O primeiro casamento tipicamente árabe a gente nunca esquece. Há tantos anos no Oriente Médio, ainda não tinha tido a oportunidade de ir a um casamento tipicamente árabe. Só que o inesperado aconteceu no mês passado.
Meu esposo me ligou surpreso, pois tinha acabado de receber um convite de um colega de trabalho para seu casamento. Eu fiquei super eufórica, já imaginando com que roupa eu ia, como seria e etc. – coisas que só as mulheres pensam, né? Daí meu esposo me corta logo e diz: “Carla, você esqueceu que aqui as coisas são diferentes?”
Como já mencionei em artigos anteriores por aqui e lá no CariocaTravelando.com, no mundo árabe a maioria esmagadora dos matrimônios são arranjados pela família dos noivos. Sabe aquele vizinho que sua mãe acha um bom partido? Aqui as mães, vão atrás dele com unhas e dentes para negociar o “futuro” da prole. Uma vasta maioria somente conhece o seu futuro companheiro/a no dia do casamento mesmo, com raras exceções.
Uma curiosidade é que no convite, enviado por e-mail, não tinha o endereço, rua, número e etc. Não tinha nem mesmo o horário (a tradição diz que a cerimônia aconteceria depois da última oração do dia – Isha, que varia de horário todos os dias). O endereço no convite era somente as coordenadas de latitude e longitude. Imagina? Resumindo, era lá no meio do deserto mesmo, onde o “sheik perdeu o seu camelo”.
Por mais que eu estivesse louca para ir a cerimônia, como eu não conhecia a noiva, nem tinha recebido o convite, eu estava de fora. Os casamentos árabes e principalmente sauditas são realizados geralmente no mesmo lugar físico, mas em salões separados: homem com homem e mulher com mulher. Duas festas separadas onde diferentes sexos praticamente não se veem.
Na festa da mulherada, já ouvi de amigas que é super alegre: tem música, dança, decoração moderna e um banquete divino. Ah, sem contar que elas se vestem para matar: vestidos longos, fendas, decotes, brilhos, cristais… aquele desfile de joias, bolsas… é tudo um arraso! Tem DJ e muitas sobem na mesa e se acabam de tanto dançar. Você deve estar pensando: Jura, é isso mesmo? É assim mesmo (fontes sólidas). Elas fazem uma festa de arromba, super animada, mas que não tem uma alma masculina sequer presente. Festa das Luluzinhas para as Luluzinhas.
Já do lado masculino, eu nunca tinha ouvido falar nada. Mas agora, com o meu enviado especial – o marido, eu recebia vários updates via celular, com direito a fotos. Então lá vai: first things first, para entrar no clima árabe, meu esposo foi vestido com a roupa típica – o tobe (vestidão branco), e o ghutra (lenço na cabeça). Como manda o figurino, apesar de uns poucos vestidos de terno e gravata.
A “festa dos cuecas” tinha música ambiente, mas sem dança. Basicamente eles ficam sentados, tomando chá, papeando até que os comes e bebes fossem servidos. Algo interessante é que o noivo era tratado como uma celebridade. Ele era quase que perseguido, e tinha que falar com todos, uma disputa pela honra de lhe cumprimentar. Lógico que era uma “beijazão” e uma “narização” sem fim. Explico: os homens árabes tem o costume de se beijar no rosto ao se cumprimentarem (com um, dois ou até três beijinhos). Eles também se cumprimentam com o que nós chamamos de “beijinho de esquimó” – encostando o narizinho um do outro. Diferente, não?
Depois de muita conversa, chega a hora dos comes e bebes. Enquanto do lado feminino tem um buffet regado, com variedade gastronômica (lógico sem bebida alcoólica), do lado masculino o menu era: Al Kabsa, arroz com cordeiro. That’s it. Todos se sentavam (para a sorte do maridão, dessa vez na mesa), e conforme manda a tradição, comem com as mãos (sem talheres, vai na mão mesmo). É a tradição minha gente! Para beber, água e uma cola Saudita sensação para eles nos anos 80 – que eu mesma ainda não tinha visto. Para sobremesa, muitas frutas frescas e… pepino. Como assim!? Sim, pepino – porque não?
Após a refeição meu esposo notou não ter guardanapos na mesa ou nas proximidades… ele então pensou: “vai no tobe mesmo?” Logo depois, ele reparou que entre o salão da recepção e o do jantar, havia uma área enorme com dezenas de pias. A fica caiu: “Ahhh tá…”
Terminado o jantar, de volta ao salão da recepção para mais chá e mais papo, logo era a hora de voltar para casa. Afinal uma esposa curiosa o esperava para o interrogatório – mesmo que fosse há uma hora da madrugada.
Foi realmente “something” como descreveu meu esposo, algo a se recordar. Tenho mais “causos” a contar e logo logo divido com vocês.
