Depois de quase dois anos de expatriada (destes, pouco mais de um ano vivendo na Alemanha e agora há 6 meses na Inglaterra), percebi um comportamento comum nas pessoas que me fizeram concluir o que irei falar neste texto, ou seja, a verdadeira vida de expatriado.
Acredito que se você perguntar para qualquer pessoa que mora fora do Brasil se é fácil, essa pessoa vai dizer que não. Visitar um país é totalmente diferente de viver nele. Pode acontecer de, ao visitar tal lugar, você tenha amado, mas quando você chega para morar, tenha uma experiência desagradável.
E é aí que entra a parte que ninguém te conta, principalmente se essa foi uma escolha sua. Além das suas escolhas, você vai ter que lidar com tudo o que vem na bagagem. Por mais que você esteja contente e feliz de viver nesse novo lugar, por mais que você saiba que não será fácil no começo, essa vida nova vai te tirar da sua zona de conforto e sair dessa posição é algo que dói muito.
Além de passear, conhecer lugares novos e toda a parte legal de morar fora, você vai precisar conquistar o seu espaço nesse novo país. Terá que aprender e se expressar na nova língua, adquirir novos costumes e lidar com pessoas que não entenderão os seus hábitos e resolver problemas, assim como em qualquer outro lugar. E tudo isso em conjunto com um milhão de sentimentos, desde os melhores até os piores.
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Outra coisa que eu aprendi e quase ninguém fala é que cada experiência é individual e nossas escolhas devem ser respeitadas. Falo por mim. Quando eu decidi que ia me mudar da Alemanha para a Inglaterra porque não me adaptei a viver lá, muitas pessoas não entenderam. “Como que você vai ir para Londres? Lá é tão caótico e agora o Reino Unido está saindo da União Europeia! Mas você tem certeza? Munique é uma das melhores cidades para se viver no mundo” e vários comentários do tipo.
Hoje em dia eu me sinto muito mais realizada aqui do que quando eu vivia lá. Claro que existem muitas coisas que eu sinto falta e esse é até um tópico que falarei mais tarde. As pessoas tem o velho hábito de generalizar e assumir que as escolhas e experiências delas valem para todo mundo. E aí isso pode gerar mais frustração. Frustração porque você acaba se baseando nos gostos e experiências alheias, porque você acaba se comparando ao outro brasileiro que chegou no mesmo tempo que você e já está falando bem a língua, porque ele conseguiu um emprego na área dele em X tempo e você não. E então você nem sequer pode reclamar, porque como dizem: “Você mora onde todo mundo gostaria de viver”.
Além desses processos, existe também o de entender que, por mais que você tenha seu espaço, e fale a língua local, você nunca será 100% daquele lugar. E digo mais: se você resolver voltar para o Brasil, você passará por um processo de estar fora da sua zona de conforto novamente.
Exemplo bobo: quando uma pessoa do Rio de Janeiro vai morar em São Paulo, é muito comum acontecer do apelido dessa pessoa em SP ser “carioca”, ou algumas considerações sobre o sotaque serem feitas. Vice e versa acontece também. Por mais que a pessoa se integre, faça amizades, se adapte ao meio, sempre existirá algo nela que o diferencia 100% àquele lugar. Se dentro do próprio país isso acontece, imagina num país diferente!
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Eu mencionei que se você decidir voltar para o Brasil, é provável que você passará por um processo de se sentir fora da zona de conforto novamente. E você me perguntará: “mas como? Se é a minha casa, meus amigos, minha família?”. Só que você mudou, você trouxe para sua vida costumes a que você se adaptou e que portanto, passaram a ser naturais. Então, você chega ao seu país de origem e se choca com essa diferença novamente. É como se a gente coletasse todo o aprendizado, o desenvolvimento pessoal e cultural, e levasse com a gente para sempre. Aí, sempre terá uma parte faltante.
Enfim, a verdade é que todo mundo tem o seu tempo e é preciso compreendê-lo, que tudo bem você imaginar que seria de um jeito e ao final ser de outro, que tudo bem surtar às vezes até entender o quão forte você vem se tornando. Viver fora é entender que a gente não sabe de tudo e que só passando pelas dificuldades é que a gente evolui. É viver em constate evolução. É entender que você nunca mais será o mesmo (e as pessoas irão dizer isso) mas, mais do que isso, é entender que não ser mais o mesmo é bom.
2 Comments
Muito bom texto! Acho que principalmente a parte de voltar pro nosso país. Cada vez que visito o Brasil sinto que não pertenço mais a SP, da mesma forma que sinto que não pertenço a lugar nenhum. Acredito que essa seja a maior característica de um expatriado, depois de abraçar a vida fora você descobre que não pertence a lugar nenhum, apenas à você mesmo!
Exatamente :’)