Já faz 4 anos que não passo o Natal no Brasil; já faz 4 anos que não como mais a farofa amanteigada que só a minha mãe sabe preparar, nem o lombinho de porco, nem a salada de maionese misturada com a farofa – baderna que só eu sei fazer no meu próprio prato; já faz 4 anos que não passo mais calorão dentro da missa lotada na nossa querida paróquia; já faz 4 anos que não celebro o Natal com as portas e janelas abertas por conta do clima tropical. Já faz 4 anos e, ao final de 2016, fará 5!
O Natal na Áustria não é ruim – bem pelo contrário, conforme artigo da minha colega Kely -, sobretudo porque foi aqui que a canção de Natal mais famosa do mundo foi composta: Stille Nacht (Noite Feliz), mas é diferente! Nem certo, nem errado, apenas totalmente diverso ao que eu estava acostumada a vivenciar no Brasil!
É evidente o tom saudosista da minha crônica, mas ela traz também uma enorme dose de gratidão, pois quando já se viveu tanta coisa, quando já se conheceu tanto mundo e tanta gente – mais uma vez – diferentes, o pensamento se volta cada vez mais intenso para tudo aquilo que se viu, e para todos aqueles “meus” que ficaram do outro lado do Oceano Atlântico. É para vocês – e mais 200 milhões de brasileiros – que vão meus 5 desejos de Natal!
1. Segurança:
Assim como posso andar despreocupada pelas ruas do país onde moro, com meu filho de 3 anos de idade solto, feliz e sapeca pelas calçadas, desejo segurança suficiente para que essa cena seja repetida por todos os habitantes dos rincões do meu país, principalmente na minha cidade natal, Porto Alegre, ultimamente tão massacrada pela violência. Crianças, jovens, adultos, velhos, famílias, serenos para dar um passeio pelo bairro, para tomar um ônibus e ir à escola, para levar a namorada ou namorado ao cinema; de dia, de noite, de madrugada, quando se tiver vontade e do jeito que for: a pé, de carro, de transporte coletivo ou bicicleta!
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2. Justiça social:
A sociedade onde vivo está longe de ser perfeita, mas ainda assim me traz alguns ensinamentos. E posso afirmar que, quando o abismo social pobre x rico não é tão drástico; quando o filho da garçonete frequenta a mesma escola pública que o filho do presidente da república; quando o prefeito permanece em pé, aguardando sua ordem de chamada na fila do consultório médico; quando os preços praticados pelo sistema de mercado local são justos e acessíveis a todos os tipos de bolsos, então a vida de todos os cidadãos se torna mais serena e, consequentemente, menos patológica! E esse é o meu segundo desejo a todos na terra natal: que haja menos “pobres x ricos”, e mais “iguais”, ou, pelo menos, mais “semelhantes” e que isso possa trazer tranquilidade e alta autoestima para o desenvolvimento de vidas felizes e plenas.
3. Educação:
Um povo que não é instruído vive eternamente na Caverna de Platão, ou seja, acredita apenas naquilo que lhe acorrentaram, sem jamais saber se o que vê, de fato, verdade ou realidade é. Ao contrário desse raciocínio, percebo que uma nação bem educada não padece de tantos problemas básicos ou primitivos. Ganha-se espaço e tempo, portanto, para aquisição de bons ou excelentes patamares de evolução positiva e prosperidade. Por isso: educação, até não poder mais, a todos os recantos do meu belo país!
4. Diversão:
De nada adianta fazer tudo certinho se não houver aquele tempo para contemplar o céu, as estrelas ou frequentar aquele boteco legal com os amigos e amigas. Desejo a você, então, muitas rodas de conversa, abraços apertados, brindes em cálices cheios, sorrisos largos, mochilas nas costas e pés na estrada. Um tempo para o ócio; um tempo para reflexão; um tempo para se olhar no espelho. Um tempo para se fazer o que quiser, com quem quiser! Felicidade é o alvo!
5. Tolerância:
Nestes tempos em que vivemos, fazer parte de uma sociedade tolerante e que aceite o diverso é um privilégio de poucos e posso dizer que me enquadro nesse rol. Aqui, com quem as pessoas dormem, que grife de roupa usam ou que tipo de carro têm (quando têm) não significam muita coisa, porque isso é problema exclusivo das pessoas e não dos outros. Repito: a sociedade não é perfeita, sempre tem os “sem noção”, ignorantes, mas o que se percebe é que há uma dose grande de respeito pelo direito do outro em pensar diferente, se vestir diferente ou, simplesmente, ser diferente. Então, Brasil, esse é um dos meus maiores desejos de Natal para você: encontrar o caminho da convivência harmônica e de respeito com as diversidades! Não dói, não custa tentar e o ganho não tem preço!
Parece tudo muito utópico, não? Uma criatura que não mais mora no país, fazendo “desejinhos” de Natal para quem permanece na terra mãe? Exatamente! Sou eu mesma, muito prazer! E eu só desejo tudo isso porque garanto que essas coisas não são fruto de pensamentos mágicos. Esses 5 pedidos são possíveis – e muito – de serem atendidos. Eu vejo isso acontecer todos os dias e não estou morando no País das Maravilhas junto com a Alice. Não! É para lá de óbvio que nada vem do nada, como diz uma colega minha, mas se todos nós desejarmos igual, trabalharmos sério e focados para isso, duvido que não aconteçam. Duvido que não se tornem realidade e duvido que não saiamos da “Caverna”!
Duvido!
Por isso, ainda acreditando muito, desejo – além do que já lancei nessas breves linhas -, um feliz Natal, de muito discernimento, paz e alegria; algo que gostem para beber, algo que gostem para comer e um abraço apertado a todos do meu Brasil!
Até o ano que vem!
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4 Comments
Lindos desejos, que os mesmos se realizem para termos um Brasil mais justo.
Alô, Luciana.
Obrigada por ler e comentar!
Sim, é o que mais desejo para nosso país e para o maravilhoso povo que nele vive!
Grande abraço e boas festas!
Olá Ana !!!!
Muito obrigada pelos 5 desejos, !!!! Espero que todos sejam realizados !!!
O Brasil e os brasileiros merecem tudo oque você descreveu quando menciona a situação da Áustria em relação o Brasil.
A verdade é temos pouco !!!
Continue nos motivando com suas belas e verdadeiras crônicas !!!
Feliz Natal e um Ano Novo repleto de felicidades e muita saúde !!!
Ps.: Aiiii aiiii não conseguirei ir para a Áustria e Suíça este final de ano, Kkk não consegui tirar férias.
Outra coisa bem complicada aqui no Brasil, a prioridade é sempre da empresa.
Alles gute aus Brasilien !!!
Hallo, Nádia!
Obrigada por ler e comentar sempre.
É, meus desejos mais sinceros são esses e mais um monte (risos).
Pena que não poderás vir, mas na primeira oportunidade possível, quem sabe? Eu compreendo. Trabalhei 15 anos como advogada e, quando sobrava tempo, eu tirava férias. Quando não, não!
Muitas felicidade prá ti e pros teus. Feliz Natal e um excelente ano!
Até ano que vem!