O choque cultural ao contrário aqui na Áustria.
Hoje vamos falar sobre choque cultural!
Recente moradora de Viena, filho de oito meses nos braços, ainda me adaptando à língua e costumes, recebo ligação de uma de minhas amigas me perguntando se queria ir visitar algumas escolinhas com Jardim de Infância. Me interessei bastante pelo convite e aceitei na hora.
O animalzinho da curiosidade, que mora dentro de mim, não sossegou até iniciarmos as visitas. Eu nem fazia ideia de que isso era possível: agendar uma visita ao Jardim de Infância, para conhecê-lo, conversar com a Diretora, e, após, decidir se é o que eu gostaria, ou não, para o nosso pequeno. E tudo isso com os nenês a tiracolo!
À data marcada, rumamos mais nossos pimpolhos nos carrinhos para o estabelecimento onde a Diretora nos aguardava. Fomos muito bem recebidas e todas as orientações nos foram – a contento – repassadas. Havia apenas um ponto que me causava incômodo: o prédio do Jardim de Infância ficava encravado dentro de um condomínio residencial construído na década de 30. Como brasileira que me preze, ainda muito mal acostumada a nova vida, já parti para a desconfiança:
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– O risco de um sequestro é altíssimo! Qualquer passante leva nossas crianças. Um condomínio gigantesco desses! Que maluquice de construção!
Com aquilo ainda mal resolvido e sem dizer nada sobre meu mal-estar, combinamos a próxima visita.
Ok, tudo mais uma vez super, mas, de novo: uma escolinha encravada em um condomínio residencial, construído pelos idos da década de 20. E, na terceira visita: igual! Aquilo, de fato, me incomodava.
Não sendo mais possível refrear meus pensamentos perversos acerca da localização dos prédios públicos das escolas infantis visitadas, resolvi abrir minha boca:
– Por que esses prédios estão localizados dentro de habitações residenciais gigantescas? Isso não me traduz segurança. E, para não ser indelicada, insinuando que os austríacos sequestram crianças, expus da seguinte maneira:
– No Brasil, creio que tal tipo de construção seria proibido por questões de segurança da escola. O trânsito de estranhos é imenso!
Ingrid, minha amiga que estava comigo, austríaca “da gema” -, esclareceu-me a dúvida “para todo o sempre, amém”:
– Ana, fica tranquila. Eu, medo, não tenho, mas sempre me indaguei também do motivo pelo qual esses prédios antigos têm um Jardim de Infância no seu centro. Tu podes perceber que eles estão localizados sempre dentro de condomínios construídos entre as décadas de 20 e 30 (todas as construções de habitações residenciais trazem, na sua fachada, a seguinte inscrição: “esta habitação pública foi construída nos anos de 1923-1924 com o dinheiro dos contribuintes do Estado de Viena”).
Trata-se do período entre guerras. Pesquisei e encontrei o fundamento: já tendo passado pelo horror da Primeira Guerra Mundial e, prevenindo-se contra a iminência de um novo conflito, que viria a ser a Segunda Guerra Mundial, a administração austríaca, da época, decidiu por construir os Jardins de Infância dentro de condomínios residenciais, para facilitar o resgate de suas crianças da forma mais rápida e eficaz possível, em caso de bombardeio. Desta feita, qualquer cidadão teria condições de levar qualquer dessas crianças, que estudassem nessas habitações, para os abrigos antiaéreos situados no subterrâneo desses prédios. O risco de extermínio do futuro da nação estava, dessa forma, minimizado.
Vários autotabefes – imaginários – após, rumei para casa com uma sensação de alívio e admiração, pois a explicação era algo de jamais se jogar fora na bagagem da minha existência!
Um choque cultural e tanto. Mas, felizmente, ao contrário!
6 Comments
Parabéns Aninha! Lindo texto!! Bjao, Tiaguito Bertoldo
Valeu, queridão!!! Abraço!
Sentir a tua alma no texto Aninha, o jeito só teu de ser, foi muito bom! Adorei! Saudades, amiga.
Amada!!!
Eu adorei foi o teu comentário.
Muito obrigada.
De fato, quando se faz o que se gosta, tudo fica mais leve e transparente. Foi isso que tu viste no texto!
Enorme beijo e muitas saudades!!!
Sinceramente, isso me pareceu tão óbvio desde o início… Mas obrigada por dividir sua experiência conosco.
Olá, Francine.
Obrigada por ler e comentar.
Cada pessoa tem suas percepções. E, no Brasil não temos absolutamente nada parecido, pois não houve batalha da Segunda Guerra em solo nacional. Não há esse tipo de raciocínio lá. Por essa razão me surpreendi com a solução dada pelo governo daqui para um assunto vital.
Mas novamente obrigada por ler e comentar.
Abraço e até a próxima.