Nasci sob o signo de touro e uma das coisas que eu mais amo no mundo é comer. Quando era mais nova, acreditava que a quantidade era uma das coisas mais importantes e adorava ir a churrascarias, rodízios de pizza e comida japonesa. Após um tempo, passei a não comer tanto e a apreciar mais o sabor e a qualidade da comida, não somente pela sua quantidade.
Não sei se esse fator foi ou não influenciado pelo fato de eu morar no exterior. Explico: no Brasil, estamos acostumados com uma fartura de comida impressionante. Quando vamos a um hotel, somos geralmente recepcionados com um café da manhã bem rico, composto de uma variedade enorme de frutas, cereais, sucos, pães e frios, geleias, cafés e chás. Mesmo em pousadas mais simples, o café da manhã é bastante completo e isso não acontece na maioria das cidades que eu já visitei.
Estamos acostumados também aos tradicionais kilos e aos rodízios, tanto de churrasco como os de pizza e os de comida japonesa (pelo menos em São Paulo, os rodízios de pizza e de comida japonesa são muito comuns), com um “all you can eat” buffet que contém uma diversidade incrível de saladas e algumas vezes, até pasta, além dos garçons que rodeiam a sua mesa com as mais diversas variedades de carne ou pizza. O bacanal de comidas no Brasil é um paraíso para os amantes de um prato farto.
Em nenhum outro lugar do mundo que visitei, vi essa abundancia (exceto nos restaurantes brasileiros localizados no exterior). Cada país, cada cultura, tem um hábito particular quando se trata de se reunir para comer. Na Irlanda, lembro que muitos dos restaurantes ofereciam o “Early Bird”, que era um menu com dois ou três pratos (entrada e prato principal; prato principal e sobremesa; ou os três juntos) com preço pré-estabelecido. Já em Madrid, é muito comum ir a um bar de tapas e escolher, de um menu, aquilo que queremos comer. Muitas vezes, se pede diversas tapas (ou porções) para dividi-las com todos que estão na mesa.
Nas Filipinas, os hábitos de se comer em grupos se assemelham muito ao dos espanhóis (suponho que seja devido à colonização espanhola): quando vamos a um restaurante filipino, as comidas são servidas em travessas que são compartilhadas por todas as pessoas que estão na mesa.
A cozinha filipina é uma mistura das cozinhas malaia, chinesa, japonesa, indiana, árabe, americana e espanhola, combinadas com temperos e especiarias locais, ajustadas ao paladar filipino. Embora a comida de cada região seja diferente (por causa do tempero ou das especialidades), a cozinha filipina é um resumo da história desse povo mesclado, através de comércio entre países (como foi o caso das relações comerciais com a China e Malásia, por exemplo) ou das colonizações: durante três séculos, o país ficou sob o domínio da coroa espanhola que, após a guerra Hispano-Americana, foi forçado a vender as Filipinas para os Estados Unidos por 20 milhões de dólares e, por três anos durante a Segunda Guerra Mundial, o país ficou sob a dominação japonesa.
Os sabores filipinos se destacam por uma mistura de doce, salgado e ácido. Entre os pratos mais populares, além do simples peixe grelhado (que já é ótimo) e o espaguete com molho de tomate doce (eu não suporto), se encontram o léchon (o porco inteiro assado. Segundo o Anthony Bourdain, o melhor porco que ele já comeu foi em um restaurante em Cebu, cidade ao sul de Manila), o crispy pata (a pata do porco frita) a longganisa (uma linguiça rosada, típica filipina, que é adocicada e eu odeio), beef tapa (carne em fatias, curada e frita, geralmente servida com arroz de alho e ovo frito durante o café da manhã… Sim, isso é um café da manhã para eles), o adobo (porco ou frango cozidos no alho, vinagre, óleo e shoyu), o pancit (noodles, ou seja, o nosso miojo, refogado com legumes), o kare-kare (um cozido, à base de manteiga de amendoim, feito com carne ou frutos do mar e servido com uma pasta de camarão. Parece estranho, mas é delicioso), o sinigang (uma sopa, de carne, frango ou frutos do mar, à base de tamarindo, levemente ácida), o lumpia (rolinhos primavera) e o leche flan, uma espécie de pudim de leite com calda de caramelo.
