Troquei Londres pela Polônia!
A primeira vez que vim à Polônia foi em 2005. Desde então, as vindas a este pedaço do leste europeu se tornaram regulares. Mas quando perguntava ao meu marido se ele tinha intenção de um dia voltar a morar na sua cidade natal, Białystok, a resposta costumava ser não.
Até que Londres passou a sufocar um pouco. Depois de uma década morando em uma das capitais mais cobiçadas no mundo, sentimos que estava na hora de sair dali e reiniciar a nossa vida em outro lugar. No início, a ideia era morar no Brasil, sentia a necessidade de estar perto da minha família e de ter mais dias de sol, porém, a situação política e econômica fez com que os nossos planos mudassem. Infelizmente, a segurança era outro problema que me assustava em voltar a viver no meu país.
Diante desse clima nada favorável no Brasil, resolvemos que era hora de buscarmos outro destino. Eu pesquisava Portugal – clima, idioma e qualidade de vida eram as minhas prioridades –, mas ele pensava em viver no Canadá, até que o meu cunhado comentou sobre uma vaga de emprego na empresa na qual trabalha. Diante da possibilidade, a minha sugestão foi, podemos tentar, se não der certo, voltamos ou iremos a outro lugar. A decisão foi tomada. Viemos. Embora nunca termos planejados viver na Polônia, depois de morar 14 anos em Londres, meu marido estava de volta à Białystok.
No início, cheguei muito positiva e, apesar das dificuldades, esta era a minha segunda experiência morando em outro país, o que acredito ter ajudado. Apesar do polonês ser um idioma muito difícil, o inglês me salvou e me ajudou a encontrar trabalho e fazer novos amigos – embora eu tenha mantido o meus atendimentos como consultora de imigração online no Reino Unido. Porém, queria trabalhar com poloneses, então, comecei a trabalhar como professora de inglês.
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Formada em magistério, dar aula já tinha feito parte do meu passado. Então, para dar uma atualizada, fiz alguns cursos online de EFL para não chegar totalmente crua. Claro que a verdadeira experiência é na sala de aula e neste caso tive que aprender mesmo na prática. A diretora da escola observou a minha primeira aula, eu estava nervosa, era tudo novo, mas consegui! Mais uma profissão passou a fazer parte da minha vida e, surpreendentemente, passei a gostar do meu mais novo desafio. Adoro pessoas, ensinar e aprender, passei a me sentir cada vez mais a vontade na sala de aula.
No entanto, senti que a maioria das pessoas não tentam se relacionar com você fora do ambiente profissional – pelo menos foi a minha impressão. São poucos os casos, mas acontece, senti que colegas de trabalho que moraram fora costumam ser mais cordiais a este respeito. Achei estranho no início, principalmente pelo fato do meu marido viajar muito na época e eu ter ficado muito tempo sozinha. Sorte que não é todo mundo assim e consegui fazer muitos amigos por aqui.
Ainda me considero em fase de adaptação, principalmente pelo fato de não falar polonês. Quando as pessoas questionam porque deixei Londres e Brasil para vir para cá, tento explicar, mas vejo uma incógnita na cabeça deles, do tipo: ela não sabe o quê está fazendo. O Brasil é parte de mim, por onde eu for ele vai junto. Eu vou me readaptando por onde passo, vou me modelando, mas o meu lado verde-amarelo está sempre aqui. Procuro sempre saber se tem brasileiros na área, os procuro, tento me relacionar com eles. Também trago um pouco do Brasil ao cozinhar algo brasileiro para os meus amigos ou familiares polacos, ao colocar uma música em português, ao falar do meu país, ao exibir fotos do meu lugar.
Quanto à Londres, esta é outra eterna paixão, carrego comigo também. É como se eu tivesse sido adotada, quando volto à Londres, me sinto totalmente em casa. É aquele tipo de relacionamento em que posso abrir a geladeira sem pedir licença, onde sei onde ficam as coisas da casa e o lugar que entendo como tudo funciona. Nas minhas aulas, às vezes me pego explicando como é viver no Reino Unido. Quero que eles sintam o gosto cultural, a importância de entender a cultura para aprender melhor o idioma.
Se sinto saudades? Às vezes, dos dois, mas ainda estou curtindo este novo momento, estou me estabilizando no meu novo ninho. Reaprendendo a andar, com este idioma dificílimo. Vivo com mais tranquilidade. Ando ou pedalo para ir ao trabalho. Em 15 minutos de caminhada estou em quase todos os bares da cidade. Sinto que estou vivendo com menos pressa. Por enquanto, prefiro aproveitar esta minha nova jornada e curtir cada experiência que cruze o meu caminho. Ser brasileira e ter tido a chance de morar em Londres é um grande presente. Estar vivendo em um lugar completamente diferentes destes dois, é muito enriquecedor.
1 Comment
Que máximo ler um pedacinho da sua história! Eu também sou casada com um polonês a 12 anos. Moramos em Londres. Me identifiquei em varias coisas que vc escreveu, estou me sentindo perdida, não quero mais morar aqui mas não sei se a Polônia seria uma opção para nós. Bom saber que vc está gostando. Um abraço!