Criando mães à moda antiga na Alemanha.
Maio é o mês das mães e, apesar de eu não ser uma, como sou casada e estou na casa dos trinta, este assunto me rodeia quer eu queira, quer eu não. Principalmente quando estou perto de brasileiros – convenhamos que é bem típico na nossa cultura ficar perguntando e cobrando filhos de um casal alheio.
O mais curioso sobre esta intromissão na MINHA decisão, é que faz eu dar mais atenção às grávidas na rua, às mães no meu ciclo de amizades, às notícias sobre o assunto no jornal e assim por diante. Com isso, em alguns momentos eu fico reflexiva. Como seria a minha vida se eu fosse mãe? Como seria a minha vida se não fosse? Quais dilemas enfrentam as mães daqui?
Vamos focar nesta última pergunta:
Acho que as brasileiras que moram aqui vão concordar comigo sobre o quanto a mulher alemã é independente, principalmente em Berlim. Logo cedo, por volta dos 20 anos de idade, as mulheres saem da casa dos pais e vão tomar conta da própria vida.
Além disso, elas têm mais liberdade para escolher o caminho do seu futuro e são mais pontuais no que querem ou não nas suas vidas, sem deixar muito espaço para a cobrança alheia. Isso me fazia pensar que quando uma mulher aqui decide ser mãe e parar de trabalhar, é uma decisão muito bem pensada e segura – só que não. Eu vejo com frequência mulheres que até ontem calculavam cada segundo do seu tempo para ter certeza que iam conseguir conciliar a maternidade com a carreira, simplesmente desistirem por ser impossível.
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Não existe problema algum em decidir ser dona de casa e cuidar dos filhos, porém, muitas mulheres por aqui se tornam donas de casa por falta de outra opção. Como vocês podem ver neste artigo da Deutche Welle, alguns dos motivos são a falta de creches e empregos de meio período, mas eu queria colocar mais algumas coisas curiosas:
1 – Não é tão comum ver parentes ajudando no dia-a-dia da criação dos filhos. Se você tem filhos, você cria. Avós, tios, primos podem até ter muito contato com as crianças, mas normalmente as responsabilidades como levar para escola, para o clube de futebol ou curso de música, é dos pais.
2 – Festinhas de aniversário, eventos da escola, roupinha de Halloween? Tudo bem caseiro! Não existe o hábito de contratar salão de festa ou comprar tudo pronto. Às vezes, por opção, outras por falta de dinheiro, ou até mesmo porque os pais “naturebas” vão fazer da sua vida um inferno se o bolo não for caseiro, por exemplo. Ou seja, se você já foi numa festa infantil na Alemanha, provavelmente reparou que o pai ou a mãe tinha farinha de trigo no cabelo, ou cola quente na camiseta, ou simplesmente “desencanou” de se arrumar porque nunca dá tempo mesmo.
3 – Muitos pais não têm condição de contratar uma babá para buscar as crianças no Jardim de Infância e ficarem com elas até os pais chegarem em casa. Babás, como em qualquer outro emprego na Alemanha, ganham por hora e pode ficar bem caro.
4 – Jardim de Infância e escolas fecham por volta das 16 horas, enquanto o horário comercial é até no mínimo 18 horas. O número de escolas com horários mais flexíveis é ridículo de tão pequeno.
O mais bizarro que eu já ouvi foi numa entrevista de emprego que uma amiga fez. Tudo estava indo muito bem, até ela falar: “Sou mãe de duas crianças e precisaria de flexibilidade no horário de saída para os dias em que eu fico responsável por buscar as crianças na escola.” O que ela ouviu da entrevistadorA? “Você precisa dar um jeito, afinal, o que é mais importante para você? Família ou trabalho?”
Então, além de não existir empregos de meio período, é bem complicado achar empresas que entendam a necessidade de pais e mães no dia-a-dia.
