reverter esse sistema e trazer de volta ao que era antes de 1999?”
Para muitos, a melhoria nos níveis de ensino não estabelecem relação direta com a reforma de 1999 e existem três principais motivos para a volta do sistema anterior:
- promoção da igualdade do sistema educativo: eles alegam que os ginásios estariam intensificando a desigualdade socioeconômica entre as escolas;
- aumento dos anos de formação do Ensino Médio; e
- maior importância para as escolas profissionalizantes, fazendo a ligação da formação ao sistema nacional de qualificações.
E é aqui que os problemas políticos começaram, pois acabar com os ginásios implica em tirar o emprego de no mínimo 40 mil professores até 2019, que podem não conseguir recolocação profissional, além de ir contra aos resultados do PISA.
Os deputados do PiS alegam que os ginásios estavam acabando com a aprendizagem dos alunos e que só serviam para prepará-los para ter bons resultados no PISA e, que por esse motivo, os indicadores são equivocados. Por fim, alegam que o currículo estava desatualizado. Este último ponto tem chamado atenção internacional, pois acusam o governo de querer diminuir horas nas disciplinas de ciências e apostar mais na disciplina de história, com base numa “educação patriótica” e valores políticos do atual governo. Isso acarretaria em fazer com que os alunos voltem a ter no currículo leituras obrigatórias de livros que nossos avós e pais leram, mas que, em grande parte, não se encaixam nos dias e nas necessidades atuais.
Dia 1° de setembro o novo sistema entrou em vigor em toda a Polônia e as mudanças mais significativas foram:
- o Ensino Fundamental voltou a ter 8 anos.
Depois do 8° ano do Ensino Fundamental, as crianças podem escolher as seguintes opções de ensino antes da universidade:
- 4 anos no Ensino Médio de Educação Geral (Liceum Ogólnokształcące);
- 5 anos no Ensino Técnico (Technikum);
- 3 anos de Ensino Profissionalizante I (Branżowa Szkoła I Stopnia), após seu término, pode-se fazer mais 2 anos de Ensino Profissionalizante II (Branżowa Szkoła II Stopnia);
- até 2019 todos os Ginásios serão liquidados.
Nós pais, e mesmo os professores, ainda não sabemos muito bem quais serão as mudanças no currículo escolar, pois esse não foi totalmente definido e nem divulgado. Todos acreditam que esse ano letivo será de ajustes e não terá mudanças significativas.
Agora nos resta torcer para que o novo sistema traga bons resultados e que não seja só uma briga política.
Se você quiser saber um pouquinho mais sobre o sistema de educação e escola, já falamos sobre aqui e aqui. E se você se interessar pelo partido que governa o país, leia aqui.
Avaliação do PISA de 2015.
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