O Esperanto foi a esperança de um mundo melhor.
Ĉu vi konas iun, kiu parolas Esperanton? – Você conhece alguém que fale Esperanto? Eu conheço e foi mágica a experiência de ouvir pela primeira vez uma conversa neste idioma artificial, criado aqui na minha mais nova cidade, Bialystok, na Polônia. Pessoalmente, o som do esperanto é leve, agradável.
O médico oftalmologista Lázaro Luís Zamerhof (em polonês: Ludwik Łazarz Zamenhof), de família judaica, resolveu criar um idioma que fosse fácil de aprender e que fosse usado como uma segunda língua internacional, sem a intenção de substituir nenhuma língua materna. Ele acreditava que se as pessoas conseguissem se comunicar, muitos dos problemas entre diferentes nações seriam resolvidos.
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Quando criança, Zamerhof vivia em uma Bialystok multicultural e não conseguia entender porque em casa ele aprendia que todas as pessoas são irmãs, mas nas ruas de sua cidade, russos, poloneses, alemães e judeus, brigavam constantemente. Para ele, ainda criança, o motivo era por não conseguirem se comunicar, a falta de um idioma em comum causava desentendimentos, foi assim que surgiu a ideia de criar uma forma de comunicação para destruir este mal e trazer a paz entre os diferentes povos.
Criado em 1887, o Esperanto como idioma franco é considerado muito fácil de aprender, com regras simples de gramática e totalmente fonético. O alfabeto é praticamente o do latim e o idioma é resultado de um profundo estudo de diferentes idiomas, como italiano, francês, inglês, alemão e iídiche.
Se o idioma é fácil de aprender, por que o Esperanto não se tornou uma língua internacional? Bom, encontrei vários argumentos para justificar o fato desta língua franca não ter sucedido. Em uma das minhas aulas de inglês, o tema era Esperanto, e quando fiz esta pergunta aos meus alunos, a maioria explicou que é uma língua sem cultura, não é um idioma oficial, não é natural e por isso não deu certo. Embora todos tivessem nascido em Bialystok, nenhum demostrou interesse em aprender o idioma. Porém, o que poucos sabem é que a língua quase se tornou oficial no autônomo território de Moresnet Neutro, que existiu entre 1816 a 1919, onde atualmente estão localizadas a Bélgica e a Alemanha. Poucos sabem também que o Esperanto é considerado língua nativa quando os pais ensinam os filhos desde de crianças, de forma que a criança cresce falando esperanto como língua materna.
O fato de Zamerhof ser de uma família judaica, obviamente, não agradava aos nazistas. Infelizmente, muitos esperantistas foram mortos no Holocausto, incluindo a família do seu criador. Hitler já tinha deixado claro que os judeus usavam o Esperanto para dominar o mundo e que todos os familiares de Zamerhof deveriam ser detidos. Uma das vítimas do Holocausto foi a caçula de Lázaro, Lidia Zamerhoof, escritora e quem dedicou a sua vida a divulgar o Esperanto e seus princípios humanitários. Este também foi um dos motivos que fez com que o idioma quase desaparecesse mas, por sorte, sobreviveu, apesar de muito mais fragilizado.
Outro fator pelo qual o Esperanto não deu certo foi o imperialismo cultural dos países que falam inglês. Este imperialismo cultural e de imposição de um idioma como língua cultural também fez com que a ideia do Esperanto quase desaparecesse.
De acordo com as informações do site Esperanto Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas falam Esperanto em 115 países. Com o avanço da internet e das mídias sociais, o número de pessoas que falam Esperanto só vem aumentando, já que facilitou a comunicação entre os esperantistas.
Esperanto em Bialystok
O nome Esperanto é muito presente na cidade. No centro de Bialystok tem um agradável restaurante/cafe com o nome Esperanto. Também temos o Hotel Esperanto, o museu do Esperanto, chamado de Centro de Cultura Ludwik Zamenhof e a Associação dos esperantistas de Bialystok, organizado pelo mesmo grupo que promove o Language Cafe, o qual eu citei no meu último texto. Na praça entre as ruas Malmeda e Bialowny tem uma estátua de Zamenhof.
Para conhecer mais sobre o idioma, no museu tem uma exposição permanente que retrata a história de Zamenhof e como era a cidade nos tempos em que ele era jovem. No centro de Bialystok, a rua Ludwika Zamenhofa 26 (antiga Zielona Street), tem um grafite com a imagem do criador do idioma, exatamente no local onde o esperantista morava com a família. A casa não existe mais, tem um prédio residencial no local, mas uma foto da antiga casa retrata como era o local que Zamenhof vivia. Uma das formas de conhecer mais sobre o Esperanto em Bialystok é fazer o Trail Judeu, que leva a história dos judeus na cidade e consequentemente a tudo relacionado ao Esperanto.
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Existem vários cursos para aprender Esperanto de graça e online. Até o aplicativo de idiomas, Duolingo, disponibiliza um curso de Esperanto. Sem contar os grupos das redes sociais, que facilitam a comunicação e a interação dos esperantistas espalhados pelo mundo.
Infelizmente, ainda não falo esperanto. Mas sem dúvida está na minha lista. A ideia de um idioma neutro, o qual foi criado com o principal objetivo de facilitar a comunicação entre as pessoas e evitar conflitos, já é um bom motivo para ajudar a manter esta ideia ativa.
Em um momento onde conflitos devidos às diferenças ressurgem, onde as pessoas começam a ficar umas contra as outras, mesmo falando a mesma língua, neste período tão sombrio que muitas nações estão vivendo, onde políticos e organizações fascistas ganham cada vez mais adeptos, temos que conhecer mais histórias como a do Zamenhof, e lutar para que erros do passados não se repitam.