A palavra deficiência (física ou mental) no espanhol, se traduz como discapacidad, e segundo a Oficina de Representación para la Promoción e Integración Social para Personas con Discapacidad da Presidência da República no México, a cada ano, somam-se 270 mil pessoas com algum tipo de deficiência às mais de 10 milhões já registradas no país, número que de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) representa 14% da população mexicana – Fonte: CCME.
Com um número tão alto registrado no país, o México se contradiz no quesito acessibilidade: ao mesmo tempo que você vê pessoas com mobilidade reduzida desfrutando tranquilamente de um domingo no parque (como deveriam!), você encontra uma árvore no meio de uma calçada que tem acesso para a cadeira de rodas nas duas pontas, impossibilitando a passagem. E a inclusão no ambiente de trabalho? Ao meu ver, péssima. Trabalho em uma empresa que no Brasil é super reconhecida pelo programa de Diversidade e Inclusão com a comunidade, e que na filial daqui, além de não possuir programas para isso, as estruturas internas também não estão focadas para serem acessíveis – passamos quase um ano com o elevador do prédio fora de serviço, por exemplo. Para não ser injusta, saí do meu “mundinho” e fui perguntar a colegas de outras empresas sobre esta questão, confirmando que é algo cultural e que vai além do meu ambiente de trabalho.
Em 30 de maio de 2011 o governo publicou a Ley General para la Inclusión de las Personas con Discapacidad, alinhada com a Constituição Política dos Estados Unidos Mexicanos e com o Programa Nacional para Desenvolvimento e Inclusão de Pessoas com Deficiências (PND), que pela primeira vez na história do país desenhou uma estratégia para inclusão desta população alinhada com as metas nacionais de responsabilidade social e direitos humanos. O detalhamento deste programa, disponível neste link, é muito bacana, mas olhando ao meu redor não o vejo muito em prática. Sim, eu imagino que isso não se implemente rapidamente, mas não consigo aceitar que uma pessoa com mobilidade reduzida tenha que descer os andares de uma estação de metrô pelas escadas porque o elevador não existe ou está em manutenção, como já vi na linha Azul.
Mas por que é que me envolvi com este tema? Além da empatia pelas pessoas nestas condições, meu pai é cadeirante e não receber a visita dele aqui estava fora de cogitação pra mim, por isso passei a prestar muita atenção na cidade e nos lugares para visitar, e gostaria de compartilhar as boas experiências que tive, mesmo com todo este despreparo comentado acima, para quem mora por aqui ou receberá visita de alguém que necessita de atenção na questão da acessibilidade.
Começando por restaurantes, gostaria de citar três lugares onde tivemos experiências muito boas:
Los Sifones – todas as minhas visitas já conheceram (risos). É um restaurante de comida mexicana e com ambiente bastante familiar. A comida é tradicional, como tacos e gringas, e o atendimento sempre muito atencioso. Na questão do acesso não me decepcionou. A entrada tem um degrau, e no momento que eles viram um cadeirante descendo do carro, uma rampa foi colocada ali. Este restaurante fica no zona sul da cidade e você pode ver mais detalhes nesta página.
Café e Restaurante Aurélia – fica no bairro de Coyoacán, dentro da Casa de Cultura Jesus Reyes Heroles. Lugar super agradável, arborizado e com atendimento também atencioso. Só é pequeno então precisa chegar cedo. Mais detalhes você encontra neste link.
El Asador Argentino – como o nome já diz, é um restaurante argentino. Há duas filiais na Cidade do México, e a que visitamos foi a do sul, que fica em Tlalpan. Além do acesso, o ambiente é muito agradável, bem rústico, e também todos muito atenciosos com meu pai, do pessoal do estacionamento aos garçons. Deixo o site para quem quiser conhecer.
Agora falando de passeios turísticos, tivemos experiências positivas nos seguintes lugares:
Zona arqueológica de Teotihuacán – sim, onde ficam as pirâmides de Teotihuacán e é acessível! Obviamente não será possível subir nas pirâmides (aliás, o grau de dificuldade é alto para qualquer pessoa), mas entrando pelo portão 5, que fica logo atrás da Pirâmide do Sol, é possível ter acesso ao Museu, e a todo o trajeto que passa em frente das pirâmides do Sol e da Lua.
Bosque e Castillo de Chapultepec – o Bosque de Chapultepec é a maior área verde da Cidade do México, e dentro dele abriga o Castillo de Chapultepec, onde fica o Museu de História Nacional com uma vista linda para a Avenida Reforma. Todo o trajeto até o Museu é acessível, e na entrada eles têm a opção de que a pessoa com mobilidade reduzida e um acompanhante subam a última parte de elevador. As demais pessoas seguem caminhando pela rua que dá acesso ao Museu.
Monumento e Museu Nacional da Revolução – ficam relativamente próximos do Bosque de Chapultepec. O Museu da Revolução é totalmente acessível, e fica no sótano do Monumento de mesmo nome. Este Monumento é enorme, com 67 metros de altura, e tem um passeio que leva até o mirador e desce pelo interior de uma das colunas da construção. A subida é em um elevador panorâmico, e acessível, porém a descida pelo interior da coluna não.
Centro Histórico – O passeio pelo centro histórico inclui no roteiro a Torre Latinoamericana, Palácio Bellas Artes, Casa dos Azulejos, e a Praça da Constituição que abriga, entre outras atrações, o Zócalo e a Catedral Metropolitana. Todos estes lugares são ligados pela Rua Francisco I. Madero, que é fechada para carros mas tem um movimento de pedestres muito grande, principalmente nos finais de semana e feriados, por isso programe bem o horário para ir até lá. Com exceção do Bellas Artes, todos os lugares têm acessibilidade mesmo que parcialmente.
Pessoas com deficiência não pagam entrada quase que em 100% dos lugares turísticos na Cidade do México, e alguns estendem a gratuidade para o acompanhante também. Por outro lado, não é de costume ter fila preferencial por aqui, e tivemos que “brigar por este direito em alguns lugares.
O país precisa amadurecer muito a questão de inclusão social para pessoas com deficiência, como muitos outros, mas mais que em políticas eu acredito em pessoas e na atitude positiva delas. Nunca esquecerei os policiais que levantaram meu pai na cadeira em frente à Catedral Metropolitana pois havia um degrau sem acesso, ou dois rapazes em um estacionamento que por livre e espontânea vontade se ofereceram para nos ajudar a descer uma rampa íngrime. É preciso ter estruturas de acesso e políticas adequadas sim, mas também é preciso ter empatia e respeito pelo próximo, e isso em geral o México nos proporcionou muito!
6 Comments
e sobre a locacao de carros adaptados no mexico?
Olá Larissa,
A Joseane Dambros parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas no México que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM
voce pode indicar alguns hostels adaptados para cadeira de roda meu amigo vai ao mexico esta dificl encontrar algo economico e acessivel
Olá Val,
A Joseane Dambros parou de colaborar conosco, mas temos outra colunista no México chamada Ana Paula Almeida que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com ela deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM
Boa noite,
Você tem alguma site ou informação sobre vagas para Portadores de Deficiência Física, aqui no Brasil é Lei, sendo toda empresa é obrigada ter vagas disponíveis para PCD’s.
Olá Jean,
A Joseane Dambros, infelizmente, parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM