Adaptação no exterior e um mix de emoções.
Geralmente, quando vamos passar férias em outro país, ficamos maravilhados. Costumamos pensar: “Nossa, morar aqui deve ser incrível!”, “Imagina poder vir sempre a este restaurante?”, “Poder vir sempre a este parque tão lindo?”. Esses e muitos outros pensamentos semelhantes vêm a nossa mente quando estamos no avião de volta para o Brasil.
Mas, e quando embarcamos somente com a passagem de ida? Com a decisão tomada de arrumarmos nossas coisas e arriscarmos a vida em outro país? Muitos sentimentos, como o medo e a ansiedade, costumam tomar conta de nós. As despedidas dos amigos e familiares são tomadas pela euforia de estarmos indo em busca de um sonho, e podem vir acompanhadas de uma certa culpa e a estranha sensação de não sabermos quando veremos essas pessoas de novo. E elas que geralmente fazem parte de nossa vida diária… Como será que ficará o nosso contato?
A chegada no novo país costuma ser acompanhada de uma série de novas e
importantes preocupações: escolher um lugar para morar, providenciar as documentações,
fazer novos amigos, aprender o idioma, aprender onde encontrar produtos e serviços que
você precisa, como, por exemplo, um médico. Costumo chamar essa fase de sobrevivência.
Durante essa fase, geralmente ficamos tão tomados por conta das descobertas e burocracias, que não damos espaço para percebermos como estamos nos sentindo. As descobertas também vêm com a euforia de conhecer lugares novos, novas pessoas, nova cultura. Às vezes se surpreender o quanto alguns serviços funcionam melhor que no Brasil etc.
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Quando a sobrevivência fica mais garantida, ou seja, você consegue trabalho, um local
para morar, os documentos estão em dia e as eufóricas descobertas já fazem parte do
cotidiano, neste momento você começa a perceber como estão as suas emoções. Você pode começar a sentir falta de quem ficou no Brasil, e muitas vezes esta falta é de nós mesmos.
A cada nova fase da vida, fazemos novas escolhas. Aliás, de acordo com o Existencialismo, abordagem com a qual trabalho, a todo momento fazemos escolhas em nossas vidas,
desde as mais simples às mais complexas. E a cada escolha nos transformamos. Somos um constante vir a ser.
Quando mudamos de país, deixamos nosso trabalho, nossos amigos e nossa família. Nossa maneira de ser pode vir a mudar também, afinal temos que começar tudo do zero,
passo a passo. Novas amizades, novos hábitos, nos adaptarmos a uma nova cultura, adquirimos novas vivências e com isso vamos fazendo novas escolhas. E nos pegamos tristes em alguns momentos e nos culpamos por nos sentirmos assim. Como estou triste, se foi uma decisão que eu pensei sobre e eu quero estar aqui? Será que é normal eu me sentir assim?
A boa notícia é que… é normal sim nos sentirmos triste. Na psicologia, chamamos esse processo de luto. Um luto simbólico. Estamos mudando, revendo alguns de nossos valores, absorvendo uma nova cultura e tentando nos inserir em um novo contexto. Parece simples falando, mas quando vivenciamos é muita coisa!
Por exemplo, às vezes não exercemos a mesma profissão que tínhamos no Brasil e
sentimos falta, também de hábitos e costumes que tínhamos em nossa cidade natal e não temos mais no novo lugar, da falta de convivência com a família e amigos íntimos e também por ainda não termos amigos próximos no novo lugar para podermos dividir assuntos pessoais e contarmos com aquele famoso ombro amigo.
Eu mesma, quando me mudei, me sentia extremamente dependente, pois como eu
não falava inglês, não conseguia fazer coisas básicas, como, por exemplo, agendar um horário por telefone ou até mesmo assistir televisão para passar o tempo. E como no Brasil eu estava muito habituada a resolver as coisas sozinha, me sentir dependente era extremamente angustiante. E levou um certo tempo até aprender mais o idioma e ir me permitindo me comunicar com as pessoas sem sentir tanta vergonha, quando falava algo errado (algo que, sim, ainda acontece, confesso!).
Então, caso você esteja vivendo esse momento agora, se permita se sentir assim. Falo
isso, pois vivemos um momento social em que é nos cobrado ser 100% feliz e grato o tempo inteiro e sentir tristeza parece algo proibido. A tristeza faz parte de nós, precisamos nos permitir a nos sentirmos tristes para enxergar o que não está bom, o que saiu diferente do planejado e pensarmos em alternativas para reverter o quadro, fazermos as pazes conosco mesmo e darmos um novo significado a nossas experiências.
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Veja as possibilidades no lugar em que você está, ou seja, se tem algum curso gratuito
para aprender o idioma ou um grupo de voluntários que ajude nesta questão. Aqui onde
moro, o Community College oferece curso gratuito de inglês para adultos, e o curso é ótimo! Os alunos são de diversos países, então além de entrar em contato com culturas diferentes, temos a oportunidade de praticar ainda mais o inglês.
Como diria Vinícius de Moraes, “o sofrimento é o intervalo entre duas felicidades”.
Espero ter contribuído de alguma forma para a sua reflexões e para este novo
desafio que você esteja vivendo. Esse tem sido o meu processo de adaptação. Agora me
diga, como está sendo este momento para você?