Eu planejava passar duas semanas no Camboja, mas acabei ficando um mês. Tive a sorte de ter uma super anfitriã, uma francesa que mora lá há 8 anos e que transformou minha viagem pelo país em uma grande e prazerosa surpresa. Isso me provou, mais uma vez, que conversar com quem mora e gosta da cidade faz toda a diferença na hora de fazer turismo. Assim você tem acesso ao que eu costumo chamar de “pacote turistão”, que é aquilo que todo mundo vai ver e visitar, mas também consegue ter uma experiência rica e inédita da cultura.
Então, se você tem vontade de conhecer o Camboja, espero que as minhas descobertas terminem de te convencer que passou da hora de ir pra lá!
A primeira grande surpresa é que a capital Phnom Penh é, sem dúvida, a cidade do sudeste asiático onde eu tive as melhores experiências gastronômicas. Minha amiga preparou uma lista com restaurantes vegetarianos maravilhosos, com pratos muito saborosos, criativos e preços bem razoáveis. Como andei passando aperto na hora de comer no Vietnã, por causa da quantidade de carne consumida lá, acabei respirando aliviada e me esbaldei na hora das refeições.
Mas existem também ótimos restaurantes de comida indiana, vietnamita, khmer (que é o nome da cultura tradicional do Camboja), e de várias outras nacionalidades. Carnívoros e vegetarianos ficam muito bem servidos. A cidade é cheia de padarias e confeitarias por causa da forte influência francesa que o Camboja mantém, mesmo não sendo mais colônia da França. Há, ainda, muitos cafés, bem charmosos, e a qualidade das bebidas quentes e geladas é bem alta. Ah! A cerveja local também é muito boa – e com o calor que faz no Camboja, uma cervejinha gelada cai muito bem!
A segunda surpresa foi a arquitetura tradicional Khmer, com palácios e templos budistas simplesmente maravilhosos! Eu sabia da importância e beleza dos templos do Parque Angkor, na cidade de Siem Reap, que são o grande motivo das pessoas visitarem o Camboja. Mas confesso que fiquei completamente encantada com as construções que visitei em Phnom Penh. O palácio real, por exemplo, tem um trabalho tão minucioso nas janelas, portas e telhados que é até difícil escolher o que admirar primeiro. Como os dias estavam lindos, com o céu azulzinho, acabei dedicando boa parte das fotos ao contraste do céu com os telhados.
Boa parte dos templos e museus fica na parte mais central da cidade, e essa região ganha uma “cara” completamente diferente à noite. Sério! Parece que a cidade vive em constante natal, de tantas luzes e cores enfeitando os jardins e construções. Tem ainda uma parte mais moderna, com telas gigantescas de lcd que exibem propagandas e vídeos sem cessar! Eu passava horas olhando para aquilo tudo, porque, de fato, é muita informação visual, e como as ruas ficam lotadas à noite, de gente passeando e se divertindo, é uma ótima oportunidade para ter mais contato com os moradores.
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Minha terceira surpresa foi, também, uma das experiências mais impactantes que tive durante toda a minha viagem. Eu queria muito conhecer melhor a história do Camboja, principalmente do período em que o país esteve sob o comando do Khmer Rouge. Já tinha visto filmes a respeito dessa parte triste e cruel, mas era pouco. Uma das opçōes era visitar o Museu do Genocídio, em Phnom Penh, que foi uma das escolas transformadas em presídios durante o Khmer Rouge, e usada para castigar e torturar os presos. É um dos locais mais visitados da capital, mas eu não tinha certeza se queria ir lá porque é uma visita bem forte.
A outra opção, que foi a que escolhi, é visitar o Centro Bophana, criado pelo cineasta cambojano Rithy Panh. É um projeto de audiovisual que recupera material em vídeo e áudio ligados ao período do Khmer Rouge e também oferece, gratuitamente, cursos para formar documentaristas e cineastas. Eu fiquei tão encantada que decidi gravar uma reportagem com eles e, por causa disso, passei uma semana inteira visitando o centro. Assisti a filmes, animações e documentários. Conversei com filhos e netos de pessoas que sobreviveram ao terrível regime do Khmer Rouge. E pude conhecer melhor os trabalhos que eles fazem com a população do Camboja para resgatar a história, educar as pessoas e, consequentemente, tentar evitar que algo parecido aconteça novamente. O Centro Bophana leva tão a sério essa tarefa, que lançou, no ano passado, um aplicativo, para divulgar e explicar a história do Camboja para pessoas de outros países. No vídeo que eu fiz, eu mostro o lugar e alguns projetos que são realizados lá. E no site do Centro Bophana estão mais informações a respeito deles, do fundador Rithy Panh e, claro, do Khmer Rouge.
Por falar em filmes e vídeos, tive a chance de conhecer, também, ainda na capital, um cinema super alternativo. É uma espécie de cinema/bar onde o dono baixa filmes pela Internet e os exibe numa sala pequena, com poltronas enormes bastante confortáveis. O nome do clube de cinema é “The Flicks” e os filmes em cartaz são sempre os que estão fora do grande circuito. É um ambiente bem descontraído; com venda de bebidas que vão da cerveja à combucha; e a entrada com garrafas é liberada. E o preço do ingresso é bem razoável – 3 dólares, quando estive lá. Sim, o preço é em dólares, mesmo! O que nos leva à quinta surpresa.
Eu não fazia ideia de que o Camboja tinha duas moedas “oficiais”: a local – chamada “Riel”- e o dólar – que equivale a 4 mil Rieles. Eles lidam tão bem com as duas moedas que o uso é super tranquilo, os valores das contas geralmente vêm nas duas opções e os cálculos para troco, por exemplo, são feitos rapidamente, de cabeça. Eu achei que fosse demorar a me adaptar, mas foi bem fácil e bom para treinar o raciocínio – afinal de contas, eu convertia de Riel para Dólar e, depois, para Reais.
Tudo isso que falei foi apenas em uma cidade, mas o Camboja tem muito a ser descoberto. Aqui no Brasileiras Pelo Mundo tem um post falando das praias paradisíacas – e pouco exploradas – de Sihanoukville, no sul do país. E no meu próximo texto, eu dou dicas para o passeio em Angkor Wat, o maior templo do Parque Angkor. Já garanto: é imperdível!