Congo: o berço da SAPE
O que é a SAPE?
SAPE é a abreviação de Société des Ambianceurs et des Personnes Élégantes, que traduzindo para o português fica Sociedade de ambientadores de pessoas elegantes. A SAPE é um estilo de vida, um estilo vestimentário, no qual os adeptos buscam estar sempre o mais elegante possível. É uma filosofia de vida, e até mesmo um vício para muitos.
O berço da SAPE é a capital da República do Congo, Brazzaville, onde podemos encontrar uma maior concentração de seguidores do estilo. Há também um grupo de sapeurs (como chamamos os adeptos do estilo) na cidade de Pointe Noire.
Origem da SAPE
A origem desse movimento remonta ao período colonial, no qual os aristocratas franceses utilizavam somente roupas com tecidos importados para se distinguirem do povo local. Foi nessa época que essa filosofia nasceu. A princípio, era somente uma maneira de se diferenciar dos demais, utilizando roupas de qualidade superior. Nesse período, os tecidos de qualidade eram realmente raros, com isso as pessoas da alta sociedade conseguiam se destacar dos demais. Nesse contexto, o vestuário era uma ferramenta de distinção de classe e de dominação social.
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Quem pode ser sapeur?
Engana-se quem pensa que, somente pelo fato de se vestir de forma elegante, pertence à SAPE. Apesar de os congoleses serem muito influenciados por esse movimento, os sapeurs se sentem ofendidos quando alguém diz: somos todos sapeurs. Não é bem dessa forma que a coisa funciona. A importância que o congolês dá a sua forma de se vestir é muito particular.
Os congoleses respeitam mais uma pessoa que está bem vestida do que uma pessoa com o aspecto desleixado. A pobreza não é uma desculpa para andar deselegante. Apesar da crise econômica, tem-se sempre que andar na moda, buscar ter uma boa aparência e não se negligenciar.
Um sapeur autêntico, membro da SAPE deve seguir um código muito estrito. Tal como nunca ultrapassar 3 cores por vestimenta, da cabeça até as meias. Por exemplo: uma camisa azul de bolinhas amarelas, conta como duas cores. Existe uma arte para se vestir e se apropriar das cores, para diferentes situações, como casamentos, boates, batizados e até mesmo para os velórios. Para ser um bom sapeur é preciso ser criativo, saber chocar, impressionar, tem que ter atitude e saber justificar o porquê do seu look ser mais original do que o do outro. Um sapeur tem que ser elegante não somente na maneira de se vestir, mas também na maneira de se comportar e de gesticular.
O sapeur tem uma forma de andar, como o famoso malandro brasileiro. Ele não anda com o corpo reto, ele se inclina e os pés se cruzam, como se estivesse em um desfile, para evidenciar a costura das roupas, os sapatos e as meias. Os sapeurs se reconhecem de longe.
Ingressar na SAPE é como fazer parte de uma religião. As pessoas se sacrificam em prol de uma boa vestimenta, podendo até passar fome para viver com um estilo elegante, com as últimas peças da moda. Um sapeur conhecido meu costuma dizer que prefere não ter onde morar do que perder a sua elegância no modo de saper, modo de se vestir. É assim, já que as vestimentas tem o preço muito elevado, para a grande maioria dos congoleses.
Os adeptos desse movimento vivem como se fosse um culto. Eles dão preferência a peças de marca com valores elevados, confeccionadas em quantidade limitada.
Dependendo dos bairros das cidades de Brazzaville ou de Pointe Noire, a interpretação das regras pode mudar, o que estimula a competição entre os sapeurs, que tem por objetivo dominar e influenciar o movimento.
Uma expressão francesa para elogiar uma pessoa que está elegante “Tu es bien sapé” que siginifica que a pessoa está bem vestida.
A guerra vestimentária
Os sapeurs gostam de ter admiradores, por isso, eles frequentam sempre os mesmos lugares, seus lugares de predileção, para verem e para serem vistos.
Eles costumam organizar festas, desfiles e batalhas para mostrarem o seu look. Muitas vezes, as batalhas são organizadas nas ruas, assim eles atraem um público que vibra com a competição e que no final acaba elegendo um vencedor. Durante essas batalhas, há muita música, as pessoas riem e os protagonistas dão um verdadeiro espetáculo.
A influência da SAPE nos dias de hoje
Na França foi organizada uma exposição sobre a SAPE na Maison de Tokyo, em Paris.
A SAPE começa a ganhar destaque no mundo da moda, ultrapassando as fronteiras congolesas, conquistando os demais países africanos e atingindo o Ocidente. Um cantor belga, muito conhecido na França e nos países francófonos, chamado Stromae, confessou que se inspirou na SAPE para a sua coleção de 2014. Alguns congoleses sapeurs que foram morar na França criaram suas próprias grifes e transmitiram o movimento para jogadores de futebol, assim como para pessoas influentes na mídia.
Se formos comparar este movimento com outro, ele é muito próximo da geração Cotton Club dos anos 20, no Halem; da New Wave inglesa e até mesmo do Rastafari e dos Punks. Todos esses movimentos são associados a um código vestimentário e a um modo de vida.
A pobreza do Congo e a SAPE
A República do Congo é um país em que a população sofre muito com a pobreza. Com a atual crise econômica mundial, o número de desempregados só tem aumentado. No entanto, os amantes desse movimento não abrem mão de se manterem elegantes acima de tudo, mesmo que para isso tenham que passar por dificuldades, o que é um fato curioso.
Veja aqui o clipe do cantor Stromae, onde podemos encontrar o estilo da SAPE presente nos personagens.