Qual é a primeira artista mexicana que lhe vem à mente? Frida, claro! E que Frida Kahlo é um grande ícone feminino que navegou entre a pintura e a poesia, com obras e um legado que saíram do México e tiveram reconhecimento mundial, todo mundo já sabe. No Brasil ela foi fortemente relembrada em 2015, com algumas de suas obras e de outras artistas mexicanas, na exposição “Frida Kahlo – conexões entre mulheres surrealistas no México”, sediada no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. No México, a Casa Azul, onde nasceu, cresceu e viveu parte de sua vida com Diego Rivera, é um dos museus mais visitados na capital. Uma artista grandiosa e reconhecida mundialmente, ponto.
Mas, quando pensamos na atualidade, em artistas que estão ganhando ou já ganharam seu espaço por aqui e em outros países, seja na pintura, poesia ou música, quem deveríamos citar? Bom, eu tenho conhecido e acompanhado algumas, dentro de minhas preferências, que gostaria de compartilhar com vocês. E que fique claro: em nenhum momento a intenção aqui é comparar alguma delas com Frida, mas sim, termos outras referências de artistas femininas quando pensamos no México e, principalmente, quando pensamos no agora.
Comecemos pelo cenário musical mexicano, que não só dos tradicionais mariachis é composto. Temos um destaque para a cantora e compositora Julieta Venegas, que nasceu em Long Beach, Califórnia – ok, é americana de nascimento – e cresceu em Tijuana, norte do México. Na adolescência, se mudou para a capital mexicana, estudou música, e é uma das artistas locais neste meio mais conhecidas e premiadas. A primeira vez que a ouvi foi na casa de uma amiga, ainda no Brasil, e a música “Andar Conmigo” entrou definitivamente para minha playlist. Porém, só quando cheguei aqui, soube que era mexicana, e então conheci mais e mais de seu trabalho. Inclusive ela tem parcerias com nossa querida Marisa Monte, como a música “Ilusión”. Se não a conhece, vale a pena!
Ainda na música, outra cantora que gostaria de destacar é Ximena Sariñana, uma jovem talentosa de Guadalajara. Conheci seu trabalho na abertura do show da banda Coldplay, que passou por aqui no início do ano passado, e também gostei muito. Música tranquila, atual, e ela ainda circula no mundo da atuação, com participações em novelas e filmes locais. Seu primeiro disco solo (participou de alguns grupos musicais antes disso), intitulado Mediocre, foi gravado em 2007, no Uruguai e Argentina, e lhes deixo a música “No Vuelo Más” deste álbum como referência para quem quiser conhecê-la.
Saindo do mundo musical e partindo para uma arte diferente, gostaria de falar da ilustradora Idalia Candelas. É uma artista recente que vem ganhando muito espaço com seu trabalho “A Solas”, um livro que retrata mulheres desfrutando de diferentes momentos de sua intimidade – como já diz o nome do livro, “A Sós”. Quem já morou sozinha ou ainda mora, certamente se identificará com várias destas ilustrações. O livro acaba de ganhar publicação oficial também na Espanha. Para quem quiser conhecer e acompanhar mais do seu trabalho, o seu perfil no Instagram é @idaliacandelas – e deixo aqui um agradecimento a Idalia pelas ilustrações enviadas ao BPM para este texto!
Neste mundo tão digital, infelizmente o universo das letras tem sido deixado um pouco de lado, mas opções de escritoras por aqui não faltam, e a que já está na lista é Valeria Luiselli. Jovem e com currículo surpreendente, já foi colunista do jornal El País, teve o livro Los Ingrávidos (lançado no Brasil como “Rostos na Multidão”) vencedor do Prêmio Los Angeles Times Award, e lançou ano passado na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) seu livro “La História de mis Dientes”, que entrou para a lista de melhores livros do ano eleitos pelo The New York Times (é, acho que não temos mais desculpas para postergar estas leituras!). Também super destacada, Guadalupe Nettel é considerada uma das escritoras contemporâneas mais importantes do país, mesmo com apenas dois livros publicados. Iniciou sua carreira em 1993, quando, com apenas 20 anos, publicou o conto Juegos de Artificio, e de lá para cá, lançou El Húesped e El Cuerpo en el que Nací. Ambas obras são consideradas extremamente sensíveis, transmitindo emoções através das palavras.
Por trás das lentes, Ana Hop registra belíssimas fotos através do projeto “People You May Know“, uma coletânea de retratos de “gente como a gente”. Formada em Comunicação pela Universidade Iberoamericana no México, e em Fotografia pela Central Saint Martins em Londres, além deste projeto, ela também dirige a revista Marco Magazine e já teve trabalhos publicados em veículos como Vogue México e National Geographic Traveler. Ainda no mundo da fotografia, outros registros que valem a pena seguir são os de Alicia Vera, mexicana baseada na Cidade do México e em Miami que, numa linha bastante documental, retrata um mundo pouco conhecido por muitos: o da prostituição. Seu trabalho abriu portas para veículos como The Wall Street Journal e The New York Times. Ambas estão no Instagram, respectivamente, como @anahop e @aliciavera.
O mundo artístico mexicano tem se revelado muito vasto e cheio de personalidades interessantes para conhecer e acompanhar. Vivendo no México, tenho tido a oportunidade de ir além de Frida e conhecer o trabalho de artistas interessantes como estas. Tenho também notado, inclusive, que Frida não é muito “citada” pelos próprios mexicanos, e que sua imagem é bastante relacionada ao comércio turístico por aqui.
Espero que gostem das artistas citadas! Lembra de alguma que deixei de fora? Compartilhe com a gente. Indicação de trabalhos bons, nunca é demais!