Como é viajar sozinha pela Turquia
Nesta minha jornada de volta ao mundo, cheguei na Turquia sem nenhum planejamento. Era para eu ainda estar na Bulgária, mas o destino me reservou experimentar a diversidade turca no mês em que o mundo celebra o Dia Internacional da Mulher.
Um dos principais aprendizados que adquiri neste primeiro ano de viagem foi saber lidar com os imprevistos, aceitá-los sem sofrimento e concentrar minhas energias na solução do problema, ou seja, no próximo passo.
O cancelamento do programa de voluntariado que eu participaria na Romênia, em abril, me fez encurtar minha estadia na Bulgária e modificar todo o meu roteiro. Portanto, ao invés de subir, decidi descer para o país vizinho euroasiático.
A minha intenção aqui não é detalhar a cultura, história, curiosidades e locais turísticos da Turquia. Isso as minhas companheiras colunistas que moram na região relatam com propriedade nos textos que recomendo abaixo.
Leia também: 10 Curiosidades sobre a Turquia, Dez motivos para morar na Turquia, Choque cultural na Turquia, Boas maneiras na Turquia, Custo de vida em Istambul
O objetivo é compartilhar minhas experiências pessoais mais marcantes, num voo solo, como mulher brasileira.
Perrengue na imigração
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Viajando pela Europa desde março de 2017, a Turquia é o meu 13º país. Pela primeira vez, tive problemas com a imigração e fiz um desabafo detalhado aqui.
Ao cruzar a fronteira da Bulgária com a Turquia de ônibus, fui a única passageira escolhida, tanto no controle de saída quanto no de entrada, para passar por todos os tipos de revistas com diferentes policiais em salas privadas (onde, além de pedirem para eu tirar parte da minha roupa, acessaram todas as pastas da galeria de fotos do meu celular). Não sabia se o motivo era por eu ser a única mulher viajando sozinha ou por ser brasileira.
De acordo com uma amiga advogada e estudiosa política, eles podem ter desconfiado que eu fosse uma observadora internacional (pela quantidade de carimbos no meu passaporte) ou ativista política. Segundo ela, a Turquia está vivendo uma ditadura velada. Milhares de professores, jornalistas, militares contrários ao regime e demais funcionários públicos, todos turcos, estão presos. Não há mais liberdade de expressão.
Liberada sem nenhuma explicação e com mais um carimbo no passaporte, segui viagem para Istambul e consegui chegar ao meu destino com a ajuda de muitos turcos, que felizmente conseguiram tirar essa primeira má impressão causada pelos policiais. Um inclusive pagou a minha passagem de ônibus porque o motorista não tinha troco.
No mínimo, três pedidos de casamento por dia
Passeando pelas ruas de Istambul, fiquei surpresa como alguns homens locais identificam rapidamente as mulheres latinas. A grande maioria acertou no primeiro chute que eu era brasileira (e olha que eu estava vestindo um casacão típico de mulher europeia, hein?!). Até aí tudo bem… nada desrespeitoso. O inconveniente desta experiência é que parece que eles têm um fetiche com a gente e tentam de todas as formas uma oportunidade de estreitar relacionamento. Fui abordada várias vezes na rua e nos mercados recebendo numerosos convites para jantar em bons restaurantes, ofertas de presentes e viagens locais e, acreditem, pedidos de casamento. Eles fazem questão de dizer o quão bem sucedidos são financeiramente – como se isso me impressionasse.
No primeiro dia, como eu estava interessada em conhecer a cultura local, fui simpática e até respondia algumas perguntas quando abordada. Mas no segundo, eu já estava de saco cheio de receber tantos cartões de visita que passava por eles como se estivesse em uma trilha, no meio da Natureza, e ao meu redor só tivessem árvores.
É claro que fiz amigos turcos que não se comportam desta maneira. Nada deve ser generalizado. Mas confesso que essa abordagem da grande maioria me perturbou e cansou. Reflexo de um país extremamente machista.
Segurança
Tirando a inconveniência da fronteira e dos “xavecos”, a Turquia é um país extremamente seguro, mesmo para as mulheres viajantes. Circulei durante duas semanas sozinha em Istambul e na Capadócia, em diferentes ambientes e horários (exceto de madrugada), e não passei por nenhuma situação de risco. Inclusive, fiz várias trilhas sozinha sem nenhum problema. O transporte público é acessível e é possível se comunicar mesmo com quem não fala inglês.
Hospitalidade
Nota 10 neste quesito. Desde a rodoviária até o aeroporto, recebi ajuda. Se eles não falam inglês, ligam para quem fala e pedem para traduzir. Se não conseguem te explicar como chegar ao local, te pegam pela mão e te levam até lá. Se você só tem dinheiro para comprar a refeição principal, eles te dão o chá e a sobremesa de cortesia. Voltando de uma trilha com um grupo de couchsurfers, por exemplo, resolvemos nos dividir e pedir carona. O último motorista, como não ia até o nosso destino final, nos deixou (eu e um amigo paquistanês) num ponto de táxi e pagou a corrida. Aprendi a não questionar presentes não intencionais como esse e apenas aceitar a abundância do universo.
Outro exemplo de hospitalidade foi em uma escola que visitei na Capadócia. O diretor não falava inglês, mas me recebeu prontamente com chá, balas e lencinho perfumado enquanto um dos professores foi chamar a intérprete de 7 anos (uma aluna fluente em inglês filha de mãe australiana e pai turco). Após entender meu projeto, o responsável pela instituição permitiu a minha visita e a observação de uma aula sem nenhuma restrição.
Atrações
Como mencionei na introdução, o meu foco não é dar dicas sobre os pontos imperdíveis da Turquia. Até porque não curto a ideia de explorar um local de acordo com as experiências de outros e nem recomendo que façam o mesmo segundo minhas experiências. Temos gostos e hábitos diferentes. Prefiro sair livremente, sem nenhuma pretensão, e permitir que as ruas, trilhas e caminhos da cidade me levem naturalmente ao que há de mais belo e saboroso conforme o meu olhar e necessidades. Compartilho as riquezas que o país me apresentou neste álbum e nestes vídeos sobre Istambul e Capadócia.
Minha recomendação? Inclua a Turquia na lista de destinos para visitar antes de morrer. Vale muito a pena! As imagens falam por si só.
2 Comments
Olá vanessa.
Gostava muito de visitar a Turquia, mas o medo é mesmo ser mulher e viajar sozinha. Como é um pais arabe, achas que pode ser perigoso fazer couchsurfing?
Andar na rua á noite, achas que pode ser perigoso?
Olá, Lara. Eu usei Couchsurfing na Turquia sem nenhum problema. O meu anfitrião inclusive foi um homem solteiro. Mas é claro que usei os critérios de sempre para filtrar e escolher uma pessoa de confiança. A dica é ler todas as referências de mulheres que já se hospedaram com a pessoa. Quanto à questão sobre andar sozinha à noite, eu sou totalmente diurna, dificilmente saio à noite. Mas as cidades que visitei são bem seguras, não tive medo por estar sozinha em nenhum momento. No entanto, tenha em mente que a cultura é bem diferente e alguns homens nos abordam a todo instante fazendo vários convites. Isso me incomodou, mas não me fez sentir insegura. Eu recomendo muito a Turquia! 🙂