11 Comments
CARLLLAA que loucuraaa!!
Amei o texto, na verdade dou várias risadas e posso imaginar vc contando uma história, e essas fotos são mais que mil palavras, é chocantee sua vida!! fico boquiaberta MESMO!
Bom mas no fim sempre lembro do seu otimismo de um outro texto seu “a gente economiza na roupa”!!!
bisouss e Insha’Allah a mulherada que anima a vida desses homens!!
Olá Carla, gostei muito do seu post e sempre leio o seu blog. Moro na Jordânia faz 4 anos, mas aqui é casamento é um pouco diferente do casamento saudita. Aqui na Jordânia, também tem dois salões: um para os homens, e outro para as mulheres, mas muitas vezes fui em casamentos “mohtalat” isto é: homens e mulheres na mesma sala, dançando, cantando e se divertindo. E mesmo quando o casamento é em salas separadas, o noivo sempre entra na sala das mulheres, e no final da festa, os parentes de ambos ( noivo e noiva) entram no salão para terminarem a festa juntos. E o Buffet aqui, não para comer com a mão não! Tem garfos e facas hehehe. um beijo pra você e continue postando. Sucesso !!
Carla, primeiro, parabéns pelo seu senso de humor, vc é super!
Vivo no meio da mesma loucura…
Sei bem como é isso, e mesmo depois de 10anos, eu ainda me surpreendo com as barreiras impostas por eles…
Eles e elas, acham + confortável que cada um tenha sua festa.
Para mim é super sem graça não dar boas risadas com meu marido ao lado, curtindo a mesma festa e etc.
Claro, quando amamos, é um prazer ter ao lado a pessoa amada, quando é um suporte, é difícil de suportar; e é isso o que acontece por estes lados.
Assim que é óbvio, que quanto menor o contato, melhor!
Aqui no Marrocos, dependendo da região, ainda é muito comum que as festas sejam separadas.
Quando mistas, são bem + sérias, agora quando são separadas, é uma loucura total, tudo é d+++, decote d+, dança d+, sensualidade d+, luxo d+++.
Bom, o Mundo árabe!!!
muito legal saber como sao estas festas ,,tenho um relaçionamento á distançia e meu Rajli ,,como ele diz ,tambem fala das festas de casamento como sendo uma ocasião muito linda e dura uns 4 dias ,,estou curiosa de ver uma destas festas , quem sabe a minha festa!!!
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Oi Carla,
Achei muito interessante seu texto e estou rindo do fato de que homens e mulheres não se misturam. Sei que temos que entender e aceitar as outras culturas, mas para mim é muito difícil imaginar como eu me sentiria morando aí. Bem, achei muito engraçado o fato das mulheres dançarem na mesa mesmo sem ter bebido uma gota de álcool… rs… sem graça, não?
Beijos
Verdade Cleo! Só de imaginar já dá vontade de rir kkkkkkkkkkk
Olá Carla,sou muçulmana e moro no nordeste do Brasil, tem uma particularidade, nessas festas, pois nem sempre citada, é os bastidores nesses casamentos noivo e noiva fazem grandes doações de caridade independente se a pessoa é muçulmana ou não, é uma obrigação até as amigas da noiva recebem mimos, claro isso depende muito do pais de origem do casal( falo dos mimos).
Mas em geral a festa femininas é muito bonita, e animada sim estou me preparando para o meu no inicio do próximo ano, serão três dias de celebrações kkkkk mas já conheço meu noivo kkkkkkkkk bjs gostei muito da matéria. Salam.
Oi Jerusa, muito obrigada por compartilhar a sua experiência conosco. Parabéns pelo casamento no ano que vem e muito obrigada por nos acompanhar por aqui. Wa alaikum assalaam. 🙂
Olá Carla, estou rindo litros com seu post sobre o casamento.Muito divertido . Eu Eu moro em Natal/Brasil e vou casar com um Egípcio . Eu estou indo conhecer a família dele e ao mesmo tempo será meu casamento . Estou super ancioso. Tenho um monte de dúvidas . Como me vestir . Como me comportar. Gostaria tanto de algumas dicas. Eu já falo como a minha futura sogra , com o pai dele e com a irmã . Todos me amam. Fazem a maior festa pelo Skype. Sou 20 anos mas velha, mas eles não estão nem aí . Tem muito amor envolvido. Eu falei que quero morar no Brasil. E já ficou decidido. Após nosso casamento voltaremos para o Brasil é casaremos também na minha religião Sou Cristã e ele muculmano . Você tem algumas dicas para me ajudar querida ? Ficarei muito grata.
Fátima, a Carla parou de colaborar conosco; ela também se mudou para o Qatar.
Temos colunistas nos Emirados Árabes, em Dubai e Abu Dhabi e também no Qatar, mas não temos ninguém no Egito no momento.