A culinaria e diversificada com uma combinação de sabores que surpreende (algumas vezes de forma positiva e outras, nem tanto).
Um ingrediente que, no entanto, não pode faltar em nenhuma mesa é o arroz. Arroz, nas Filipinas, é mais consumido que no Brasil. Ele é tão consumido que, embora o país esteja entre os 10 maiores fabricantes de arroz do mundo (segundo estatísticas de 2009), ele também está entre os maiores importadores desse mesmo grão. Qualquer comida, para um filipino, que não contenha arroz não pode ser considerado uma refeição, sendo chamado de merienda (para nós, brasileiros, seria um lanche). Isso quer dizer que, para eles, uma pizza, um hambúrguer ou um prato de pasta cheio de molho são todos considerados meriendas e não uma refeição e porque em nenhuma refeição se pode faltar o arroz, o beef tapa é considerado café da manhã…
Outra curiosidade sobre os filipinos é que eles comem, geralmente, com garfo e colher. Não, a faca não faz parte dos talheres que vão à mesa (e sim, isso é muito estranho). Acredito que isso seja devido à colonização espanhola que não os ensinou o espanhol (que era considerado um idioma de elite) e tampouco deve tê-los ensinado a usar a faca, instrumento que poderia ser utilizado como arma em uma possível revolução. A colher, então, é utilizada para cortar alimentos e transportá-los à boca; o garfo é utilizado para segurar os alimentos e juntá-los na colher (acho eu…). Isso não é um desafio muito grande quando se come a comida tradicional porque as carnes já vêm em pedaços ou são extremamente macias, mas se torna sim um desafio quando se come um pedaço de frango, com osso: mesmo após pouco mais de dois anos vivendo naquelas ilhas, eu não entendo muito bem como funciona e prefiro comer os pedaços de frango com as mãos. Sim, isso pode parecer um pouco rústico e grosseiro da minha parte, mas, pelo menos, os pedaços de frango não saem voando pelo salão…
Bom, acho que é isso!
11 Comments
Tati,
Ainda bem que tem por onde escolher rsrs, eu ficaria so nos peixes mesmo rsrs. A ideia de mistura de molhos nao me agrada muito, mas, eu sou muito enjoada para comer mesmo, entao, minha opiniao nao conta rs. Gostei de saber que eles nao usam faca e fiquei imaginando a cena de comer o frango com osso rsrsrs. Otimo! xx 🙂
Que interessante Tati.. Não sabia nada sobre as Filipinas!
Comer macarronada com garfo e colher me pareceu super estranho da primeira vez, mas com o tempo fui vendo como é prático, Fiquei tentando imaginar uma pessoa comendo uma coxa de frango com colher e garfo e realmente não deu… Então fui procurar e achei um vídeo que clarificou um pouco. É… então parece que era isso mesmo… a colher faz o papel da faca, sua ponderação sobre a história da colonização faz muito sentido!
Aqui vai o link do vídeo, para ilustrar 🙂 http://youtu.be/3UitdxX9yr0.
Oi meninas!!! Desculpa o atraso em responder às mensagens, mas estou quase morrendo louca desde que voltei de férias! Hehe!
Em relação às comidas, esqueci de mencionar o balut, que é o ovo de pato (ou galinha) fecundado e cozido… Eu, particularmente, nunca provei essa “iguaria”, mas as fotos que vi não me parecem muito… Apetitosas. Para vocês terem idéia, ouvi dizer que o balut foi servido em uma das temporadas de Survivors em uma das provas (aquela de comidas nojentas)!
Joana, obrigada por compartilhar o vídeo! Certamente ele mostrará como é comer com garfo e colher. =) Mas eu te digo desde já: se eles parecem patos quando comem com garfo e faca (parecem meio sem coordenação), sou igual quando como com garfo e colher!!! Haha!
Beijos às duas!
