Como foi o meu parto na Áustria.
Na noite de 11 para 12 de fevereiro, não consegui mais achar posição nenhuma para dormir. Tudo era incômodo. Fora isto, fui tomada por um calor totalmente anormal. Tudo parecia ferver: mãos, pés, barriga, tudo! Até que chegou um momento em que tive de levantar. Já eram quase duas horas da manhã. Meu esposo parecia estar de prontidão, pois estava na sala, lendo o jornal. Relatei o que estava sentindo e imediatamente executamos tudo o que havíamos visto no Curso de Pais.
Procedimento inicial é a caminhada e, nem isso eu conseguia. Seguimos em forma de trenzinho de carnaval. Logo senti a primeira contração e aqui, identifiquei o aprendizado nas aulas de ginástica: eram as contrações preparatórias. Elas vêm em intervalos espaçados, a cada 15, 20 minutos, e duram ao total um período de uma hora. Depois viriam as dores mais frequentes e quando chegassem a um lapso intermitente de cinco minutos, era a hora de chamar o transporte hospitalar (Krankenwagen).
Ao longo do curso fomos fortemente advertidos a não chegar ao hospital com carro particular. As palavras da enfermeira foram decisivas: “Não venham com seus carros! Vocês já receberam o número do transporte hospitalar. É só ligar e em dez minutos, eles estarão nas suas portas. Em caso de rompimento de bolsa, ou outras complicações, vocês já estarão em um veículo equipado para um atendimento emergencial durante o trajeto. O transporte hospitalar não custa nada, então, façam uso dele para o seu bem e o bem dos nenês.”
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Sempre lembrando que todo esse “luxo” é o sistema público de saúde disponível no país!
Muito bem! De fato, dez minutos após a ligação, chega o transporte hospitalar. Como estava nevando muito, os socorristas já não deixam mais você caminhar sozinha até o veículo. Um deles lhe conduz pelo braço e auxilia na subida. Ao chegar ao hospital, você já não é mais autorizada a andar, por questões de segurança, sua e do bebê. Chega a cadeira de rodas e os socorristas lhe conduzem até a porta da maternidade. Lá, os profissionais com quem você conviveu em razão dos cursos, ou em razão dos exames, já estão lhe aguardando. E isso traz enorme conforto e segurança em um momento tão delicado. Feitos os exames preliminares, constatou-se que o pequeno estava encaixado para nascer, mas as contrações definitivas ainda não se haviam instalado. Precisávamos aguardar um pouco mais.
No Curso de Pais, fomos treinadas a tolerar um intervalo de até doze horas; pois esse é o tempo que dura todo o trabalho de parto, desde a saída de casa, até o nascimento. E, conforme já referi em texto anterior, a ampla prática no país é a do parto natural.
Neste momento, adentra meu quarto o doutor responsável pelos procedimentos naquele dia. E é importante aqui, abrir-se um parêntesis: nenhum médico da rede pública faz partos naturais na Áustria. Seu obstetra, portanto, que cuidou de vocês durante todo o pré-natal, não chegará perto de você no dia do parto. Quem coloca os pequenos no mundo são as Hebammes (o equivalente as nossas Enfermeiras Obstetras). Essa especialização é adquirida através de curso superior. E, somente as enfermeiras que têm o curso superior, com ênfase em parto, podem procedê-lo. O médico está na estação de trabalho para controle dos procedimentos e para a eventual necessidade de uma cesariana.
Através do relato da enfermeira, o doutor dispara: “o pequeno está com a cabeça já ‘na porta’ “, e questiona-me se eu desejo ir para casa e aguardar mais um pouco, ou se tenho interesse em ficar e aplicar um “Tablete”, que, creio eu, seja um estimulante para as contrações. Por óbvio, optei pelo tal “Tablete”. E, na verdade, foi-me aplicado apenas metade, haja vista não ter sido necessário um inteiro.
Não optei pelo parto na água, mas, a indicação da Hebamme era essa naquele momento. Ok! Banheira pronta, sensor via rádio na barriga, e é através desse sensor, envolvido por uma rede à barriga da mãe, que a enfermeira tem total controle, via monitor em tempo real, das contrações, dos batimentos cardíacos da mãe, e dos batimentos cardíacos do nenê e uma tal de infusão na veia. Essa infusão aliviaria quaisquer dores ou incômodos que eu tivesse, exceto as contrações, porque essas, eu precisava sentir.
