Trabalho voluntário em Angola.
Logo na primeira semana de aula na escola da minha filha, conheci uma francesa muito simpática, chamada Estelle Dogbe. Com o tempo, ouvi de uma vizinha, que Estelle tinha um projeto social interessante, voltado para menores moradores de rua.
Ao tomar conhecimento deste projeto, falei que gostaria de saber mais. Ela se mostrou aberta a falar sobre o assunto.
Estelle conseguiu abrir o Centro de Acolhimento de Urgência Vivência Feliz, localizado no bairro de Viana, na cidade de Luanda, por não haver outros espaços de acolhimento como este, mas apenas orfanatos nos quais o trabalho realizado não é o mesmo. Por isso, Estelle sentiu a necessidade de criar um Centro que atendesse às necessidades das crianças moradoras de rua, pois o trabalho e a situação de vida é diferente. Devido à realidade em que eles se encontram, ao fazer parte da população de rua, muitos orfanatos recusam-se a receber os menores. Site do Grupo Mulher Africana que apoia o projeto: GMA, você pode encontrar aqui o facebook do GMA.
Telefone do centro : +244 931583346
email : estelle.dogbe@gmail.com
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O projeto
O projeto visa retirar das ruas os menores que passam por pobreza, distanciamento de oportunidades, crescimento humano, econômico e social. O objetivo é de melhorar os serviços de proteção às crianças de rua. O Centro acolhe-as oferecendo cuidados psicológicos e de enfermagem.
A missão do Centro é realizar um atendimento polivalente para abrigar crianças que se encontram em lugares mais afastados, oferecendo, em um só local, assistência e acompanhamento.
As diferentes funções para atender às necessidades das crianças são:
- Missões de apoio psicossocial
- Acolhimento
- Recuperação e acompanhamento
- Cuidados de saúde
Segundo o texto de apresentação, o Centro pretende:
- Ir ao encontro dessas crianças consideradas como vítimas, que não têm mais a força ou a vontade de ir às estruturas de direito comum ou a qualquer outra associação
- Colocá-los fora de perigo de acordo com procedimentos de emergência médico-psicossocial
- Promover a reintegração através de uma rede de parceiros institucionais e privados
O Centro tem como objetivo principal ser o primeiro elo da cadeia que vai da emergência à inserção: “Em nome da dignidade que devemos às crianças e, em geral, a qualquer pessoa excluída dos mecanismos de cuidados tradicionais”.
A população acolhida pelo Centro são os menores até 15 anos (rapazes e meninas) vivendo nas ruas. Eles são trazidos pelas equipes da fundação Arte Cultura, por outros parceiros ou pela polícia.
O projeto foi feito com o nome da associação angolana Grupo Mulher Africana (GMA).
Para realizar a abertura do mesmo, Estelle contou com a ajuda de empresas e particulares, tais quais:
- O terreno foi doado por uma senhora chamada Françoise, 80 anos. O terreno faz parte de uma escola.
- Uma empresa de construção fez a obra, gratuitamente.
- O Centro foi construído a partir de containers, cada container é um cômodo; 4 empresas doaram os containers: Suave, Hereema, Siccal e Oceanring
- Para equipá-lo foram necessárias doações de empresas e particulares:
- Ocearing doou a cozinha
- Smartflex doou colchões
- O site francês Vivre en Angola realizou um leilão para arrecadar fundos para a compra das camas
- Seadrill doou material de escritório e os computadores
- Muitos particulares fizeram doações individuais
- Para o funcionamento, recebem doações mensais:
- A comida é doada pela empresa Angoalissar, esta empresa doa grãos, açúcar e legumes em conserva.
- Produtos de limpeza e higiene são doados pela Suave
- O grupo Dimassaba (proprietários da padaria Delícias de Paris), doa diariamente pães
A construção do centro
A duração da construção foi de 11 meses, a obtenção das autorizações foi de uns 6 meses. Durante este período, Estelle aproveitou o tempo para equipar o Centro e criar parcerias com várias empresas.
