Cinco mitos sobre morar em Abu Dhabi.
Os Emirados Árabes, e a região do Oriente Médio, como um todo, ainda estão cercados de mitos e más interpretações sobre a sua cultura e como é morar aqui. É de se compreender, já que a cultura árabe (a de verdade, que vai além do quibe e da esfirra) e a religião muçulmana são pouco difundidas pelo Brasil. O que chega para a maioria dos brasileiros são as notícias, quase sempre trágicas, ou as fantasiosas novelas passadas pela TV.
Com sorte, podemos ter acesso a outros meios de comunicação, mais ágeis e também realistas, que nos contam como é morar em lugares mais distantes do mundo. Aqui no Brasileiras pelo Mundo, por exemplo, você encontra centenas de textos sobre lugares que nunca sequer pensou que haveria uma brasileira morando!
Como parte da comunidade brasileira que mora em Abu Dhabi (e não Dubai, vale lembrar nesse texto), também sempre ouço questionamentos sobre aspectos de se morar aqui e que, nesse caso, não passam de um grande mito. Escolhi 5 deles para falar melhor para vocês e espero, com isso, ajudá-los a compreender melhor esse cantinho do mundo que tenho chamado de lar por quase três anos.
Mitos sobre morar em Abu Dhabi
1 – Vestimentas
O que iremos vestir quando formos morar em Abu Dhabi, ou mesmo passear, é uma dúvida que passou pela cabeça de toda expatriada! Como fazer a mala ou preparar a mudança de um lugar que faz sensação térmica de 60 graus no verão, mas que é também conservador e possui código de vestimenta? Bom, hoje, morando aqui, posso dizer que sim, você precisará fazer modificações, mas não é nada muito absurdo. Muito do que se lê na internet é mito, exagero, informação errada. Vou tentar esclarecer melhor.
Não precisamos usar burqa em Abu Dhabi. Nem abaya, nem véu. O único lugar em toda a cidade que você realmente precisará se vestir assim é para visitar o Grand Mosque. Prometo: apenas esse. Na praia, não precisa usar burkini, use seu biquíni brasileiro sem problema (atenção, apenas não recomendo fio dental). No mais, você se vestirá normalmente, mas com moderação. Não precisa se desfazer de todo o seu guarda-roupas, mas separe os shortinhos, vestidinhos e decotes para os lugares apropriados (casa de amigos, praia ou quando viajar) porque, no dia a dia, você precisará cobrir ombros e joelhos. E poderá sofrer censura se não seguir essa recomendação. Essa parte não é mito, viu?
Veja também: Lidando com a censura em Abu Dhabi
2 – Religião
É mito também as pessoas acharem que, por estarem se mudando para um país muçulmano (ou mesmo vindo à passeio, já recebi e-mail questionando isso), sofrerão perseguição por sua religião e não poderão praticá-la. Não caiam nessa. Já falei nesse artigo sobre ser cristã em Abu Dhabi que os Emirados Árabes se orgulham de serem um país, considerando a região e religião, tolerante com outras religiões, especialmente o Cristianismo. Há igrejas católicas e protestantes em Abu Dhabi e Dubai. Grupos espíritas também.
Você pode trazer na mala ou na mudança, sem qualquer problema, livros religiosos, imagens e terços. A única ressalva para essa liberdade religiosa que temos aqui é que ela não vá contra o Islã, ou seja, não pode trazer material que ofenda a religião oficial do país e nem ser proselitista. Por isso há igrejas aqui, para que as pessoas tenham o seu espaço para praticar sua fé e que ela não precise ser feita em público. Desde que seja realizado dentro da sua casa, com pessoas da sua própria religião, não há nenhum impedimento de seguir a sua fé, seja ela qual for. Pode ficar tranquilo!
3 – Árabe
Se precisássemos de árabe para morar em Abu Dhabi, vou te confessar que só haveriam árabes mesmo aqui. No máximo alguns indianos e filipinos, que são muito esforçados para aprender o idioma local. Portanto, pessoal, não se preocupem, não é necessário saber árabe para morar ou trabalhar, de modo geral, nos Emirados Árabes. A não ser que esteja explícito na vaga pela qual você concorre, claro.
Eu tive a oportunidade de estudar 3 níveis de árabe e, digo por mim, a chance é praticamente zero de alcançar a fluência morando em Abu Dhabi. Isso porque aqui fala-se muito mais inglês que árabe! Como acabamos não praticando, esquecemos facilmente o que aprendemos no curso. Por outro lado, se o árabe não é necessário, o inglês é fundamental! Por dia, convivemos com dezenas de nacionalidades e, sem inglês, fica muito difícil se virar por aqui. Arranjar emprego então, diria que bem complicado.
Leia também: Aprendendo árabe
4 – Terrorismo e atentados
Ainda bem, essa parte também é mito. Apesar de o nome “Oriente Médio” ainda estar relacionado a esses tipos de crimes, por aqui nos sentimos muito seguros e protegidos. Em todo o tempo que moro aqui, jamais soube de qualquer atentado terrorista. Apenas uma vez, uma mulher muçulmana esfaqueou e matou uma britânica em um banheiro de um shopping. Rapidamente, ela foi identificada, presa e, posteriormente, executada. Crimes como esse no país não ficam impunes, independente de quem tenha cometido.
