Nesse mês eu completo seis anos morando em Buenos Aires. “O tempo passa, o tempo voa…” E lá se foram seis anos onde aprendi tantas coisas, conheci tantas pessoas e o mais importante: eu mudei e espero que para melhor. Fiquei pensando em quantas coisas não conhecia quando cheguei aqui e decidi escrever sobre isso.
Morando aqui aprendi:
– Que existem os portenhos e os argentinos.
– Que os argentinos acham que o Uruguai não é bem um país, mas sim uma extensão do território argentino. E que pelo mesmo motivo os uruguaios não gostam muito dos argentinos. E como o Uruguai está ali atravessando o rio, é geralmente o primeiro país que visitaremos ao estarmos na Argentina.
– Que os uruguaios, não sei como, sempre têm um familiar, avós, tios ou primos que são brasileiros.
– Que o argentino não fica carregando sua garrafa térmica para cima e para baixo pelas ruas.
– Que a maior parte é realmente viciada em beber mate/chimarrão.
– Que as empresas daqui permitem que os funcionários bebam mate e inclusive oferecem a erva mate para todos.
– Que os argentinos adoram falar “che“, “boludo“, “me estás jodiendo!” e nada disso é um palavrão.
– Que quase ninguém fala o famoso “buenos días” que aprendemos nos cursos de espanhol, mas sim “buen día“, e que esse buen día é falado durante todo o dia. E quando você entrar num restaurante, bar ou café às 19 h ou 20 h ainda vão recebê-lo com um “buenas tardes“.
– Que nos acostumamos a falar apenas “buenas” quando é tarde ou noite e estamos entre amigos.
– Que o prato básico, nacional e preferido por praticamente 99% dos argentinos é a milanesa com batatas fritas.
– Que há um número bastante expressivo de vegetarianos e veganos e por isso sempre haverá alguma empanada de brócolis, verduras e espinafre.
– Que as empanadas são as estrelas dos encontros com amigos, nas reuniões de trabalho e nos aniversários.
– Que os carnívoros amam bife de chorizo, mas este é consumido nos restaurantes. Dificilmente alguém o prepara em casa.
– Que você não se cansa de conhecer os bares e restaurantes da cidade.
– Que você vai se acostumar a ver casais gays e descobrir que eles não são um bicho de sete cabeças.
– Que o vinho é realmente a bebida por excelência do país e é possível comprar uma garrafa por apenas dez pesos; e nas várias feiras pela cidade é comum venderem vinho artesanais super baratos.
– Que a bebida preferida dos jovens é o Fernet com coca-cola. Eu não gosto dela por ser muito amarga, mas o Fernet é também uma bebida digestiva e com um teor alcoólico nas alturas.
– Que os argentinos amam comer “rabas” que são lulas fritas. Até mesmo em grandes festas elas são servidas.
– Que ninguém se encontra com ninguém. Aqui fazemos uma juntada ou uma reunião entre amigos.
– Que eles fazem, definitivamente, mais churrascos com amigos que no Brasil.
– Que as amizades são levadas a sério. Amigo é amigo e é para a vida toda.
– Que eles não gostam de criatividade nos nomes. Os nomes por aqui são sempre os mesmos. Você vai conhecer muitos Martin, Agustin, Sebastian, Yoel, Guillermo, Nicolás, Christian; e muitas Agustina, Mariela, Marianela, Lucía, Florencia, Yanina, Josefina, Pilar, Milagros, e por aí vai.
– Que a grande maioria das pessoas têm dois nomes e eles não combinam entre si, como “Mónica Josefina”, “Daniel Murilo”, etc., e que esse segundo nome geralmente é o dos avós, de um tio ou simplesmente os dois nomes que cada pai gostava, assim não tem briga.
– Que aqui não é muito comum ter apelidos criados. Geralmente utiliza-se a metade inicial do nome: Agu, Marce, Nico, Guille, Mari, Jose, Seba e assim por diante. Por isso, cuidado quando escolher o nome de um filho por aqui.
– Que discoteca é boliche e o nosso boliche é bowling.
– Que a cada tanto entra uma palavra na moda e todos, absolutamente todos, de crianças a adultos a utilizam.
– Que poucos compram macarrão industrial já que em toda a cidade abundam as lojas com massas frescas.
– Que aqui a lasanha não é tão consumida como no Brasil. A massa que reúne a família por aqui são os raviolis.
– Que o churros daqui é seco, fino e quase sempre é comido frio. Às vezes podemos encontrar uma banca na rua com uma pilha deles.
– Que aqui não existe pudim e sim, flan caseiro, e em alguns lugares são servidos com até 250 g de doce de leite (!), como este que pude abocanhar.
– Que as temperaturas no inverno podem ser muito baixas, abaixo de zero e mesmo assim não neva na cidade de Buenos Aires. A última vez que nevou aqui foi em 2007.
– Que existe uma tal de “aguanieve“, quando está muitíssimo frio e a garoa se solidifica caindo como uma água que está querendo formar gelo e mesmo assim não é neve nem um prelúdio para ela. E que todos os estrangeiros latinos sonham com neve caindo pela cidade. Acho que eles não entendem que isso significa mais frio ainda.
– Que o aquecimento a gás é uma invenção maravilhosa, mas que por secar muito o ambiente nos faz sentir que estamos com falta de ar e o jeito é abrir alguma janela ou porta por alguns instantes.
– Que aqui as casas são contadas apenas com dois ambientes: o quarto e a sala, pois supõe-se que todas tenham banheiro e alguma cozinha.
– Que muitas casas não têm quintal ou uma varanda na frente. As portas dão direto para a calçada.
– Que a maioria das crianças em Buenos Aires estudam em escolas privadas bilíngues de alemão ou francês.
– Que se você não quiser ir até Londres, pode ir ali no bairro de Retiro e ver a Torre dos Ingleses, que foi um presente dos ingleses ao primeiro centenário da cidade e dizem ser uma réplica do Big Ben.
E por falar em inglês… O inglês ensinado aqui é o britânico e eles morrem de rir quando escutam um brasileiro falando inglês. No entanto, eles também comentem algumas falhas – mas nunca vão aceitar isso.
Bem, espero que tenham gostado destas curiosidades. Eu ainda tenho para encher vários posts e se alguém quiser ampliar esta lista com as coisas que aprendeu por aqui, fique à vontade e nos conte.
7 Comments
Que interessante INA. Meu namorado e argentino, mas moramos na Espanha, e agora lendo teu texto eu entendo vaaarias coisas hehehe. Obrigada.
Amei, interessante e esclarecedor. Parabe’ns Ina!
Adorei .! Carlos
Amei seu post.. Conheci a Argentina ano passado e me apaixonei, não sabia que era tão mais incrível, quem sabe daqui uns anos estou por ai. Continue postando e obrigada!
Olá Ina! Já morei no sul da Argentina e, talvez por ser mais frio, lá andavam com umas bolsas de couro com garrafa térmica, o potinho de mate, etc… Eu achava bem engraçado. Gostei muito de morar na Argentina e o melhor foi ter a oportunidade de desmistificar essa suposta “rivalidade” entre brasileiros e argentinos… Por parte deles ela ficaria só no futebol mesmo. 😉 Abraço!
Eu adorei o texto. Moro aqui e muitas das coisas que vc disse me fizeram sentir mt bem onde estou… Tirando o da escola privada (acho que conheci mais pibes peronistas da escola publica) acho q tudo tudo eu passo igual hehehhe 🙂
Que bom Cristina! Sao coisas que parecem mínimas, mas quando somamos é toda uma adaptaçao. 😉