Mas, por que eu coloquei no título mães à moda antiga? A revista alemã Spiegel fez uma matéria muito pontual sobre o número de mulheres que se tornam dependentes do parceiro depois de terem filhos. Elas não conseguem conciliar a carreira com a maternidade e acabam desistindo de trabalhar, deixando a parte financeira na mão dos homens ou, por trabalharem meio período, não ganham um valor significativo que ajude além de umas roupas para os filhos e a compra do supermercado. Esta matéria foi publicada na revista impressa entre final de 2016 e começo de 2017, infelizmente não achei a versão online para colocar aqui.
Então, além de muitas mulheres ficarem frustradas com a situação de suas carreiras, quando o casamento não dá certo, elas se sentem encurraladas sem renda e sem perspectiva. Isso me lembra filmes da década de 50, onde a única opção era ser dona de casa, coisa que por aqui, já não acontecia nessa época porque os homens que voltaram da guerra, encontraram esposas que trabalhavam e tomavam conta de tudo sozinhas, não aceitando mais serem comandadas pelos parceiros.
Por isso, eu acho no mínimo curioso que o assunto seja amplamente discutido, que diversos problemas do passado ainda sejam as mesmas reclamações das mães desta década, mas, entra ano e sai ano, nada que melhore isso de verdade é feito.
E não é por falta de pais que ajudem, muito pelo contrário, o número de homens que são pais presentes em todos os momentos da criação dos filhos é muito maior em Berlim, estou ainda para conhecer um país onde só tenha homens conscientes que as obrigações com os filhos não é só da mulher, mas posso dizer que se eu for comparar com o que estava acostumada no Brasil, com certeza o número de fraldas trocadas, cuidados sem pedir ajuda até para fechar a tampa da mamadeira, conversas sobre puberdade e reunião de escolas visitadas por homens, é maior aqui.
Resumindo, a forma que as alemãs se veem no mundo é condizente com as inúmeras opções de caminhos que elas têm, como esperamos no século 21, mas a forma como vivem nem sempre condiz com o mesmo século. Não é de surpreender que o número de mulheres que querem ser mãe na Alemanha é pequeno, e que quando querem ter filhos é bem mais tarde, por volta dos 35 anos de idade…
Eu só posso dizer que se a pressão para criar crianças de forma impecável, as críticas e medos que enfrentam, já me fazem admirar a força que as mães neste planeta têm, meu respeito é ainda maior por mães donas de casa, mães com carreira, mães solteiras, todos os tipos de mães deste país onde eu vivo.
Vocês, mães brasileiras morando na Alemanha, já enfrentaram algum desses problemas?
Se sim ou se não, eu desejo à todas, um ótimo maio.
6 Comments
Parabéns pela sua matéria, sua percepção, carinho e admiração sobre em ser mãe. Muito bonito< obrigada por escrever e continue escrevendo Bárbara.
Obrigada Elaine! Fico muito contente que tenha gostado do texto. Um grande beijo, Bah
Ótimo texto. Sou mãe na Alemanha com uma bolsa de estudos brasileira. Não tive a opção de parar meu doutorado quando meu filho nasceu, não conseguimos creche, não temos família por perto… O sistema parece pressionar para que a gente largue tudo e cuide da cria em tempo integral.
Grande abraco, obrigada pelo carinho 🙂
Eu que agradeço Ana por compartilhar sua experiência.
Um beijão e muita força e sucesso nos seus projetos 😉
Oi,
Tive minhas duas Filhas na Alemanha? Depois do nascimento delas fiquei um ano em casa e Depois voltei a trabalhar. Elas iam para a creche de 8 as 17 h. Sempre gostaram muito de ir pra la. Tenho a vantagem que meu Marido eh professor, Entao ele sempre chegou relativamente cedo em casa e nas Ferias ecolares ele tambem esta em Casa. Na creche das minhas Filhas conheci Muitas maes que trabalhavam, e me ajudou a ter menos ‘peso na conciencia’. Hoje minhas Filhas ja tem 9 e 13 anos e sao muito felizes e socias. Nunca me arrependi.
Eu estou prestes a ser mãe na Alemanha. Acho que faltou mencionar que aqui a licença maternidade é de até um ano, com direito a receber até 80% do salário, portanto a mulher não fica necessariamente dependente do marido. Com certeza o sistema aqui funciona bem melhor para as mulheres do que no Brasil.