A abertura do Centro de Acolhimento
O Centro abriu as portas em 20 de Agosto de 2019.
Logo no primeiro dia, quatro crianças foram conhecer o local e descobrir o que ali ofereciam. No segundo e terceiro dia, quase 10 crianças chegaram, duas semanas depois da abertura o Centro recebeu 30 crianças. Com pouco mais de um mês, de 25 a 30 crianças são recebidas diariamente. Por enquanto o Centro só recebe meninos, mas até o ano que vem abrirá um cômodo para receber meninas.
Como o Centro acolhe casos de urgência, ele fica aberto 24 horas. Nele trabalham 15 profissionais, 16 com Estelle.
A empresa de material de construção que realizou a obra do Centro de Acolhimento de Urgência Vivência Feliz doa um valor mensal para o pagamento do salário dos empregados. Que são:
- 6 Educadores – 24 horas, serviço por escala
- 1 Assistente Social – todos os dias, exceto finais de semana
- 1 Enfermeiro – todos os dias, exceto nos finais de semana em que trabalha em casos de urgência.
- 1 Psicóloga – duas vezes por semana
- 3 Serviços gerais – cozinheira, faxineira e lavadeira
- 1 Administrador
- 2 Seguranças – 1 por dia
As crianças chegam com diferentes níveis de adaptação e comportamento, eles são muito impacientes e querem tudo na hora. Alguns já estão calmos, já outros ainda reagem um pouco agressivos. Com o passar do tempo, eles vão se adaptando e percebendo que o ambiente ali é diferente do da rua. Ao chegarem ao local, as crianças tem desconfiança em relação aos adultos, mas a oferta de educação, juntamente com os tratamentos de saúde e psicológicos auxiliam nesta adaptação.
Os empregados fizeram duas semanas de formação, realizada pela idealizadora do projeto. Nesta formação os tópicos abordados foram:
- Quem eram as crianças a serem acolhidas
- Protocolo social e medical
- Funcionamento do Centro
Estelle se sente realizada com a concretização deste projeto. Ela sabe que com a vida de expatriada, um dia terá que deixar a Angola, mas o seu objetivo é espalhar amor, e melhorar a condição de vida de quem necessita.
Serviço voluntário
Todos aqueles que quiserem ser voluntários no Centro serão muito bem recebidos. O desejo de Estelle é manter uma equipe de voluntários permanentes, auxiliando no desenvolvimento das crianças.
Atualmente o Centro conta com um voluntário às quartas-feiras para a horta e algumas mulheres que vão às quintas-feiras para fazerem jogos de recreação.
Doações, uma necessidade
Estelle tem encontrado dificuldade para comprar carnes, peixes e frangos congelados. Na semana em que visitei o local, ela havia recebido uma doação que possibilitou a compra destes alimentos importantes para a nutrição de qualquer ser humano. Qualquer doação de roupas e sapatos também será bem-vinda.
Quem é Estelle Dogbe?
Advogada de formação, especialista em desenvolvimento internacional do coração, Estelle Dogbe possui mais de uma década de experiências de campo no continente africano. Devido à sua longa vivência, ela é apaixonada pela saúde pública e, especialmente, pelo aumento do acesso a cuidados, proteção infantil e direitos da criança. Ela tem liderado ao longo dos anos vários projetos de desenvolvimento por todo o continente africano e traz valiosos conhecimentos locais e culturais. Há quase 7 anos mora em Luanda, Angola.
Sem falar na criação do grupo de mulheres expatriadas, chamado FOLSCO (Friends of Luanda Street Children and Orphans) Amigos das crianças de rua e órfãos, que também faz um trabalho voluntário com a população de menores de rua.
Espera-se que o projeto seja abraçado pela comunidade, criando uma rede de parceiros e amigos do Centro. Apoio em termo de doação de roupas, toalhas, lençóis e outras coisas é sempre bem-vindo; doação de livros, voluntários que organizem saídas e desenvolvam competências úteis para o projeto, também.