Um novo ano começando e no entanto, a pergunta-título deste post se refere à pergunta que todos fazem a um estrangeiro quando o conhecem.
Todos nós, que moramos fora, muitas vezes tivemos que respondê-la. Algumas vezes com mais certeza que outras. Hoje em dia, quando me perguntam, respondo que, no momento, é aqui que estou e que não posso adivinhar o futuro. Já tive épocas de não ter uma resposta concreta. Já decidi voltar e ficar um tempo no Brasil, mas não me adaptei. Não é nada fácil a readaptação. Inclusive escolhi um novo estado, o Paraná, para ter o desafio de algo novo num lugar do tamanho de Buenos Aires e, com isso, facilitar mais o meu recomeço. Comecei a fazer entrevistas de emprego, a conhecer a cidade, porém, depois de um mês, percebi que sentia falta da Argentina, da comida, dos amigos, do meu emprego, do padrão de vida que eu já tinha construído e do qual gostava.
Sempre que ouço esta pergunta, fico me indagando depois se algum dia voltarei a morar no Brasil. Não me vejo tomando essa decisão hoje ou amanhã, e nem sei se algum dia terei que tomá-la. É difícil explicar, porque troquei a Cidade Maravilhosa, com praia e o sambódromo somente a quinze minutos do apartamento onde morava para estar aqui. É difícil fazê-los entender que gosto deste clima frio na maior parte do ano, de poder beber muitos vinhos bons e não gastar todo o meu salário para isso, de caminhar pelas charmosas ruas de Buenos Aires e poder viajar um pouquinho às várias partes do mundo. Também é difícil de entender essa decisão nos dias em que sinto falta da praia, de poder abrir a janela e já visualizar a Baía de Guanabara ali.
Falar mais de um idioma frequentemente também é um fator bastante positivo. Lembro que, quando volto da Europa, sempre me sinto um pouco insignificante depois de passar um tempo por lá falando em espanhol, francês, inglês e italiano. E isso, porque aqui uso constantemente dois idiomas, imaginem como seria voltar ao Brasil e falar somente um o tempo inteiro, depois de já ter me acostumado com isso! Essas são pequenas coisas que, somadas, tornam-se muito grandes e talvez um dia já não sejam mais tão importantes. Um dia, quem sabe?…
Conheci e conheço pessoas que viajam sabendo que será temporário, que voltarão ao Brasil ou aos seus países de origem, porque não querem morar para sempre em outro lugar. É invejável ter essa certeza, pois elas sempre têm a resposta na ponta da língua, ao contrário das que, como eu, deixam-se levar pela correnteza. Outras dizem que voltarão para passar a velhice no Brasil, porque não querem morrer em outro solo. Ainda não consigo pensar nisso, apesar de já ter aprendido que o tempo passa rápido demais. Noutro dia uma aluna me perguntou onde irei me aposentar e, sinceramente, não tenho a menor ideia! Parece que algumas questões são maiores que outras e que alguns planos de vida que eram tão importantes quando eu morava no Brasil já não o são e sei que muitos que moram no exterior passam pelo mesmo.
No entanto, não pensem que todos passam por isso quando deixam os seus países de origem. Há muitas pessoas que mantém tudo tão igual que nem parece que estão em outro país ou outra cultura. São muitos os casos de pessoas que se isolam do entorno. Parece impossível, mas não é. Converse com qualquer pessoa que mora em outro país e ela com certeza vai dizer que sim, que conhece pessoas assim. Geralmente elas amam o novo país e detonam com o Brasil e dizem que nunca voltarão ou tudo o contrário: detestam tudo porque nunca se viram realmente inseridas nesta nova cultura e endeusam o país de origem. Uma coisa que nunca podemos perder de vista é que todos os países possuem aspectos bons e maus, não existe o lugar perfeito; isso é pura utopia. As expectativas e as nossas experiências vão definir o nosso olhar sobre o lugar.
Viver é um aprendizado constante. Estamos sempre lidando de formas diferentes com as emoções, com a saudade, com a falta daquela manga suculenta ou daquele pastel com caldo de cana.
No fundo, parece que estamos sempre nos testando, sempre nos arriscando e desejando estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Talvez, por isso, a pergunta mais difícil para nós, brasileiras que decidimos morar mundo afora, não seja quando vamos voltar e sim SE queremos voltar.
E você, já tem a sua resposta?
1 Comment
Amei os seus artigos sobre os Argentinos!
Estive em Buenos Aires em junho e 2019 e quero voltar, pois não consigo esquecer esse lugar, estou muito apaixonada por tudo….
Moro em São Paulo, Sorocaba
Abraços,
Adriana Melchiori