Brasil, Israel e Canadá.
A vida é repleta de comparações das mais variadas naturezas: desde as mais triviais, realizadas diariamente — comparações entre compras, marcas, restaurantes — até as mais subjetivas ou desnecessárias, que incluem comparações entre pessoas. Esta lista de comparações voluntárias e involuntárias se estende até o ponto de ficar cansativa. Afinal, comparar faz parte da natureza humana? Acredito que a expressão “não é melhor nem pior, apenas diferente” sirva de forma simples para o assunto a que quero chegar: o imigrante e a tendência de comparar seu país natal à residência nova. Será que tentamos comparar o que não é comparável?
Como acontece com qualquer imigrante, a saudade chega e ela começa a fazer parte do dia a dia. Os cheiros da infância e do domingo não existem mais, mas dão lugares a novos cheiros e tradições. O contato direto com família e amigos antigos passa a ser por meios digitais, e cada encontro é sempre tão especial, carregado de saudade acumulada. A beleza da língua portuguesa começa a soar como uma música aos ouvidos, algo que antes você mal percebia. Em um belo dia, aquela sensação chata chega, devagarzinho: o “botão da comparação” foi ativado. “No Brasil tal coisa era assim, mas aqui não é” e vice-versa; e isso vira um círculo vicioso que prefiro cortar já lá no início. Por que não falar sobre isso, então?
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Antes de imigrar para Israel, tive a experiência de viver no Canadá algumas vezes. Primeiro, como estudante de Ensino Médio por seis meses, depois, maiorzinha, em um intercâmbio da Universidade e, por último, como adulta durante um ano. Já escutei bastante a pergunta: “você prefere morar no Brasil, Canadá ou Israel?”. A resposta seria tão extensa e relativa, que o interlocutor não teria paciência de escutar.
Esta resposta é extremamente pessoal, claro, e está relacionada com o que você prioriza, como qualidade de vida, proximidade cultural, família & amigos, clima, possibilidade de emprego, facilidade de visto, língua, entre tantos outros fatores, muito deles simbólicos e não mensuráveis. Não se pode negar que o Canadá é o país do momento e, por isso, não há mistério para ninguém sobre suas possibilidades, o clima, a qualidade de vida etc. Israel é um país exótico para muitos, ainda leva uma visão equivocada de “perigo e guerra constante”. E, se você não é de ascendência judaica, muito provavelmente nunca teria ouvido falar sobre imigrar para cá.
Acabo, então, meio sem querer, fazendo aquele triângulo de comparações entre Brasil, Israel e Canadá. Mas como comparar países tão diferentes e por quê? Acredito que seja uma ação involuntária de todo o imigrante, como comentei anteriormente, e isso pode gerar algumas frustrações desnecessárias.
A verdade é que comparações triviais fazem parte da rotina, como no caso da alimentação. Em Tel Aviv, onde moro, tanto compras de supermercado quanto refeições na rua têm preços bem elevados, se comparado ao Canadá e ao Brasil. Por sua vez, a alimentação mediterrânea de Israel é bastante completa no quesito saúde: muitos vegetais e frutas! No Canadá, por exemplo, apesar da vasta variedade de cozinhas internacionais, ainda há bastante apelo para fast food.
Outra comparação que faço é em relação ao clima; em Porto Alegre, minha cidade natal, as estações do ano são bem marcadas, apesar de sempre existirem aqueles períodos quentes no inverno e vice-versa. Tel Aviv possui um verão bem extenso, seco e inverno curto. As outras estações, em termos de sensação térmica, duram apenas algumas semanas (risos). Já o Canadá é bem diferente: o inverno é rigoroso, frio e as cidades e atividades diárias são pensadas para isto. A carência de vitamina D, pela baixa incidência de luz solar, é um fator conhecido pela população, muito relacionada à depressão sazonal.
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Já em Israel, não falta incidência de sol; pelo contrário, o verão é uma época de praias cheias, dias com céu azul e raríssima possibilidade de chuva durante meses. A questão da limpeza também gera várias comparações na minha mente. O Canadá está à frente do Brasil e de Israel com relação a consciência social e ambiental: lixo nas ruas, programas de reciclagem, destino de resíduos, entre outras ações. Não poderiam ficar de fora, para nós imigrantes, comparações relacionadas com o mercado de trabalho. Enquanto no Brasil o desemprego cresce, Israel teve sua moeda como a que mais se valorizou no ano de 2016, e o país apresenta um mercado de trabalho aquecido e em crescimento. Claro, também há as comparações simbólicas e emocionais, talvez essas que determinem nossa permanência em certo local e façam todas as outras comparações perderem a sua importância.
O coração de imigrante fica realmente dividido e, tenho percebido, ao invés de comparar as diferenças, o melhor é celebrá-las e entender que cada local é especial da sua forma, no seu momento e com seus prós e contras. Melhor ou pior talvez seja a forma mais simplória e equivocada de comparar cidades, deixando de lado todo o contexto e história que cercam a sua realidade e todo o simbolismo da sua escolha como imigrante.