Para mim, na prática, aquilo foi uma “droga do barulho”, que me fez pedir o galeto do meu pai, me fez cantar “Negrinho do Pastoreio”, aos prantos na banheira, e me fez apagar por alguns instantes, até ser acordada pela pior das dores que já senti na vida, e com a voz da enfermeira, como se fosse uma treinadora esportiva: “prepare-se!” Força, empurre, empurre. Aguarde, aguarde! Agora! Agora: o cabelinho é preto, o cabelinho é preto! Excelente, continue expirando! Deixe o nenê trabalhar! Ele precisa – sozinho – girar noventa graus. Respiração curta, não empurre, não enforce. Perfeito, perfeito! Ele girou, girou! Super! Parabéééns!”
Após, praticamente doze horas de atividade (saímos de casa às 04:10 e nosso pequeno nasceu às 15:59) exaustiva, nosso trabalho em equipe (médicos, enfermeiras, fisioterapeuta, eu, meu marido e nosso Pinguinho) estava concluído com muito sucesso. E tudo isso, graças a um sistema público de saúde que, além de preparar toda a família, mune você de segurança, de conhecimento, de eficácia e, por fim, de paz!
Todo o meu respeito e gratidão!
10 Comments
Aninha,eu acho que todos esses procedimentos e o sistema,copiaram do Brasil. Eu acho…não,tenho quase,certeza…Parabéns e um beijão a todos vocês!
Oi, queridão.
Hum, acho que tu tens razão. Foi cópia literal do nosso sistema de saúde. Que tristeza!
Mas quanto mais gente no Brasil tomar conhecimento de que existe esse tipo de saúde pública é possível, creio que, um dia, poderemos reivindicar algo, pelo menos, semelhante!
Obrigada por ler e comentar.
Beijão!
Olá! Viena tem lojas legais para enxoval de bebê? Pode indicar algumas ou algum bairro onde estejam concentradas?
Oi, Aline.
Aqui, as mamães são bem tranquilas quanto às roupas para o nenê, e há muitas que compram, inclusive nos brechós, porque a mentalidade é de não precisar gastar com roupas novas para um serzinho que irá crescer e, daqui a pouco, a roupa terá de ser doada ou guardada para o próximo irmãozinho. É um pensamento muito comum entre as mães daqui.
Eu não fiz enxoval, porque ganhei tudo de presente da minha família no Brasil, mas quando o David cresceu e eu precisei renovar o estoque, eu recorria às seguintes lojas:
1. Babywalz – ela só existe no Gasometer, em Viena (http://www.gasometer.at/de/einkaufen/geschaefte/mode-papierwaren-optik-buch/babywalz). Se tu queres coisas legais, desde roupa até carrinho, assento prá carro, brinquedo, tem tudo lá e o preço é, geralmente, muito bom. Era a minha preferida! Comprei lá, inclusive, o terninho pro batizado. Endereço e telefone: Guglgasse 6, 1110 Wien
Telefon: +43 (1) 743 12 95 – Fica no 11° Distrito. Tem metrô que para na frente.
2. C&A – frequento até hoje prás roupas do dia a dia, porque são baratas, a qualidade é boa, mas dentro de 3, 4 meses, preciso comprar novas. Tem, em praticamente todos os distritos de Viena.
3. H&M – frequento pelos mesmos motivos da C&A.
4. Indico também a Rua das Compras (Mariahilfstrasse). Lá só existem lojas para todos os gostos, bolsos e idades, então, podes caminhar a vontade (literalmente), escolher, entrar e verificar o que é do teu gosto.
Espero ter auxiliado. Qualquer outra necessidade, pode contatar.
Abraço.
Olá! Como funciona a licença maternidade na Áustria?
Obrigada,
Oi, Karyne.
Funciona um pouquinho diferente do que no Brasil. Aqui é chamada de Karenz (Carência) e pode ser desfrutada em até 3 anos com aporte financeiro do governo inclusive.
Para se ter direito é necessário estar com a documentação de residência ou permanência totalmente em ordem e chancelada no país.
Segue aqui um outro artigo meu que explica mais detalhadamente: https://brasileiraspelomundo.com/austria-como-se-cuida-do-futuro-da-nacao-331636576
Espero ter auxiliado.
