Como foi a Copa no país que não foi para o Mundial.
O chileno é fanático por futebol, às vezes chega a ser um pouco exagerado e passional com o assunto, mas na Copa do Mundo de 2018, infelizmente, o Chile não conseguiu se classificar. Essa é a terceira Copa que passo aqui no país e a primeira que o Chile não participa e, realmente, senti falta daquela empolgação, de ver o pessoal todo animado esperando pelos jogos e de ver a Plaza Italia, ponto de encontro das comemorações nacionais, cheia de pessoas alegres e com as bandeiras em punho.
Na Copa de 2010, me lembro que fomos para o centro de Santiago com um grupo de amigos colombianos torcer pelo Chile em um jogo contra a Espanha. Me lembro de ver aquela multidão reunida ao redor de um telão atrás do edifício La Moneda, todos em silêncio e apreensivos pelo resultado.
Fiquei triste que o Chile não está neste Mundial, mas confesso que até eu mesma estava desanimada para essa Copa, mesmo torcendo pelo Brasil. A situação do nosso país não é das melhores, corrupção, impunidade, desmonte na saúde e educação e retrocesso atrás de retrocesso, me fizeram pensar se valeria a pena torcer para um país que vai de mal a pior.
Fiquei pensando se uma vitória do Brasil nessa Copa não beneficiaria os políticos corruptos, já que a população estaria contente celebrando e se esqueceria dos reais problemas do nosso país, se esqueceria até que há eleições esse ano.
Porém, poucos dias antes de começar a Copa, meu filho me perguntou se eu sabia que faltava poucos para o Mundial da Rússia e vi um certo brilho nos olhos daquela inocência infantil descobrindo algo novo. Percebi que ele começou a acompanhar os jogos, a se interessar por futebol e a se preocupar pelos resultados e me dei conta que era a primeira Copa do Mundo que ele, realmente, estava entendendo e começando a desfrutar.
O primeiro jogo do Brasil nem dei importância e ele foi lá, buscou sua camiseta amarela e pôs-se a torcer pelo Brasil. Neste momento, entrei no túnel do tempo e fui parar lá na primeira Copa de que eu tenho consciência que, acho que era a Copa de 1990 quando a Alemanha se tornou campeã. Passei pela Copa de 1994, me lembrei de Bebeto, Romário, Dunga, Branco e Tafarel, me lembrei daquela final Brasil x Itália, com o coração dividido já que sou neta de italianos, revivi aquela cobrança de pênalti perdida por Roberto Baggio e os gritos de “é tetra, é tetra, é tetra….”. Pois é, a maternidade faz isso com a gente, nos faz revisitar vários momentos da nossa infância e nossas memórias.
Percebi que era a primeira Copa do Mundo que meu filho curtia e eu não ia curtir com ele? Ele estava construindo suas memórias e seria a sua primeira Copa da qual teria lembranças, portanto eu teria que ser parte dela. Além disso, comecei a perceber que muitos chilenos conhecidos nossos estão torcendo pelo Brasil, meus vizinhos de frente sempre vem conversar sobre os jogos, as mães do colégio do meu filho me mandam mensagens e sempre comentam sobre os jogos quando nos encontramos. Foi aí que me dei conta que não eram só os brasileiros que estavam torcendo para o Brasil, estamos ali representando muitos outros países que não puderem participar do Mundial. Talvez, muitos chilenos não concordem com essa visão, mas a maioria das pessoas com quem me relaciono vem contentes conversar sobre cada vitória da nossa equipe.
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No jogo contra o México, tínhamos acertado com alguns amigos de ver o jogo em um restaurante onde a torcida brasileira se reúne e me dei conta que lá não havia só brasileiros, havia muitos chilenos torcendo junto. A alegria era tanta que havia até uma equipe de televisão gravando a comemoração e fazendo uma matéria sobre a torcida brasileira no Chile.
Como o local estava muito cheio, fomos para o restaurante do lado que justo era um restaurante mexicano e nos sentamos a torcer junto com os vários torcedores que estavam lá. Aí vem a segunda lição, aprender a respeitar o adversário, mostrando para o meu filho que é só um jogo e que depois dali as pessoas devem seguir se relacionando bem e de forma amistosa.
Cheguei a conclusão de que se o Brasil ganha a Copa seria uma vitória do povo, já cansado por ver nosso país dilacerado pela corrupção e que necessita um pouco de alegria.
Percebi que a torcida do Brasil pela sua alegria une outros estrangeiros e os aproxima para torcer junto conosco e acho que era isso que queria que me filho se lembrasse de que o futebol também pode ser uma forma de aproximar as pessoas e que é possível que todos convivam de forma amistosa. Pode parecer uma visão um pouco romântica, mas gosto de usar exemplos reais para tentar ensinar algo positivo. Todo mundo deve conhecer casos de violência que não terminaram bem envolvendo o futebol, acho que como mãe tenho o papel de ensinar que existe outro caminho.