A minha experiência!
Como o próprio título do texto diz, hoje venho contar como foi a minha experiência de fazer estágio no NHS, sistema público de saúde do Reino Unido. Mas antes de contar como consegui e como foi essa experiência, preciso contar um pouco da minha área e porque escolhi buscar um estágio no NHS.
Bom, para começar eu me formei em fonoaudiologia no Brasil. A fonoaudiologia brasileira é muito diferente da maioria dos outros países, o que é o caso do Reino Unido (RU). Aqui existe o audiologist, que é o profissional responsável por toda a área de audição e equilíbrio do corpo, o speech therapist que é o terapeuta da fala, quem trabalha com a voz é o voice coach e assim vai, tudo subdividido. Para ser audiologista, o diploma brasileiro vale aqui no RU e é a área mais tranquila de validação de certificação comparado as outras áreas da fono, tanto que todas as fonoaudiólogas brasileiras que conheci aqui foram para área da audio e portanto, esta é a área que eu escolhi para me aprofundar também.
Agora que vocês já sabem que sou fonoaudióloga, vou contar como consegui o estágio na área. Eu me mudei para a Inglaterra faz 4 meses e como recém chegada, precisei fazer todas as burocracias que precisam ser feitas quando se muda para um país novo e, nesse meio tempo, eu não podia trabalhar, fora que meu inglês não era tão bom. Sendo assim, tive a ideia de pedir à alguns hospitais públicos para observar os atendimentos de audiologia assim, além de me familiarizar com a área em inglês, praticaria a língua.
Procurei o contato dos responsáveis do departamento de audiologia de cada hospital através do google e enviei um email para cada um. Além disso, uma amiga que também é fonoaudióloga e trabalhava no setor público daqui, me deu inúmeras dicas. Recebi a resposta de um dos hospitais que poderia ir e observar por apenas dois dias. Posteriormente, mantendo contato com o gerente do departamento, ele me deixou ir por mais duas semanas.
Eu fiz o estágio no Guys e no St Thomas Hospitals, localizados na zona central de Londres. A equipe de audiologia destes dois hospitais é composta por umas 15 pessoas e alguns exercem funções diferentes dos outros, dependendo do cargo. Por exemplo, os Seniors Audiologists além de fazerem o diagnóstico e seleção/adaptação de aparelhos auditivos, também realizam exames de equilíbrio. O que eu achei bastante interessante foi a diversidade de nacionalidades em que a equipe é composta, assim pude ter uma noção de como funciona a audiologia em cada país.
Na Africa do Sul, por exemplo, é igual no Brasil e não existe a separação das áreas, ou seja, o audiologista também estuda a parte de terapia da fala e outras áreas da fono. Já na Nova Zelândia, você precisa fazer um curso na área da saúde de três anos e depois mais dois anos se especializando em audiologia. Enfim, varia muito de um país para o outro. Aqui na Inglaterra, o curso de audiologia tem duração de três anos e desde o primeiro ano eles participam de observações em hospitais. Além disso, é um curso pago que, para europeus, custa aproximadamente £9000 por ano atualmente. Para estrangeiros o curso é mais caro.
Meu estágio foi dividido da seguinte forma: das 9h às 17h, todos os dias da semana e cada período do dia eu ficava com um audiologista diferente.
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Falando do atendimento, eu percebi que eles prezam muito pelo entendimento do paciente e qualidade do serviço. Todos se apresentavam, me apresentavam, perguntavam se era tudo bem eu assistir a consulta, explicavam o exame e os procedimentos a serem realizados, certificavam se o sujeito estava entendendo, limpavam os equipamentos usados no exame na frente do paciente, enfim, achei a qualidade impecável.
Agora, falando mais do funcionamento do sistema, o paciente pode ser direcionado para lá através do GP (clínico geral) ou através do otorrinolaringologista. O primeiro passo é o diagnóstico da audição. Se o paciente tiver perda auditiva, uma consulta é reservada apenas para explicar como funciona o aparelho auditivo (se esse for o método de adaptação escolhido pelo médico), como funciona a perda auditiva daquela pessoa, como se sente em relação a usar um aparelho auditivo etc. Se o paciente se sentir confortável com o uso do aparelho auditivo, um molde da orelha é feito na mesma hora para ser enviado para a confecção (somente nos casos de melhores benefícios de amplificação utilizando o molde).
No NHS só é oferecido aparelho do tipo retroauricular, então só é possível utilizar tubo fino ou molde. Em seguida, uma nova consulta é agendada para a adaptação do aparelho na orelha e explicações de como trocar bateria, como saber a hora de trocar a carga, como manter em boas condições, como limpar etc. Também é explicado que se o paciente perder ou danificar o dispositivo, uma taxa de £65, por aparelho, será cobrada. Depois de seis semanas um retorno é agendado para saber como está sendo a adaptação. Após esse retorno, é analisado se a pessoa precisa ser vista mais vezes, e se estiver tudo bem, recomenda-se o retorno uma vez ao ano, pelo menos. As baterias também são oferecidas pelo governo e o paciente pode optar por buscar pessoalmente no hospital ou pedir através do correio.
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A experiência foi extremamente enriquecedora para mim e eu recomendo a todos que estão totalmente perdidos em relação ao que fazer, tentar uma oportunidade como essa. Eu aprendi inúmeros termos em inglês, tanto na área de audiologia quanto na própria língua. Através desse estágio eu conheci muito colegas de profissão e entendi o sistema do NHS, que me encantou muito. Aqui todo mundo tem o direito de ouvir!
Se alguém tiver alguma dúvida que não falei aqui, pode deixar nos comentários que eu esclareço.