As recompensas do trabalho Voluntário.
Gosto muito da frase que a Oprah Winfrey usa no início de seu podcast: ela diz que tempo é um dos presentes mais valiosos que podemos oferecer a nós mesmos, tempo para estar verdadeiramente presente em cada momento da vida. Vou além, acredito que o valor desse mesmo tempo se intensifica quando oferecido em benefício de outros, como em trabalhos voluntários.
Desde que cheguei em Los Angeles venho realizando alguns trabalhos voluntários e pude perceber o quanto é prazeroso atingir a vida das pessoas e fazer, aos poucos, o mundo melhor. É verdade, não estou mudando o mundo, mas a comunidade sente o reflexo das ações, e o resultado positivo inspira mais pessoas a se engajarem e ajudar também.
Assim, encontrei três recompensas—saúde, carreira e satisfação pessoal—que a instigará a escolher duas horas do seu mês para dedicar a uma causa que acredite e que agregue valor à sua vida.
Antes de começar a explicar os benefícios de ser voluntário, acho importante destacar a diferença entre trabalho voluntário e caridade. Trabalho voluntário é o nome dado ao trabalho exercido sem fins lucrativos, uma ajuda. Já a caridade significa a vontade de ajudar sem querer nada em troca, devido a uma necessidade do outro.
A primeira recompensa são os benefícios à saúde. Acontece que ao exercermos um trabalho sem o intuito de receber algo por ele, o corpo passa a produzir hormônios, fazendo com que sintamos mais alegria, satisfação, e fiquemos de bem com a vida.
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Segundo um estudo* da Universidade da Carolina do Norte e da UCLA, pessoas que dedicaram seu tempo apenas em benefício próprio sofriam mais de doenças crônicas—como asma, sinusite, rinite, diabetes, câncer, e outras—do que as pessoas que exerciam algum tipo de trabalho voluntário.
Além disso, o estudo descobriu que seres humanos precisam dos dois tipos de felicidade: uma advinda de muito esforço em prol de si mesmo, e, aquela conquistada através de um trabalho com o objetivo de ajudar ao próximo.
A explicação para a magia, é que quando estamos felizes o corpo produz a ocitocina (hormônio do amor) que se espalha pelos órgãos como o coração, pulmão e cérebro. E como esses são órgão vitais, nos sentimos melhores simplesmente porque estão funcionando bem.
A melhor parte é que os efeitos da felicidade se prolongam por dias após o dia do trabalho voluntário, pois o estado de alegria permanece em sua memória, fazendo com que a sensação boa de doar um pouco de si permaneça.
Quando estamos em estado de satisfação com nós mesmos, os benefícios tendem a ser cada vez maiores, assim, além da saúde, a vida profissional também tende a colher muitos frutos.
Dessa vez, as recompensas serão sentidas na carreira do voluntário. Seja ele jovem ou já mais experiente, sempre existirá um espaço na organização em que se deseja ajudar. O mais importante é que seja escolhida com carinho, e que a causa deles tenha significados para você, que exista conexão com quem está recebendo a ajuda.
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Quero destacar que, no meu ponto de vista, principalmente hoje no Brasil, em que muitos jovens têm dificuldades de entrar no mercado de trabalho, o trabalho voluntário é uma alternativa única, pois esse jovem poderá conseguir experiência, enquanto atua em uma causa que acredita, que lhe agrega valor como pessoa e profissional.
Os ganhos, para aqueles já inseridos no mercado de trabalho, são a extensão de sua rede de contatos e a atuação em uma função diferenciada. Isso porque não há espaço na empresa onde trabalha ou porque nem sabia que possuía talentos para exercer uma função diferente.
Toda organização ou entidade não governamental precisa de pessoas para auxiliar em trabalhos mais práticos e de conhecimento técnico. Já vi vagas para voluntários em áreas como Direito, Fotografia, Relações Públicas, Produção de Eventos, para citar algumas.
As opções são vastas, e há espaço para todos, claro que algumas vagas poderão ser mais concorridas que as outras. E, podem, também depender da organização que se deseja ingressar.
Por exemplo, eu queria entrar em uma organização que trabalha com direito dos imigrantes em Los Angeles. Eles são advogados que defendem imigrantes exilados de seus países a conseguirem cidadania nos Estados Unidos. Foram necessários seis meses para que eu conseguisse trabalhar no escritório com eles. Então, dependendo da função ou da organização, a dificuldade pode ser um pouco maior, mas acredito que sempre haverá uma oportunidade disponível.
Uma vez trabalhando como voluntário, essa experiência poderá ser incluída em seu currículo vitae, e será muito bem vista pelos futuros empregadores, pois demonstrará que você não apenas encontrou uma alternativa à dificuldade de conseguir emprego, como também, possui empatia ao próximo. O mesmo se aplica a quem já está no mercado de trabalho mas deseja uma melhor posição, ou até mesmo mudar de emprego.
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Por fim, e para mim a recompensa mais gratificante, é a satisfação pessoal. Não há nada melhor do que sentir aquela sensação de que estamos cumprindo nossa missão, que estamos deixando uma mensagem ao próximo de que existe mais coisas boas do que ruins na vida.
Faço essa afirmação baseada na minha própria experiência. Todas as vezes que dediquei de uma a quatro horas da minha semana, ou do mês, a um trabalho não remunerado, senti enorme prazer em realizar, em estar presente no lugar, e também de ver a reação das pessoas com o resultado.
Quando fazemos coisas que dão sentido a nossa vida, é mais gostoso e prazeroso viver.
O trabalho voluntário, ao meu ver, é a oportunidade de se permitir realizar projetos que pareciam impossíveis agregando motivos externos a uma realização pessoal. É se colocar em situações antes impossíveis e descobrir que se é mais capaz do que imagina.
No final, quem se beneficia mesmo com o trabalho voluntário é a própria pessoa que dedica seu tempo ajudando. A sensação gostosa de ter feito algo para o outro, para a comunidade, nada mais é, do que, saber que o valioso tempo foi gasto cuidando do lugar em que vivemos. É entender que se trata de um investimento que, indiretamente, está voltando para nós mesmos.
* Conteúdo presente no livro: A terceira medida do sucesso de Ariana Huffington