O dia em que choveu na minha ópera em Verona.
Cheguei à Itália no verão e descobri que estava no meio da temporada de óperas em Verona. E que as apresentações eram realizadas na Arena, que é simplesmente um dos monumentos mais importantes da cidade! A “Arena di Verona” é o terceiro maior anfiteatro da Itália (o primeiro é o coliseu, em Roma), foi construída na primeira metade do século I d.C., abrigou batalhas, passagens tristes da história da humanidade, mas se redimiu ao se tornar um dos espaços culturais mais importantes do país – recebendo shows, teatro e ópera.
Como eu queria muito conhecer Verona e fiquei doida pra assistir à uma ópera ao vivo, na Itália, com aquele cenário maravilhoso, fui correndo comprar ingressos e passagens de trem. Reservei tudo para o último fim de semana de agosto, para conseguir passagens mais em conta – já que as passagens de trem na Itália costumam ser muito caras quando compradas em cima da hora. Ainda mais em temporada!
Era agosto, o verão estava pegando fogo e o clima estava super seco, tamanha a falta de chuvas. Mas, como emoção pouca é bobagem, houve uma virada de tempo e a previsão para o “MEU” fim de semana em Verona era de chuva, muita chuva! Só que como o clima tem vontade própria – e a esperança não morre facilmente – eu fui feliz e confiante, acreditando no sucesso da ópera e na diversão que seria o fim de semana em Verona.
Cheguei lá no sábado e só tive tempo de dar uma volta rápida pela cidade e me arrumar para o compromisso da noite. O dia estava lindo, com céu azul e sol e isso me deu mais uma dose de otimismo. Cheguei à região da Arena com antecedência, jantei, passeei e fui para a fila. A organização do festival de ópera pede para a gente chegar uma hora antes da apresentação, mas acabamos entrando com um certo atraso. E nesse meio-tempo em que estive na fila, comecei a ser presenteada por uns pingos de chuva – mas nada que atrapalhasse o bom humor!
Só que a chuva, que parecia passageira, começou a ficar mais forte. E tanto a arquibancada quanto as cadeiras no centro da Arena ficam ao ar livre. Ou seja, tava todo mundo tomando chuva enquanto esperava a apresentação. Com um detalhe: a ópera seria acompanhada por uma orquestra, ao vivo, e os instrumentos só poderiam ser tocados se não houvesse nem um gota de chuva caindo do céu!
Ao meu lado tinha uma senhora espanhola que era mãe de um dos atores da ópera e estava lá para ver, pela primeira vez, o filho se apresentar. Havia também uma francesa divertidíssima que tinha ido de carro até Verona, com o marido e o filho pequeno, só para assistir à tal ópera. Nós logo fizemos amizade, até porque eu estava sem sombrinha e estava pegando carona na sombrinha delas. E aí é que a noite virou uma comédia.
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A ópera foi sendo atrasada e depois a gente descobriu que a organização tinha até 2h30 (duas horas e meia) depois do horário marcado para decidir se ia ou não manter a apresentação. Com isso, quem saísse antes corria o risco de perder a ópera e, também, o direito ao reembolso do ingresso – caso ela fosse cancelada.
A chuva melhorava, piorava, os vendedores de bebidas e petiscos passavam pra lá e pra cá e um deles virou meu amigo depois de descobrir que meu nome era o mesmo de uma música do cantor italiano Rocco Granata, que ele adora. Quem ficar curioso, pode clicar no link e ouvir a tão famosa “Marina”. Ele ficou tão empolgado que deixou o celular comigo, para eu ficar ouvindo a música, e foi dar a volta na Arena, para vender vinho. Depois voltou, claro!
Mas chegou num ponto em que a chuva apertou, eu me encolhi pra caber debaixo das sombrinhas das novas amigas, e uma moça que estava atrás de mim acabou me oferecendo um saco plástico, do tamanho de uma geladeira, para eu me proteger. É claro que eu aceitei! Vesti o saco, fiz um furinho no rosto e fiquei lá, embalada, sem saber se ia embora ou esperava. Só que a conversa com as companheiras de furada estava tão boa que acabei ficando.
Por fim, tiveram que cancelar a ópera e todo mundo saiu da Arena justamente na hora em que a chuva virou tempestade! Era tarde e os restaurantes ao redor já tinham fechado! Conclusão: confiei na minha capa de chuva improvisada e fui andando de volta ao hotel. A sorte é que estava hospedada perto do centro, porque nem táxi livre eu encontrava! Chegou num ponto da caminhada que a situação estava tão ridícula que eu parei pra rir! Afinal de contas, era mais de meia-noite e eu era uma figura embalada num saco plástico andando pelas ruas de Verona!
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No dia seguinte, acordei com um céu limpo e um sol brilhando do lado de fora da janela e saí cedo para aproveitar o dia. Visitei a Casa da Julieta e me diverti lendo as cartas pregadas nas paredes da entrada. Tinha até papel com telefone de advogado de divórcio!!! Andei pelo mercado de rua, pelas praças lindíssimas, fiquei encantada pelas calçadas construídas em mármore… tá tudo registrado no vídeo que postei no meu canal no YouTube.
Eu confesso que fui embora de Verona com dó de deixar a cidade! Achei a atmosfera super gostosa, charmosa e o povo muito simpático. É mesmo uma cidade que está acostumada e pronta para receber os visitantes.
Quanto ao ingresso, eu recebi o reembolso de imediato e foi tudo tão organizado que eles abriram o escritório no domingo pela manhã apenas para atender os clientes que iriam pedir o dinheiro de volta ou trocar o ingresso para outra data.
Eu só não fiquei triste com o cancelamento da ópera porque me diverti muito com tudo o que aconteceu. Mas assim que tiver outra oportunidade, volto para conferir a apresentação naquele anfiteatro maravilhoso. Eu vou deixar o link do site da Arena de Verona porque aí fica fácil ver as fotos das óperas, dos concertos e shows já apresentados lá. E também as datas dos próximos eventos e, claro, do Festival de Óperas deste ano.
2 Comments
Oiii
Vi seu relato e queria fazer uma pergunta…
Se chover eles reembolsam somente os que ficaram até o final e não foram embora, é isso?
Não entendi essa parte kkk
Obrigada…
Olá Caroline,
A Marina Mazzoni, infelizmente, parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM