Amizades na Polônia.
Quando mudamos para um novo país, fazer novos amigos ajuda muito no processo de adaptação, e foi exatamente o que eu fiz. Como já tinha comentado em um texto anterior, uma das formas foi usar a mídia social, a internet, e me conectar com brasileiros ou amigos de amigos (não necessariamente brasileiros na cidade).
Depois de morar mais de uma década em Londres e ter acostumado com a oportunidade de ter amigos de outros países, pensei que isso não aconteceria na Polônia, mas, felizmente, estava errada. Uma das minhas descobertas assim que mudei foi o Language Cafe, um encontro quinzenal aberto ao público em geral para a prática de idiomas, isso mesmo, qualquer idioma, só é necessário ter pelo menos uma outra pessoa que fale ou esteja aprendendo a língua que pretende praticar.
Mais do que um espaço para praticar idiomas, o Language Cafe é um local ideal para se socializar. Foi neste espaço que conheci uma polonesa, que atualmente vive em Portugal, com a qual converso somente em português. Também conheci um mexicano, que teve a oportunidade de morar no Brasil e está trabalhando e morando em Białystok no momento. Os dois são meus amigos e passamos a nos encontrar em outras situações.
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Neste encontro, o inglês é o idioma predominante, a mesa costuma ser a mais movimentada e muitos dos participantes aproveitam a oportunidade para praticarem inglês comigo.
Também foi em um destes encontros que ouvi pela primeira vez uma conversa em esperanto, língua artificial criada por um oftalmologista, Ludwik Zamenhof, de Białystok (este será o tema de um outro texto) – tem até um museu dedicado ao idioma. O Language Cafe é organizado pelo grupo de esperanto da cidade.
Caso pretenda conversar em um idioma que ainda não domina, é aconselhável levar um dicionário, caderno de anotações ou qualquer outro material que possa auxiliá-lo neste aprendizado. O encontro é bem informal e começa às 18 horas em um bar no centro da cidade, o Fama Café.
Em cada mesa tem um cartaz com o nome do idioma e geralmente tem uma pessoa que “cuida da mesa”. Os idiomas mais populares são inglês, russo, espanhol e alemão. Portanto, se você acabou de mudar para uma cidade nova, procure este tipo de atividade, caso não tenha, talvez seja a oportunidade de criar um.
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Outra forma que fiz amigos internacionais na Polônia foi por meio do intercâmbio voluntário Aisec. Aos estudantes voluntários que estavam em Białystok e precisavam de um lugar para ficar, eu disponibilizava a minha casa gratuitamente por uma semana ou apenas alguns dias. Hospedei pessoas da Georgia, Iraque e Quirquistão.
As amizades com estrangeiros são importantes para trocar experiências, mas, claro, quando estamos morando em outro país, temos que aproveitar para nos relacionar com os locais, sendo enriquecedor para o aprendizado do idioma e da cultura. As minhas amizades polonesas também são muito preciosas, e alguns amigos dividiram seus amigos, uma demonstração de carinho e suporte.
Uma das minhas amigas polonesas, conheci em um casamento. Ela anotou o telefone e me entregou, dizendo: “Eu sou de outra cidade e sei como é difícil mudar para outro lugar. Quando precisar de companhia, é só me ligar.” Fiquei surpresa pela demonstração de carinho de uma pessoa que eu mal conhecia.
Mas como é fazer amizade com um estrangeiro? Conhecer a cultura e respeitar facilita o laço de amizade. No caso dos poloneses, geralmente são mais diretos do que os brasileiros, sinto que eles são muito sinceros, quando são seus amigos, cuidam realmente de você. Caso não vão com a sua cara, não farão esforço para tentar ter amizade, o que vejo como algo positivo. Outro fator que ajuda é ter coisas em comum, ou a forma de ver o mundo ou o trabalho ou qualquer outro assunto que dividimos a mesma opinião.
Desde quando saí do Brasil, as minhas amizades deixaram de ter nacionalidade, pouco me importa a origem e religião da pessoa, se sinto que temos algo em comum, ou mesmo que não tenhamos mas possamos aprender um com o outro, a pessoa se torna minha amiga. Sou “facinha” neste sentido!
Quando sinto falto do Brasil na Polônia, tento recorrer ao simpático grupo das Brasileiras em Varsóvia – duas das participantes são colaboradoras do Brasileiras pelo Mundo, a Vivian Kulpa e a Gizelli Gliwic –, e aqui agradeço por estarem sempre de braços abertos quando preciso. Entre outras pessoas que também ajudam no processo de matar a saudade do meu país, estão os brasileiros de Bialystok e outros queridos amigos. O Renato, por exemplo, também trocou Londres pela Polônia, e assim que mudei para cá, fiquei dois dias hospedada na casa dele, onde recebi muitas dicas de como procurar emprego e sobre as diferenças culturais. Foi um início muito importante para mim.
Assim como eu fiz, espero que independente do país que você resolver morar, que você desbrave, que encontre a sua forma de interagir com outras pessoas, de achar o seu modo de combater a solidão e a saudade. Elas existem e às vezes entram sem bater na porta, mas com pessoas ao seu lado, este processo é menos doloroso.