Outro fator que nos deixa também tranquilos é porque o país investe muito em tecnologias e inteligências especializadas para a segurança local, inclusive em relação a esses atentados. Não é que nunca tenham tentado algo desse tipo aqui, é que a polícia consegue pegar antes que aconteça! Por isso, especialmente quando vejo as tristes notícias de atentados nos países da região, e agora por todo o mundo, agradeço por poder morar em segurança e não me preocupar com isso.
5 – Príncipe árabe
Mito, sonho ou ilusão, o fato é que um belo príncipe, ou sheikh, árabe ainda faz muitas mulheres quererem atravessar o globo para vir para cá. Vamos com calma, amiga! Muitos homens, nem sempre árabes – às vezes são africanos, indianos, paquistaneses… -, entram em contato com brasileiras através das redes sociais e se fazem de Don Juan apaixonado, levando-as a acreditar que encontraram o amor de suas vidas. Depois de ganhar o coração, querem também ganhar suas contas bancárias ou, o mais comum, o passaporte ou o visto brasileiro.
Cuidado, muito cuidado! Não acreditem em tudo que pessoas desconhecidas falam. Há meios de te enganar até pela webcam! A família deles nem sempre irá te aceitar de tão bom coração assim, o emprego deles pode não ser essa coisa toda, muito menos esse ouro todo que ele te promete… Se eles estão tão apaixonados como dizem, então que se esforcem para irem ao Brasil te visitar e, se chegarem a esse ponto, por favor, marquem em um local público, vá com uma amiga ou avise alguém de sua confiança desse encontro. E jamais forneça dados pessoais a alguém que você só conhece pela internet, por maior que seja o seu amor.
Leia também: Conheci um árabe na internet. E agora?
Todos os dias recebemos aqui no BPM mensagens de mulheres nessa situação. Algumas se deram conta que estavam caindo em um golpe, outras já estavam apaixonadas demais para perceberem isso. Muitas estão carentes e buscam desesperadamente uma vida melhor. Abram o olho! Se valorizem e se amem! Histórias de amor existem, mas, infelizmente, golpes também, aos montes.
10 Comments
Ótima
Matéria! Morei quase seis anos em Dubai e concordo com quase tudo! Um porém: uma amiga (que ainda vive em Dubai) teve uma imagem de Nossa Senhora apreendida no aeroporto! Não sei se isso mudou, já fazem algum anos, mas aconselho procurar saber melhor antes de levar! 🙂
Oi Renata, obrigada pela visita e comentário. Olha, realmente acho que isso pode ter mudado, pois nunca ouvi de ninguém que se mudou para cá nos últimos anos que tenha passado por isso… Talvez o caso dela tenha sido excepcional, ou, por algum motivo, eles não tenham concordado com o item que ela trouxe.
E ser ateu ou agnóstico, é um problema?
Nenhum problema, Derick. A questão é que você, da mesma forma se fosse cristão ou seguidor de outra religião, não precisa sair divulgando isso aos quatro ventos. O maior problema ligado à religião aqui é o proselitismo.
Que bom. E ainda bem que proselitismo é um problema aí, porque aqui no Brasil enche o saco ter que ficar ouvindo crente em ônibus, em ruas, tentando converter as pessoas. Tenho tanta curiosidade sobre os EAU. Já li aqui em outro texto seu que a homossexualidade é criminalizada, embora exista e possa ser facilmente observada. Isso tudo é interessante(não exatamente de um jeito bom) e intrigante. Há uns 2 anos, um cantor de quem gosto e é abertamente gay há muito tempo(Adam Lambert o nome dele), fez um show aí e não ouvi nem li sobre problema algum em relação à ele se apresentar aí. Como já disse, interessante e intrigante, isso. A legislação sobre LGBTs mudou algo nos últimos anos? Algum sinal de que estão sendo mais tolerados?
Ah, esqueci de lhe parabenizar pelo texto: interessantíssimo, assim como vários outros seus! Adorei 😉
Oi Derick, obrigada pelo comentário. Bom, creio que a legislação em relação a homossexuais não tenha mudado, mas o que se percebe é uma maior tolerância a esse comportamento, pelo menos “virtualmente” falando. Ainda não vemos casais homossexuais andando de mãos dadas nas ruas ou qualquer incentivo na mídia daqui, mas cantores (o exemplo que vc deu foi ótimo) não seriam barrados por serem assim. Ainda mais em Dubai, que é o emirado mais aberto.
Muito obrigado por responder, Pollyane. Que bom que você percebe uma maior tolerância, mesmo que apenas virtualmente. Todo passo avante, em qualquer lugar do mundo, é algo extremamente gratificante pra mim de se saber, ouvir. Parabéns pelos textos e torçamos que essa situação siga melhorando. Um abraço 😉
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Prezada Pollyane Martins.
Muito bom ler suas publicações. Excelentes textos e redações muito claras e de fácil entendimento.
Se você ainda mora em Abu Dhabi, será que poderias me ajudar em confirmar determinado assunto junto a um Banco daí?
Caso afirmativo, contate-me pelo e-mail Pedro.Choairy@embrapa.br, por favor.
Abraços Fraternos.
Olá Pedro,
A Pollyane Martins, infelizmente parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM