Futebol é paixão nacional na Polônia.
A Copa do Mundo deste ano acontece na Rússia, aqui do lado. A Polônia estreia no dia 19 de junho, em Moscou, contra o Senegal, e entrará em campo com um brasileiro no time, o zagueiro curitibano Thiago Cionek. De origem polonesa, ele defenderá o time do país dos seus antepassados. Cionek mudou para a Polônia em 2008, e a primeira equipe em que jogou foi a Jagiellonia Białystok, o time da minha mais nova cidade. E será sobre esta relação do Jagiellonia com o Brasil que vou falar.
Antes de mudar para Białystok, cidade localizada no nordeste do país, entrei no grupo Brasileiras na Polônia do Facebook e perguntei quem morava por lá. Nathalya se manifestou. Nos encontramos e iniciamos uma amizade. Ela mudou para a Białystok por causa do marido Gutieri Tomelin, zagueiro do Jagiellonia, e foi assim que comecei a aprender sobre o futebol na Polônia.
Um dia, Nathalya me convidou para ir a um jogo do Jaga (forma carinhosa pelo qual o time é chamado), eu já tinha assistido dois jogos em estádios quando morei na Inglaterra, nunca fui a um campo de futebol no Brasil e aquele era o meu primeiro jogo na Polônia. Naquele dia, o meu post no Facebook foi: “Aprendendo o jeito polonês de viver”. Acredito ter escolhido a frase certa.
Nos dias de jogos, a cidade fica linda, tem bandeiras do time espalhadas pelas principais ruas e avenidas. Em geral, tudo é muito organizado, pessoas se movimentam em direção ao estádio – a maioria carrega o tradicional cachecol amarelo e vermelho do time –, geralmente na maior tranquilidade.
Caso aconteça de o time adversário causar qualquer problema em jogos anteriores ou antes da partida, a torcida deles é proibida de entrar no estádio. Nos dias que a disputa é com torcidas com histórico de agressividade e de maior rivalidade entre os times, o policiamento é reforçado e muitas vezes com cachorros e cavalaria, lembra a tropa de choque no Brasil.
Tem muitas famílias que vão assistir aos jogos. Isso mesmo, famílias. Pai, mãe e crianças, sem contar aqueles fãs que não perdem uma partida. O estádio não apresenta perigo para os pequeninos, e muitos acompanham os pais nos jogos com a mesma paixão de um torcedor adulto. Aprendem desde cedo.
Tem um dos lados do estádio destinado para a torcida “organizada”, claro que qualquer pessoa pode ficar lá tranquilamente, a única regra é cantar e torcer durante toda a partida. Tem um cartaz nesta parte do estádio que diz: “Se não for pra vibrar, procurar outro lugar pra sentar.” Achei o máximo!
Gutieri Tomelin, um dos jogadores brasileiros do Jagiellonia, diz que uma das diferenças que vê entre os times do Brasil e da Polônia é a torcida. O zagueiro conta que por aqui os torcedores ajudam o trabalho dos jogadores, se por algum motivo o time não teve uma boa performance, eles continuam respeitando-os. Tomelin lembra que no Brasil, caso o time que jogava perdesse, ele evitava sair de casa porque poderia ser agredido por um torcedor. Também destaca que os torcedores do Jaga são apaixonados pelo time, um relacionamento de amor e respeito. “Até mesmo quando está frio, temperatura negativa, o pessoal vai assistir aos jogos.”
Fundado em 1920, o Jagiellonia é uma das referências da cidade, e muitos brasileiros iniciaram a carreira profissional por lá, como Hermes Neves Soares, Bruno Coutinho Martins e Rodnei Francisco de Lima, assim como Tomelin e Cionek. Atualmente, Tomelin e Guilherme são os brazucas que vestem a camisa do Jaga, ao lado de jogadores poloneses e de outras nacionalidades.
Embora a Polônia não tenha ganhado nenhuma Copa do Mundo, o futebol faz parte do dia a dia de grande parte dos poloneses. A estrela do time para os jogos na Rússia é o atacante Robert Lewandowski, seu rosto está estampado em várias propagandas pelo país, ele é o craque do momento. Lewandowski ajudou a Polônia a chegar às quartas de final da Europa e também na classificação para a Copa deste ano.
Porém, nem tudo é um mar de rosas quando a bola rola em campo. O futebol polonês também tem histórico de violência. A intolerância à outras etnias, principalmente aos muçulmanos, propagadas por políticos, aumenta o racismo e xenofobia na sociedade, os quais se estendem ao futebol. O racismo no futebol não é uma enfermidade somente na Polônia, infelizmente este mal também está presente em outros campos, inclusive no Brasil.
O problema é que os grupos de extrema direita e nacionalistas também estão envolvidos com o futebol. Para ajudar no combate deste mal social, a Union of European Football Association (UEFA) segue a punição tolerância zero para os casos de racismo nos campos e nas arquibancadas. Ainda bem! Mas ainda é preciso ser feito muito mais. Acredito que campanhas de conscientização possam ajudar neste trabalho, para eliminar o preconceito, pelo menos das futuras gerações.
A paixão pelo futebol tem a responsabilidade de aproximar as pessoas, esta deve ser uma das finalidades do esporte mais popular do mundo. Para os brasileiros que vivem na Polônia, o futebol ajuda neste encontro. Os polacos têm orgulho de terem jogadores brasileiros defendendo os times daqui. Talvez este gosto pelo futebol aumente ainda mais a cordialidade do polonês com o brasileiro.
Enquanto estiver por aqui, ficarei muito feliz em ver ainda mais conterrâneos brilhando nos gramados poloneses, e as cores da minha bandeira terá dias que serão verde-amarela e outras branca e vermelha e/ou amarela e vermelha. E tem dias que terá todas elas juntas. Que o futebol nos una. Confissões da mais nova torcedora do Jaga.
4 Comments
Parabéns, Simone, seja bem-vinda novamente ao BPM e à Polska.
Buzi,
Vivian
Obrigada pelo apoio Vivian! beijos
Muuito legal Sisii!! Parabéns pelo texto e pelas observações :)) beeijos!
Oi, Guti! Agradeço pela entrevista (ajudou muito!) e, claro, pela amizade.
beijos