O meu texto deste mês tem por objetivo ser um guia prático para pacientes imigrantes que ainda não estão familiarizados com o sistema e atendimento médico nos EUA.
Quantas vezes tentamos falar ao telefone com a recepcionista do consultório médico, mas ela faz perguntas que não sabemos do que se trata, e o diálogo fica sem pé nem cabeça?
Não pretendo esclarecer e informar como os convênios de saúde funcionam. O texto é para quem deseja navegar com fluidez na hora de marcar uma consulta, quando usar o pronto-socorro por aqui, quais são os exames que um seguro normalmente cobre 100%, quem são os especialistas e o que é o tal do primary doctor.
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Já escrevemos aqui na plataforma sobre o sistema de saúde e como os planos de saúde funcionam e suas coberturas. Saiba mais sobre o sistema de saúde americano.
Como funciona o atendimento médico nos EUA?
1 – Pré-consulta: você será atendido pelas enfermeiras antes de falar com o seu médico. Isto é um protocolo. A enfermeira – dificilmente tem um enfermeiro nas clínicas – irá ver os seus sinais vitais aferindo sua pressão, verificando altura, peso, temperatura, perguntar qual é a razão de sua visita, o seu histórico de saúde pessoal e familiar e quais os remédios tomados. Sugiro levar os medicamentos. Se houver necessidade de um exame ginecológico, a enfermeira ficará na sala.
Fato: os médicos seguem uma burocracia imensa e precisam documentar tudo o que se passou na consulta.
2 – Primary doctor: é o médico principal que todo paciente deve estabelecer. É o médico de família (family doctor) ou clínico médico (internist), que explico abaixo. Este médico também tem o dever de encaminhar pacientes para especialistas ou indicá-los. Quando ocorre um encaminhamento para um especialista, o resultado dos exames realizados anteriormente também são enviados. Uma vez que o consultório do especialista recebe todas as informaçōes de uma pessoa, eles se encarregam de entrar em contato com o paciente para agendar uma consulta. Estes médicos fazem exames preventivos como o Papanicolau, solicitam um check up completo conhecido como physical exam, prescrevem alguns tipos de medicamentos restritos etc. Exames básicos assim podem ser feitos na própria clínica.
3 – Family doctor ou médico de família: é o clínico geral, que atende bebês e adultos, mas não trata casos mais complicados como diabetes descontroladas. Eles sabem um pouco de tudo. Já o internist (ou médico clínico) trata somente de adultos e sabe com profundidade de doenças mais complexas, também pode fazer pequenas cirurgias.
4 – Nurse practioner (enfermeira padrão/clínica): geralmente são mulheres. Atendem como se fossem médicos. Elas consultam, prescrevem medicamentos, além de fazerem exames básicos como o Papanicolau. Quase todos os consultórios têm suas enfermeiras clínicas e substituem o médico quando o mesmo está de férias, impossibilitado de atender ou fazendo cirurgias.
5 – Intérpretes: não fazem parte do quadro clínico, mas têm um papel muito importante na vida de um paciente imigrante que não fala inglês. A função dos intérpretes é assegurar que o provedor médico e os pacientes não proficientes no idioma inglês – o LEP (Limited English Proficiency) – sejam ouvidos e que os profissionais entendam as suas necessidades. Alguns hospitais têm seus próprios intérpretes que comparecem em pessoa, mas é mais comum que a interpretação seja feita via telefone. Tenha em mente que você, como imigrante, tem o direito de ter um intérprete durante a sua consulta e, seja um hospital ou um consultório médico ou dentário, eles têm a obrigação de atender o seu pedido. Isso é algo que posso falar com propriedade, pois sou intérprete.
6 – Para as vítimas de violência doméstica: Todas as mulheres que forem a uma consulta médica serão questionadas se sentem-se seguras em casa ou se o parceiro as trata bem. Isto é parte do protocolo. Se você está num relacionamento abusivo, aqui é a sua oportunidade de se abrir. Profissionais médicos são treinados para lidar com este tipo de situação.
7 – HIPPA (Health Insurance Portability and Accountability Act): traduzindo em miúdos, HIPPA é uma lei federal que protege informações pessoais, assim como tudo o que for falado durante uma consulta com o seu provedor médico é confidencial. Todos os envolvidos – seja uma intérprete, enfermeira ou o estudante de medicina – têm o dever de cumprir essa lei.
8 – Pronto-socorro ou o ER (Emergency Room): como o próprio nome indica, este serviço somente deve ser procurado em casos de emergência. Porque custa caríssimo. No departamento de emergência é feito inúmeros exames para diagnosticar o problema, vão aplicar um tratamento paliativo para aliviar a dor, desconforto, desidratação do momento e depois você terá que fazer acompanhamento com seu médico primary doctor. No entanto, uma clínica não pode dar assistência para um paciente que está passando por uma crise renal, com pedra nos rins, e tem aquela dor horrível porque eles não têm os recursos necessários para internação. O pronto-socorro também pode internar pacientes no hospital, na UTI.
9 – Prescrição médica: é eletrônica e enviada diretamente para a farmácia de sua preferência. Você também pode pedir em papel. A farmácia também recebe informação sobre refill (reabastecimento do remédio, se for necessário).
10 – E os psicólogos? Um psicólogo só atende como tal quando é PhD. Um formando de psicologia que deseja ser terapeuta precisa fazer mestrado para se tornar um counselor, ou seja, um “conselheiro”. Caso você não precise de um terapeuta para o talk therapy (terapia conversacional) e precisa de um anti-depressivo, tratar a ansiedade, então você precisa entrar em contato com um psicanalista. Quem pode indicar é o seu medico principal.
11 – Exames preventivos: o women wellness (exames relativos à saúde da mulher), que inclui o Papanicolau, um check up completo (o physical) e próstata não são cobrados pelo convênio de saúde.
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Se você tem mais perguntas ou tem coisas que eu não mencionei aqui, por favor, poste aqui suas dúvidas ou comentário e terei o maior prazer em respondê-las.
Até a próxima.
3 Comments
Sensacional seu texto Alessandra. Parabéns, acertou na mosca em falar sobre a dificuldade inicial que qualquer imigrante terá ao ser questionado pelas recepcionistas e não entender o motivo.
Que bom que você gostou. Obrigada pelo comentário. Um abraço.
OI Alessandra. qUE BOM encontrar seu texto. Se eu não for imigrante e apenas quiser viajar até os EUA com o objetivo de passar por uma com especialista, funciona da mesma forma?