Alguns motivos para não morar nos Estados Unidos.
No post deste mês falarei sobre alguns motivos para não morar nos Estados Unidos. A intenção não é fazer ninguém que esteja pensando em vir para cá desistir, e sim esclarecer algumas informações relevantes que pesam na decisão.
Licença-maternidade
A lei americana protege a gestante, porém, está muito aquém do mínimo que nós, brasileiros, consideramos justo. No estado de Nova Iorque, por exemplo, desde janeiro de 2018 existe uma nova lei para licença-maternidade. Esta nova lei dá direito a até 12 semanas de licença-maternidade, sendo 6 semanas com salário parcial e 6 sem remuneração. Ou seja, são 3 meses de licença com corte salarial. O valor do corte no salário varia de acordo com o empregador e deve ser negociado antes. Normalmente, os cortes são de 50% do salário. Por exemplo, se o salário de uma profissional é de $1.305,00 (mil trezentos e cinco dólares), durante a licença-maternidade será de apenas $652,00 (seiscentos e cinquenta e dois dólares). Empresas grandes, como o Google, apoiam a licença prolongada com até 18 semanas que inclui o pai e a mãe, mas vale lembrar que o salário terá cortes durante o período. É preciso ter pelo menos um ano de trabalho para ter direito à licença-maternidade.
Também é possível usar dias de folga ou ausência por doença que todo funcionário tem direito para aumentar a licença-maternidade. Esse período extra varia entre alguns dias e até um mês, mas também não é remunerado. No final das contas, é preciso escolher entre deixar um bebê recém-nascido na creche aos 3 meses para voltar ao trabalho ou esperar até o bebê chegar aos quatro ou cinco meses, contudo, sem salário. Além disso, a mensalidade da creche varia entre $700 e $1.500 (setecentos e mil e quinhentos dólares por mês) de acordo com a cidade e o número de dias por semana que o bebê ficará na creche. Para completar, a funcionária corre o risco de ser demitida durante a licença-maternidade ou quando comunicar a gravidez ao empregador. Por isso, minha amiga, faça uma poupança antes de conversar com a cegonha!
Leia também: Desigualdade salarial e licença maternidade
Férias, atestado médico e décimo terceiro salário
Diferente do Brasil, não existe lei que assegure férias remuneradas nos Estados Unidos. Funciona assim: o profissional é pago pela produtividade. Recebemos de acordo com as horas trabalhadas. Logo, se não produz, não tem salário, certo? Os professores, por exemplo, não recebem salário durante as férias escolares porque o contrato de trabalho normalmente é para 10 meses. Os profissionais que têm contrato de trabalho de 12 meses trabalham o ano inteiro, porém, sem férias pré-estabelecidas.
Temos a opção de férias não remuneradas que são negociadas com o empregador. Em geral, é possível tirar 10 dias de férias não remuneradas após 1 ano de trabalho. Também é possível fazer horas extras para compensar a ausência nas férias e manter o salário intacto. Por exemplo, se normalmente o profissional trabalha 20 horas semanais, passa a fazer 40 horas por um período para cobrir o tempo que ficará ausente durante as férias para receber o salário normalmente. Essa adaptação com as horas extras é a que mais vejo por aqui. Além, é claro, da opção de férias não remuneradas.
O salário também fica comprometido durante o uso de atestado médico. Algumas profissões, como a de professor, tem um número máximo de abstenções por ano – que varia entre 3 e 10. Qualquer número acima disso é descontado do salário. Além do mais, não existe décimo terceiro salário nos EUA.
Leia também: Cinco motivos para não morar nos EUA
Plano de saúde
Não existe um sistema único de saúde nos EUA, ou seja, é preciso pagar plano de saúde para tudo! Os preços dos planos de saúde variam de acordo com a cobertura de serviços, a cidade e estado onde a pessoa mora, número de pessoas que serão incluídas no plano e condições de saúde como, por exemplo, diabetes, hipertensão e doença cardíaca.
Geralmente, a mensalidade varia entre $100 e 1.000 dólares (cem e mil dólares) por pessoa. Além da mensalidade existe uma coparticipação com pagamento à vista chamado de co-pay out of pocket. Existe um pagamento para cada consulta médica, visita à emergência ou exame. O valor deste pagamento varia de acordo com o tipo de plano de saúde, a especialidade médica, o local onde a consulta foi realizada, tipo de tratamento ou cuidado. O estado e a cidade também influenciam muito no preço dessa coparticipação. Quanto mais básico for o plano de saúde, maior será o valor da coparticipação de cada consulta médica e exame.
A melhor opção é ter o plano de saúde vinculado ao trabalho, pois os valores para pagamento da mensalidade são menores e a cobertura costuma ser melhor. Detalhe: dentista e oftalmologista não estão incluídos na maioria dos planos de saúde. É preciso pagar por um plano dentário e um oftalmológico à parte. A coparticipação para dentistas e oftalmologistas costumam ser bem caros.
Leia também: Visto para morar nos Estados Unidos
Pessoas que não têm condições financeiras para arcar com o plano de saúde, podem utilizar o Medicaid e Medicare. Estes programas são uma ajuda do governo para reduzir os custos do plano de saúde. É preciso passar por um processo de avaliação que determina se a pessoa está apta para receber esse benefício. De forma geral, o Medicare está disponível para pessoas acima de 65 anos, enquanto o Medicaid, está disponível para pessoas de baixa renda de qualquer idade.
Decisão final
A decisão de morar nos Estados Unidos deve ser bem planejada. Para fins trabalhistas, uma boa negociação no momento da contratação evita dores de cabeça. Como mencionei no início deste texto, a intenção não é fazer ninguém desistir, mas alertar para que venha preparado. Até porque, se fosse ruim, ninguém viria não é mesmo? Mas se fosse perfeito, ninguém decidiria ir embora também. A decisão final é extremamente pessoal. Os motivos apresentados aqui podem ser banais para uns e fortes para outros. Então fica a dica para ajudar a decidir e planejar o que funciona melhor para você e sua família.