Eu me formei em Relações Internacionais, e durante a faculdade tive uma disciplina que englobava as religiões e as culturas mundiais. Quando descobri que iria morar fora do Brasil, eu simplesmente adorei a oportunidade de poder vivenciar umas das minhas matérias preferidas, da época da faculdade, na prática. Mas tenho que admitir que só depois que eu vim para Malásia é que realmente essa disciplina passou a fazer parte do meu dia-a-dia.
Antes de me mudar para cá, pesquisei muito sobre o país e descobri que a religião oficial é o Islamismo, mesmo ele sendo um país tão homogêneo. Na época da faculdade quando fiz essa matéria, eu lembro de o professor explicar que os muçulmanos não gostam do Natal, ou melhor, eles não comemoram o Natal, sendo em alguns países até proibido. Em novembro, quando estava passeando pelo shopping e me deparei com as decorações de Natal, fiquei desde então com uma pergunta martelando minha mente. Como a Malásia, um país com mais de 60% da população islâmica, comemora o Natal?
Desde esse dia comecei a pesquisar mais sobre o tema, e descobri muita coisa interessante que achei legal compartilhar com vocês.
Os muçulmanos mantêm uma relação de respeito com a data do Natal, mas para eles ela não é considerada sagrada pois eles vêm a figura de Jesus Cristo como um dos cinco profetas que vieram trazer a palavra de Deus ao homem. Diferente do catolicismo que enxerga a figura de Jesus Cristo como sendo o filho de Deus. O Natal é uma data muito importante para os cristãos, pois ela marca o nascimento do Menino Jesus. Os muçulmanos comemoram apenas duas festas religiosas: 1. o Eid wl-Fitr, que é a comemoração após o término do mês do Ramadã. Eu, particularmente, achei bem parecido com o nosso Natal, pois enfeitam as casas, fazem um grande jantar e presenteiam os amigos e a família. 2. A outra festa comemorada por eles é o Eid al-Adha, em que se comemora a obediência do Profeta Abraão a Deus.
Durante a minha pesquisa, outro fato que me surpreendeu é que em Brunei, um país que faz fronteira com a Malásia, eles proibiram o uso em público de qualquer coisa que remeta ao Natal, inclusive as decorações nos shoppings, ou seja, o país proíbe “sinais visíveis” de celebração natalina, afirmando que isso desvirtua os muçulmanos do caminho do bem.
Depois de pesquisar fiquei ainda com mais dúvida sobre o assunto, e me encontrei com uma amiga malaio–indiana que me ajudou a entender um pouquinho mais sobre isso.
Ela me explicou que Kuala Lumpur é uma cidade onde o turismo vem crescendo muito, pois a cidade é considerada um hub para vários países asiáticos. Além de nos últimos anos ter aumentado também consideravelmente o número de expatriados que vivem aqui, sendo esses, em sua grande maioria, cristãos. Com isso ela me explicou, que mesmo aqui sendo um país muçulmano eles não são tão radicais. O pessoal aqui não enxerga o Natal como uma festa cristã, e sim como uma festa comercial. Os shoppings montam as super decorações, oferecem descontos, os restaurantes oferecem jantares e almoços especiais no dia do Natal.
Conversando mais com minha amiga, uma coisa que ela me disse, e que eu ainda não tinha reparado, era que os muçulmanos aqui acabaram aceitando o Natal pelos motivos esclarecidos acima, mas ainda assim eles proíbem decorações que façam referência ao Menino Jesus e seu nascimento. Por exemplo, não vemos nenhum presépio montado na cidade, nenhuma decoração que tenha a ver com o tema nascimento do Menino Jesus.
Depois de conversar com ela, cheguei a uma conclusão: a Malásia é um país multicultural e, apesar de ser predominante a religião islâmica, é um país que sabe conviver e, o mais importante, que sabe respeitar todas essas culturas que vivem aqui. E por essas e outras razões que a cada dia que passa me encanta mais morar em Kuala Lumpur, pois cada é dia uma descoberta, uma aventura.
Gostaria de encerrar o meu texto hoje com uma frase de Gandhi que acho muito legal e que, a meu ver, se relaciona muito bem com o texto.
“A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos.” Mahatma Gandhi.
Aproveitando gostaria de desejar a todas as colunistas e todos os leitores um Feliz Natal e um próspero Ano Novo!
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