Todo 14 de Fevereiro é celebrado em grande parte do mundo, o Dia dos Namorados. Conhecido como “Valentine’s Day”, (dia de São Valentim). A data é dedicada à entrega de presentinhos não apenas ao “significant other”. A comemoração se estende também aos amigos e pessoas que temos carinho e desejamos expressar o nosso amor: filhos, irmãos e na verdade quem você quiser, pode entrar na “festa”.
No Brasil comemoramos o dia dos namorados em 12 de Junho. E a nossa data se direciona apenas aos apaixonados. Logo em seguida, no dia 13 de Junho é Dia de Santo Antônio, e segundo a tradição, é o dia para quem ainda não encontrou o seu par, fazer suas promessas ao Santo Casamenteiro.
Para todo casal que se ama, chega uma hora em que os planos de viver uma vida juntos são inevitáveis. E eu sempre fui muito curiosa pra saber como é essa história de namoro e casamento aqui nas Arábias. Hoje vou dividir com vocês o que já ouvi por aqui.
No Oriente Médio, a maioria dos casamentos são “arranjados”. Isso quer dizer que, os pais tem a responsabilidade de escolher o futuro genro ou nora. No início eu achava “de outro planeta”, não poder escolher com quem você vai se casar. Mas tudo passa a fazer sentido quando comecei a entender a cultura local.
Para muitas sociedades (por exemplo para os árabes, indianos…), o casamento é uma união de famílias e interesses (quase um “negócio”). E essa união precisa ser muito bem planejada, afinal um novo membro (a) será adicionado à família (e com ele todos os “agregados” – benefícios e problemas acompanham).
A idéia do casamento arranjado é escolher o/a melhor pretendente de acordo com os critérios particulares de cada família, que podem ser: beleza, saúde, bens materiais, nível de escolaridade, determinado status na sociedade ou grupo que fazem parte, ou simplesmente afinidade entre as famílias. Assim os interesses das duas famílias se encontram, e todos vivem felizes para sempre. Mas e o amor? Ah, o amor para eles vem depois, com o tempo e a convivência. Bom, pelo menos é assim que eles pensam.
Algumas pessoas já são “prometidas” desde o nascimento, quando seus pais já se comprometem com a outra família para o casamento arranjado. As crianças já crescem sabendo que vão casar com fulano de tal, que talvez já conheça ou que talvez nunca tenha visto na vida. Mas e o namoro? Hum… namoro, não tem. Nada de beijinhos, viagens juntos no final de semana, fazer um “test drive”morando junto… amassos no carro então, nem pensar. A virgindade da moça é motivo de orgulho e muita honra para toda a família, tudo isso faz parte do “negócio”.
Para aqueles que ainda não são comprometidos, os pais precisam fazer a escolha. Quando a moça ou o rapaz chegam a uma certa idade, a família começa sua busca, divulgando com seu círculo de amigos e conhecidos que está na hora da filha/filho casar. As famílias então se reúnem, discutem, decidem, e chegada a hora, algumas famílias permitem que o noivo e noiva se encontrem antes do grande dia – apenas para se verem e trocarem algumas palavras. Em outros casos, os noivos só se veem mesmo no dia do casamento. Imagina a cena: você não conhece a pessoa com quem vai se casar e formar uma família: sabe lá se tem chulé, ronca ou tem mal hálito? Não importa. Vão casar e passar o resto da vida juntos.
Conversei uma vez com uma Saudita sobre esse assunto. Ela, engenheira bem sucedida, prestes a começar o seu PHD, 31 anos, solteira. Ter 31 anos nessa região, e ser solteira, você já é considerada velha. As meninas por aqui costumam a casar bem novinhas, entre os 15 e 23 anos. Claro que existem aqueles casos extremos em que as meninas (crianças), se casam aos 10-12 anos. Mas infelizmente também temos no Brasil casos de meninas que nessa idade já estão grávidas por livre e espontânea vontade.
Eu e essa Saudita estávamos numa situação muito confortável para falar sobre o assunto, eu vi ali uma oportunidade para tirar todas as minhas dúvidas.
Perguntei à ela porque ainda não era casada. Ela me contou que já tinha “noivado” 3 vezes (isso quer dizer, chegou a conversar com 3 pretendentes que a família tinha escolhido), mas que não quis casar com eles pois o “perfil” dos rapazes não agradou. Moderninha ela, né? Pois é, aos poucos as tradições vão mudando, e no caso dela, a família já dá uma certa “liberdade” de escolha. Ela me contou que a mãe costuma a apresentar ela assim: “Olá, essa é fulana minha filha, futura PHD e solteira”. Ela não quer se casar com qualquer um, tem suas escolhas que tem sido respeitadas.
Bom, o tema gera muito pano pra manga, mas a verdade é que vejo sim famílias com o casamento arranjado e felizes por aqui. Ainda não consigo entender de onde brota esse amor e carinho, mas por incrível que pareça, ele existe.
Sendo você casada, tico-tico no fubá, fazendo “test drive”, enrolada ou solteira, desejo que o seu Valentine’s Day seja muito feliz ao lado de quem te faz sorrir, seja ele/ela um amor que você escolheu, um amor “arranjado” ou um amigo/a.
Happy Valentine’s day!
12 Comments
Adorei Carla, adoro seu jeito de escrever e sua espontaneidade! bjus linda! Conta pra gente depois o segredo rsrsrsrsrrsrrs
hahahaha… ainda não te conheço pessoalmente Ana, mas já vi que és um doce de pessoa. Muito Obrigada 🙂
Oi Carla! Acho que tudo é uma questão de respeito… Respeito pela pessoa e por culturas distintas. Vivo nas Filipinas e muitas coisas que acontecem por aqui me deixavam revoltada. Até que entendi que estava julgando. Vejo muitos casais de ocidentais mais velhos e filipinas novas, e, no começo, achava aquilo um golpe do baú. A verdade é que elas cuidam desses caras de uma forma que nenhuma outra mulher cuidaria. Da mesma forma como já ouvi relatos de mulheres que eram mal tratadas porque o homem a considerava posse. Acho todo o tema de relacionamento complicado e, no fim, cada um sabe onde o sapato aperta, não é mesmo?
Adoro conhecer mais sobre a Arábia e suas 1001 noites! Hehe
Oi Tati, é bem isso mesmo que você falou. Concordo 100%. Julgar é sempre o natural e mais fácil, mas precisamos mesmo é entender a cultura e o que está por trás. Um beijo grande 🙂
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oi Carla, que experiência diferente. Que bom que é possível ter carinho num relacionamento arranjado. Só queria falar que aqui no Brasil nem sempre as meninas adolescentes engravidam por quer. Muitas vezes eles nem são educadas corretamente sobre métodos contraceptivos ou são abusadas e estrupadas pelos familiares ou alguém próximo ( e esta violência é silenciada muitas vezes ). fora que se proteger contra gravidez tb é trabalho dos meninos. Temos que modernizar a cabeça e sociedade não só da Arabia Saudita mas do Brasil tb.
Assim, todas as mulheres agradecem.
bjss e aproveita sua viagem
Concordo 100% com você Verônica. Muito obrigada por deixar o seu valioso comentário. Um grande abraço 🙂
Oi Carla, muito legal sua matéria! Também tenho tido essa experiência e, entendo bem o que você quer dizer…Bj grande.
Oi Michelle, Fico feliz que tenha gostado do texto. Obrigada por deixar aqui a sua participação. Outro beijo grande pra você 🙂
Muito interessante. Estou amando seus posts sobre Arábia Saudita.
Conheci um árabe e converso com ele todos os dias. Mas ele nunca demonstrou tantas diferenças. Ele me parecia um homem normal como qualquer ocidental. Mas do nada fiquei curiosa e fui pesquisar as tradições desse País. Estou impressionada com tantas diferenças… Já cheguei a planejar em visitar ele, mas eu acho que não vai ser nada fácil.
Ele tem 27 anos, diz ele que não é casado. Mas por ser um país tão tradicional, tenho dúvidas. Com quantos anos os homens costumam se casar? Rsrsrs
Se um dia eu visitar Arábia Saudita, terei que comprar o meu pretinho básico no aeroporto? Rs
Artigo muito bem escrito, me fez entender um pouco mais sobre essa cultura milenar.
Que bom que os tempos na arabia saudita para as mulheres estao mudando.
Abracos Carla
Oi Wanderson, obrigada pelo seu comentário aqui. Um grande abraço