Carnaval faz pensar em que? Vejamos: sol, calor, Sapucaí, passistas, baterias nota 10, ruas entupidas de gente em Salvador, bonecos de Olinda, o Galo da Madrugada de Recife, das fantasias minimalistas (até demais) até os mega destaques luxuosos de carros alegóricos, e, principalmente, muita ziriguidum e balacobaco.
Esse é o retrato ao qual estamos normalmente acostumados no Brasil. Tem gente que ama e tem gente que odeia. O fato é que nosso carnaval é praticamente a maior referência de festa brasileira mundo afora. Mas, pasmem! Apesar do frio, Ville de Québec é famosa por seus dias de festa e atividades carnavalescas. Só que, evidentemente, bem diferente do que vemos no Brasil. Essa tradição de festejar do fim de janeiro até o meio de fevereiro é bem antiga na capital mundial da neve.
Conheçam um pouco mais do Carnaval de Québec, o maior carnaval de inverno do mundo, e o 3o lugar entre outros carnavais igualmente famosos, perdendo apenas para o nosso Rio de Janeiro e Nova Orleans! Mas no final… a-la-la-o-o-o-o-o-o… vou apresentar a iniciativa brasileira que não poderia faltar: O Galo na Neve… Sim, brasileiros saem do Brasil, mas o carnaval não sai dos brasileiros!
As origens do Carnaval de Québec
O primeiro grande carnaval aconteceu em 1894 e tinha como objetivo criar uma celebração coletiva que permitisse esquentar os corações, tão maltratados pelo rigor das baixas temperaturas. Todos já devem ter ouvido falar da depressão invernal, que não é frescura e é bem real, como bem explicado no artigo É possível prevenir a depressão de inverno?, da Fernanda Libardi.
Apenas durante as guerras mundiais e a crise de 1929 a festa não aconteceu. A partir de 1954, com perspectivas de melhorar o desenvolvimento econômico da antiga capital, um grupo de empresários relançou a festa e escolheu o Bonhomme como representante do evento. Desde 1955, o carnaval se tornou uma manifestação símbolo da população de Québec e também um motor para as atividades turísticas de inverno na cidade. Além de atividades folclóricas e culturais, a programação inclui várias atividades esportivas, como a travessia do Rio São Lourenço em barcos a remo.
É uma festa extremamente familiar. Adultos e crianças se divertem com as brincadeiras e outras atividades que acontecem nos Plaines d’Abraham. Existem espaços aquecidos que servem como pontos de descanso e também para alimentação. Eles também tomam quentão por aqui, que se chama Vin Chaud, ou vinho quente.
O ponto alto é o desfile pelas ruas da Haute Ville com a presença do Bonhomme e das Duchesses, que são as princesas do carnaval. Mas evidente que aqui ninguém se fantasia e nem sai quase nu, porque certamente teria uma hipotermia. Ao contrário da objetificação feminina que se vê nos desfiles do Rio e de São Paulo, para se tornar Duchesse, as candidatas passam por uma série de provas e entrevistas, sendo que devem ter entre 18 e 35 anos, mostrar que são criativas, empreendedoras e apaixonadas por causas sociais. Cada região da cidade tem a sua Duchesse eleita e uma vez no mandato, elas têm toda uma agenda social a cumprir, quase como se fossem misses. Os perfis são bem diferentes, deixando claro a valorização da diversidade, da beleza às experiências de vida.
Para curtir o Carnaval daqui, é preciso se agasalhar muito bem para literalmente entrar no clima. São momentos assim que nos permitem socializar e sobreviver ao rígido inverno. Mas… para quem estiver por aqui e quiser reviver um pouco do bom e velho espírito carnavalesco do Brasil, o point é em Trois Rivière, cidade a apenas 2 horas de Québec.
Apresentando o Galo na Neve
A comunidade brasileira em Québec é bastante ativa e costuma organizar eventos para juntar todo mundo e facilitar o processo de adaptação. Conheci o Mariano Falangola e a Mariana Brayner Falangola (famoso casal M&M) num forum de discussão do Facebook e assim começamos a nossa amizade virtual.
Quando recebi um convite pro carnaval do Galo na Neve, achei a iniciativa inusitada e super divertida. Segue pequena entrevista com o casal, explicando de onde surgiu a ideia e como de uma feijoada para apenas um casal de amigos, evolui para um evento de mais de 100 pessoas, com direito a desfile na rua.
BPM: Contem um pouco sobre vocês e a relação com o carnaval.
M&M: Somos um casal de recifenses, apaixonados pelo carnaval! Minha família sempre teve o costume de sair no Galo da Madrugada, maior bloco carnavalesco do mundo, no Recife. A paixão pelo Galo da Madrugada começou quando fui pela primeira vez com minha mãe em 1998. De lá até 2012 sempre estava presente.
Em 2012, nos mudamos para o Canadá com o nosso filho. E justamente na semana pré-carnavalesca no Brasil, nós víamos todas as movimentações pela internet, falando do carnaval e do Galo da Madrugada. Tivemos a idéia de fazer um Galo diferente e ao mesmo tempo criativo! O galo na Neve!
BPM: Como foi a primeira edição do Galo na Neve?
M&M: Em 2014, fizemos o primeiro ano apenas eu, a minha esposa e um casal de amigos. A TV local divulgou esse vídeo no jornal das 18:00. Foi muito engraçado escutar os relatos dos canadenses no dia seguinte.
BPM: E depois disso? Vocês planejaram tornar o evento uma tradição? Como a ideia evoluiu?
M&M: Em 2015, fomos de férias ao Brasil e nos encontramos com o presidente do bloco, Sr. Romulo Menezes, onde tive a oportunidade de compartilhar a experiência do Galo na Neve. Ganhamos uma linda bandeira do Galo da Madrugada e camisas.
Em 2015 fizemos o evento na nossa casa com umas 30 pessoas. A TV local esteve presente e fez a cobertura (ver matéria). E também o jornal local (ler artigo). Quando falamos do Brasil para os canadenses, eles só visualisam o carnaval do Rio e SP. Por isso a matéria foi com o tema Carnaval do RIO.
Em 2016, continuamos com destaque na TV local, mas também num canal brasileiro Cidade Brasil que veio nos prestigiar.
BPM: 2017 foi o ano recorde de participações, não? Tinha até um abada do Galo na Neve!
M&M: Em 2017, foram 120 foliões! Como tomou proporções, alugamos uma sala comunitária com uma DJ brasileira e o grupo brasileiro Capitale du Samba para esquentar o bloco! Além das atrações, tivemos a famosa feijoada e muita diversão! Sem contar com o desfile do bloco pelo quarteirão. É frio! Muito frio! Saímos pela rua com -28oC (ver video). A TV local também estava lá! Inclusive fizemos a cobertura da meteorologia (ver video).
BPM: E depois de tantas edições, qual a conclusão que fica?
M&M: Hoje estamos muito felizes com o desempenho do bloco e gostaríamos de aumentar ainda mais o número de foliões para fazer do frio canadense, um calor gostoso recifense, brasileiro!
Segue as redes sociais do Galo na Neve para quem quiser ficar por dentro do próximo evento.
Facebook: Galo na Neve
Instagram: @Galonaneve