Vamos deixar formalidades de lado e ir ao que interessa: apresentar Berlim.
Berlim é uma capital com muitos contrastes e cheia de histórias não só para contar, mas também que estão sendo feitas neste exato momento. Essa é a cidade que eu escolhi morar e adotei como minha casa; uma cidade que abraça inúmeras culturas e formas de pensar.
Quem mora aqui consegue ver os prédios antigos que sobreviveram a guerra, as ruas largas e construções oponentes da época da ditadura nazista, misturados com a modernidade do centro que sempre se renova ou ainda o lado verde da cidade que não é só lotada de parques por todos os lados, mas também colônias de jardins que são chamados de Schrebergarten – sobre estes falarei uma outra vez.
Hoje eu vou fazer diferente, não vou falar de moda, mas sim, do meu dia a dia aqui:
Apesar de estarmos no inverno, quero começar pelo verão! Sim sou do contra e quero relembrar o sol que tanto me faz falta nesse mês.
Quem mora fora do país em que nasceu e cresceu, sabe que por mais aberto para novas experiências que se pode ser, a saudade sempre bate. Eu por exemplo, tento enganar a saudade quase que sem querer e acabo achando em pequenas coisas, um pouquinho de Brasil.
Em um dia ensolarado, resolvi dar uma volta pelo Flohmarkt (Mercado de Pulgas), um típico final de semana do verão de um Berlinense. Mas quem conhece o Mercado de Pulgas no Mauerpark já sabe que por ali passeiam pessoas do mundo todo – é uma mistura de turistas de outras cidades, países e ainda muitos Berlinenses.
Além de ter muitas barracas com quinquilharias do antes e pós guerra, que podem ser compradas a preço de banana, também há barracas de roupas de grandes marcas, chapéus e peles de todas as épocas e estilos, que dividem espaço com o que há de mais novo e que começa a ganhar mercado.
A primeira barraca com a qual me deparei, aguçou meus sentidos: Como quase todos os paulistas, eu sou apaixonada por um pastel de feira e caldo de cana, coisas que só nossa terra pode proporcionar, porém eu tento me adaptar às alternativas berlinenses e uma delas, foi essa barraca de suco de laranja feito na hora e fresquinho!
Peguei meu copo, com um sol de 25 graus na cabeça e fingindo ser um sol de 40 graus, me senti por alguns instantes de volta à terra dos tupiniquins.
Aqui não se houve coisas como : “Moça bonita não paga, mas também não leva”, mas me contento com os gritos de “Suco, suco, suuuuco!” ou ainda um sorriso e a frase “Obrigada docinho!”.
Mais alguns passos segurando meu suco na mão e me deliciando com a gritaria e a muvuca típica dos mercados de pulga, me deparei com outra atração adaptada em minha mente:
Sempre amei passear em São Paulo na feirinha de rua da Benedito Calixto e descobrir roupas de designers recém formados, ou de pessoas que são fãs de moda e querem ganhar um dinheirinho extra, e nesse mercado de pulgas, encontrei muitas barracas com estampas e cortes muito bem desenvolvidos e que são realmente uma novidade. Como uma apaixonada por moda, tive que parar ali e fuçar em todas as peças antes de continuar minha caminhada de descobertas e admiráveis adaptações.
Mais alguns passos e troquei meu copo de suco, por uma garrafa de cerveja, afinal quem mora aqui precisa se adaptar aos costumes da cidade, e cerveja não é só um costume mas uma tradição que eu sigo sem problema nenhum.
Nessa hora encontrei um paulista ali, que gritava: Você também veio parar aqui meeeeu? – Um mineiro que comentou: Uai você mora por aqui também ou está ficando só um “tempin”?
E ainda muita gente de outros países que dividiram um pouco do seu tempo comigo e estavam assim como eu, procurando formas de se sentir em casa nessa cidade de língua difícil, frio intenso, mas coração aberto tanto para o belo quanto para o estranho.
Saindo da parte das barracas, fui parar no meio de inúmeras pessoas deitadas na grama aproveitando o sol do dia – eram famílias, adolescentes, estudantes, artistas de rua, punks e jogadores de basquete.
Logo a frente, uma arena e muitas pessoas sentadas ouvindo o karaôke ao ar livre que acontece no parque todos os domingos.
Essas misturas de estilo em um lugar são para mim uma distração perfeita contra saudade; é só sentar durante alguns instantes ali na arena e observar o “maluco beleza”, a menininha toda envergonhada no microfone e centenas de sorrisos para todos os lados e a idéia de um mundo cheio de diversidade.
Eles me fazem esquecer por algumas horas do país tropical ali do outro lado do oceano.
São esses momentos com raios solares, pouco vento, cheio de adaptações e sensações novas, que me fazem chegar a conclusão de ter achado meu lugar…
Por isso, aproveitei esse dia contemplando a cidade e meu achado de barracas e conterrâneos enquanto, me embebedava de um mundo berlinense e cheio de cerveja.
9 Comments
Oi Barbara,
Concordo plenamente com voce, ja que escolhemos outro pais e realidade para serem a nossa vida, temos que nos associar a ela (realidade local) da melhor maneira possivel, para que assim a gente nao se sinta tao “fora do contexto” toda hora. Com o passar dos anos, vamos nos acostumando cada vez mais com a falta de sol e calor humano, mas, dentro de nos, vai ter sempre uma voz nos lembrando que existe caldo de cana e pastel rsrs. Aqui em Londres, como e possivel encontrar de tudo hoje em dia, vivo comendo coxinha e tenho estoque de guarana em casa rs. Agora na minha lista esta uma passada na Tapioca House, para comer uma tapioquinha cheia de leite condensado e coco… Quanto a cidade, como costumo dizer, tenho uma relacao antiga de amor e odio com Londres, mas, se um dia me afastar completamente sei que me fara muita falta. 🙂
Olá Ann,
Eu também tenho uma relação de amor e ódio com Berlim hehehe. Realmente é complicado se acostumar com uma cultura nova, mas nós somos donos do nosso destino não é mesmo? Se não agirmos com positividade no ambiente que vivemos, também não recebemos positividade de volta…
Nossa tem tapioca em Londres?? Que sonhoooooo!
Sempre que vem alguém me visitar eu já preparo uma listinha com coisas brasileiras que gostaria. Vai de farinha de mandioca à paçoca 😀
Aqui em casa ainda temos muitos LP’s e alguns deles são da época da tropicália com Caetano Veloso, Gilberto Gil e mato também a saudade com a música, uma caipirinha na mão e amigos!
Com certeza se eu saísse de Berlim ia sentir uma falta terrível afinal, aqui também muita coisa boa (tirando o frio hihi).
É muito legal saber que não importa o país, todas nós dividimos os mesmos sentimentos em relação ao nosso país natal.
Legal, Barbara. Obrigada por dividir sua experiencia. x Fernanda
Olá Fernanda,
que bom que gostou 🙂
xoxo Bárbara
Fiquei emocionada com o seu texto! Conheço muito pouco de Berlim mas realmente senti algumas das sensações que você descreveu e senti vontade de experimentar de muuuitas outras, inclusive a saudade desse nosso Brasil brasileiro!
Adoro quando você posta! Tenho a intenção de morar ao menos por uma temporada fora do país e ao contar suas experiências você dá um exemplo que mistura os pontos positivos e negativos em equilíbrio perfeito.
Oi Larissa,
posso te falar que morando em outro país nós vemos os pequenos detalhes do dia-a-dia no Brasil de outra forma. Coisas que consideramos bobas antes de vir morar fora, se tornam aquelas que mais sentimos falta.
Fico muito feliz de saber que gosta dos meus textos e espero vê-la mais vezes por aqui 😉 E se houver a oportunidade de morar fora, seja por um tempo curto ou longo, mergulhe de cabeça!
Eu abri muito o meu horizonte depois de vivenciar essa experiência. É um aprendizado forte sobre nós mesmos e nossa cultura, misturado com experiências novas e fantásticas.
Nem tudo são flores morando fora, mas vale a pena pelo menos passar por isso uma vez na vida. Tudo depende de como você olha para as coisas, quem vai de mente e coração aberto sempre tem chances de se adaptar melhor…
abçs, Bárbara
Oi Bárbara,
Seu texto é ótimo. A verdade é que quando moramos há tanto tento fora do Brasil, sempre temos que arrumar um modo de matar a saudades do nosso país, do que seja… Hoje é mais fácil matar a saudades da família com o Skype, mas o problema é quando dá saudades da comida… Quero dizer, na Europa sim que é mais fácil encontrar comida brasileira, mas aqui, nas Filipinas, não. Quando fui ao Brasil, trouxe 12 latas de Guaraná para eu ter meu estoque pessoal, um por mês! Haha! E pó de pão de queijo… E ovinhos de amendoim… Enfim, tudo aquilo que tenho saudades da terra. Improviso sim com feijão preto em lata que recozinho com alguma lingüiça e costela de porco (a última vez a trouxe da Espanha)… Bem, fazemos o que podemos! 😉 Um beijo
Barbara viajei a Berlim atraves do seu texto e literalmente partilho sua descriçao de procurar alternativas pra rituais adaptados que nos lembram nossa terrinha! Eu Estou fora do Brasil ha mais de 20 anos, ja morei por volta de 10 anos na Alemanha e agora moro aqui na Suiça, aqui tenho uns amigos brasileiros e sempre tocamos uma viola, dançamos, cozinhamos e assim nao so voltamos ao nosso Brasil tao amado e alegre, mas levamos juntos muitos e muitos amigos estrangeiros que vivem aqui junto com a gente! Eu amo ser uma cidada do mundo e amo ser brasileira, ou melhor “mineira” como meu marido diz! rsrsrsrsr Incrivel como uma cultura, os cheiros, lugares, impressoes, gostos e cultura na qual crescemos restam sempre na nossa memoria e nos acompanham onde vamos! é muito bom ter o Brasil dentro da gente né?! Quase morro de agua na boca vendo as novelas e mesmo fazendo sempre pao de queijo quase tenho um troço quando chego no Brasil, é meu primeiro ritual, comer um pao de queijo, suco natural de frutas e um cafezin uai! Muito bom seu texto!!! Adorei! XX Ana Kolb
Lendo seu texto parece que voltei a morar na Alemanha… lembro bem dos mercados de pulgas e das bugigangas que eu adorava fuçar – e completamente compartilho com vc a saudade x comparação da /com a Benedito Calixto e sua feira de artesanato e antiguidades. O que me faz mais falta morando fora do Brasl é a música e a boemia paulistana. Lá, eu era da noite, cantava com amigos músicos, ia a shows, tinha muita coisa cultural de graça. Aqui no interior da Dinamarca, onde moro, é complicado. Esse fim de semana vamos fazer uma festa em casa com brasileiros, choro e samba porque apertou a saudade e os meus pés tão irrequietos…
Quando eu for de novo a Berlim vou te avisar, quem sabe a gente se encontra? Fui ano passado a última vez, mas daqui da Dinamarca é muito perto…