Muito bom, Tati. Mas aqui na China a mesa também é farta demais, e tudo dividido por todos, o centro da mesa rodando e cada dando uma pincelada com seu par de chopstick. E faca também não se usa aqui. Nem garfo, nem colher…rs então, ou vc aprende a manejar o negócio ou… Também não sou muito chegada nas comidas agridoces, principalmente qdo são mais doces do que salgadas. Super interessante seu post. e Ann, vc precisa passar uma temporada na Asia… rs Grande abraço!
Oi Chris! Eu ouvi falar (hearsay) que os hashis são usados por questão de higiene: como se divide a comida da mesa entre todos, pegamos a comida com o hashi que não deve, nunca, tocar as nossas bocas. Embora seja um boato, acredito que tenha um fundo de verdade! Mas eu entendo completamente o que você quer dizer: se você não consegue comer de palitos na China, acho que a situação deve ficar um pouco complicada! Haha!
Sobre as comidas, os pratos que eu descrevi são os mais típicos. Esqueci de mencionar o tal ovo de pato (ou galinha) fecundado, mas eu nunca o provei nem tenho vontade. Vamos dizer que o fato de comer o feto de um animal não me parece algo agradável…
Um beijo!
Oi Tati,
Muito interessante o seu texto. Adorei a variedade de cardapio que se encontra por ai e adoraria experimentar um pouco de tudo. Eu adoro comidas exoticas (menos bichos com cascas!) e misturas de frutas e doces nas refeicoes salgadas. Como uma boa mineira, cresci comendo muito! Digo muito, pois, em Minas, comer bem e comer muito. Hoje, tenho consciencia de como isso nao e legal e tento comer menos quantidade e mais qualidade! E tento educar meu menino (hoje com apenas 2 anos) a comer mais saudavel. Ele nao gosta de nenhum doce ou chocolate ou algo que contenha muito acucar, por exemplo, pois nao foi acostumado ‘ainda’ com tal paladar. Enfim, acredito que comer bem e uma questao de educacao em casa e na escola. E, nisso, sei que fui muito ‘mal educada’ (no bom sentido), pois, fui treinada a comer muito, ate ficar satisfeita! Mas, e tudo uma questao de cultura e habitos, e, claro, bom senso. Um beijo e bon appetit! Fernanda
Oi Fe! Eu era o tipo de pessoa que competia com homens em rodízios de pizza… Por motivos genéticos, eu nunca fui obesa, mas isso foi mera sorte! Hehe! Mas eu entendo o que você quer dizer e admiro muito o que você está tentando fazer com o seu filho que não gosta de doces (=O)!
O cardápio de um restaurante filipino é bastante variado, mas se parece muito com alguns pratos típicos espanhóis. Outra vez, a colonização! 😉
Beijos!
Oi Tati!
Muuuuito legal a sua explicação!
Meu namorado é filipino, então vim aqui em busca de alguma “luz” pra entender a cultura dele, hehe
Aliás, como é morar lá?
Meu namorado mora em Nova York há anos, então boa parte do seu perfil tem a ver com o ocidental.. gostaria de saber como que os filipinos nascidos e criados lá são.
A comida parece bizarra! Vez ou outra ele (ou minhas cunhadas) postam fotos de pratos que eles vão comer no jantar – parece tão esquisito!! Hehe
Beijo!
Oi Raphaela! Desculpa o atraso em responder à sua mensagem!
Existe muita coisa gostosa na culinária filipina. Eu, particularmente, sou fã da culinária bicolana (que mistura apimentado com leite de coco) e do arroz com aligue, que seria a gordura do carangueijo. Eu gosto de muitos outros pratos, mas existe coisa bem estranha sim, como o balut. Acho que preciso desenvolver outro texto sobre os hábitos estranhos de comida daqui! 😉
Sobre os filipinos. Tudo que eu disser, seria generalização porque, como em todos os lugares do mundo, existem pessoas de todas as formas. De forma geral, eles são bem religiosos/católicos, vão às missas todos os domingos e são voltados para a família. Quando digo família, quero dizer TODA a família, incluindo avós, tios e primos.
Em muitos aspectos, eles são parecidos com os brasileiros e em outras são completamente diferentes. Mesmo morando aqui há três anos, passo por processos de aceitação de muita coisa todos os dias… =) Mas isso faz parte da vida!
Continue seguindo o Brasileiras pelo Mundo!
Um beijo!
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