Grande abraço.
Olá Karyne,
Uma dúvida, há a opção de parto normal porém com anestesias como no Brasil ou há a opção apenas do parto naturalizado? E em planos particulares funciona da mesma forma?
Alô, Juliana.
Obrigada por ler e comentar.
No hospital onde fiz o pré-natal, o esclarecimento sobre a PDA era uma palestra de manhã inteira com todas as gestantes. E, nessa ocasião, tu poderias optar pelo parto sem ela, com ela, ou apenas em caso de emergência, que foi o que eu escolhi. Tu tens de preencher um formulário e assiná-lo com a opção que escolheste. Esse documento fica com o hospital.
Todo esse procedimento foi feito pelo sistema público.
Infelizmente, não sei te dizer como funciona o sistema privado.
Abraço!
Querida Ana Dietmüller,
Primeiramente MUITO obrigada pelo seus textos. São atrativos, fácil de ler e o mais importante super informativos. Já li alguns e continuarei lendo mais. Pois desde que descobrir Brasileiras pelo Mundo amei o blog!
Agora vamos ao tema. Eu (Brasileira) e meu marido (Espanhol) estamos indo mês que vem para Villach (Carinthia, Austria) em função do trabalho dele. Além disso, estarei no 4 mês de gestação. Com isso gostaria de saber:
1. Li que filhos de estrangeiros nascidos na Austria não são austríacos, correto? Caso verdadeiro, temos que nacionalizar nosso filho/a com uma das nossas nacionalidades? E como fica a questão do sobrenome da criança? Porque no Brasil podemos colocar até quantos sobrenomes os pais querem e como querem. Fiquei sabendo que na Austria é só o do pai, correto?
2. Vi que você teve o parto na água (parabéns!). Parto na água é uma prática comum na Austria?
3. Você também comentou sobre o Curso de Pais. Ele é ministrado só em alemão ou teria em uma outra língua, como inglês? Estamos estudando alemão mas ainda não somos fluentes.
Muito obrigada e continue escrevendo pois nos ajuda muito!
Forte abraço,
Angélica
Cara Angélica, muito obrigada por ler e comentar.
Fico feliz em poder auxiliar com minha escrita.
Parabéns pela mudança para Villach, é um dos lugares mais lindos da Áustria, bastante badalado pela alta sociedade, mas muito lindo. Meu sogro nasceu na Carínthia.
Vamos lá:
1. Para a lei austríaca, quando do nascimento, só é austríaco quem nasce de pai ou mãe austríaco. Não é como no Brasil, que leva em conta nascer em solo brasileiro. Aqui, precisa do laço de sangue austríaco. O registro do/a filho/a de vocês precisa ser feito nas respectivas embaixadas (brasileira e espanhola), mas antes, veja se a lei espanhola autoriza registrar em ambas nacionalidades ou, se registrando como espanhol, perderá a nacionalidade brasileira. Sugiro tomar essas informações prévias para não ter nenhum susto após os dois registros. O sobrenome da criança pode ser registrado normalmente de mãe e pai, mas o austríaco não usa, no dia a dia, 2 sobrenomes. Outro alerta que faço é que, por experiência pessoal, nomes muito compridos (eu tenho 5) trazem muito problema aqui. Quando fui fazer conta em banco, eles pedem pra escolher qual nome eu quero usar; nos consultórios médicos eu dou apenas meu último sobrenome e eles não acham, porque o sistema registra tudo e começa com meu antepenúltimo sobrenome que, aqui, ninguém consegue dizer direito; ou simplesmente, eles cortam um pedaço no nome. Não por maldade, mas porque alguns sistemas não têm tantos caracteres e eles precisam, simplesmente, encurtar. Mas o sobrenome da mãe e do pai, não há problema nenhum.
2. Sim, na Áustria o parto na água é comum. É uma outra alternativa.
3. O curso de pais, no nosso hospital, foi ministrado em alemão porque eram, no mínimo 20 casais, então, a língua usada é o alemão para abranger a todos. Se tu tens perguntas, podes fazer em inglês, mas receber o curso em outra língua que não o alemão, não tenho conhecimento.
Espero ter auxiliado. Qualquer coisa, pode escrever de novo.
Abraço e feliz gestação!